sexta-feira, janeiro 22, 2010

Projeto Atlanta: piratas do Caribe

Viajei três dias em lancha até entrar em território panamenho. Ao chegar a Puerto Obaldia, primeira cidade deste país da América Central, pensava que encontraria uma estrada até a Rodovia Interamericana. Engano meu. Ainda precisaria de mais um dia nas águas azul-turquesa do Mar do Caribe para ter acesso a uma estrada vicinal que me deixasse nessa rodovia que liga as três Américas. Então, em uma manhã de chuva, embarquei outra numa lancha rumo a cidade chamada Miramar, onde fontes locais informaram-me haver uma estrada para o resto do país. A saída do porto de Obaldia foi às 7h. A previsão da viagem por mar era de oito horas, caso as ondas não estivessem muito agitadas e o tempo fosse mais favorável. Porém, o mar encapelou-se e as ondas passavam dos dois metros. O céu ficou carregado de nuvens negras e a chuva nos castigava. Ventos sacudiam o barco e raios pipocavam no horizonte. O barco não tinha cabine para se abrigar. As ondas mais altas batiam na proa com força, fazendo um barulho assustador e tudo na frágil embarcação parecia voar pelos ares. Inclusive os passageiros.

Havia uma criança de dois anos com seus pais argentinos. Uma senhora de uns 50 anos e outro senhor, de 45. Depois o comandante do barco e seu fiel auxiliar, que mais me pareciam “piratas do caribe”. Eles não se importavam com a chuva, com o vento, com as ondas ou mesmo com os fortes trovões. Pareciam ter muita pressa de chegar e aceleravam os motores a toda potência.

A pequena lancha era dotada de dois motores marines de 115 hp cada. Ou seja, o timoneiro tinha 230 hp de força para singrar as ondas bravias.

Por volta das três da tarde o sol abriu. Pararam a chuva e o vento. Estávamos havia mais de sete horas viajando e clamando a Deus para termos bonança, pois a lancha parecia que iria se despedaçar a qualquer momento. No entanto, os “piratas do caribe” mais e mais forçavam os motores. Com o mar calmo, a potência foi levada ao máximo. Resultado: pifou um dos motores. Andamos um pouco mais e falhou o segundo.

Resultado: ficamos à deriva e sendo puxados rumo à costa onde havia uma arrebentação de pedras. Apressados, consertaram um dos motores e fugimos do perigo. Mas, como os “piratas” não eram bons de cálculo de consumo de gasolina, após uns quinze minutos navegando, faltou combustível.

Isso aconteceu quando estávamos a uns 2 km da praia da cidade de Miramar. Podíamos ver os coqueiros e casinhas do nosso destino hoje, porém, as ondas começavam outra vez a nos levar rumo às pedras da costa.

Esses incidentes impediram-me de contemplar despreocupado a beleza das ilhas e praias do Mar do Caribe. A viagem estava sendo emocionante, radical e, agora, perigosa.

Quem, neste momento, nos livrará de sermos arrastados pelas ondas em direção das pedras que estão a uns 300 metros de nossa embarcação sem cabine, sem motores e sem combustível?

Os passageiros estão todos perplexos. Olham, sem palavras, para os dois “piratas do caribe”. Eles buscam uma gota de combustível nos tambores, mas em vão. Os motores também estão danificados. Com certeza, creio que todos estão pensando na imagem triste de um veleiro que avistamos no caminho jogado sobre um banco de pedras.

Estou calado e tranquilo. Disponho de condições físicas para nadar os dois quilômetros que faltam até a praia de Miramar. Também o mar se encontra calmo, portanto, favorável à natação. Na verdade, esta parecendo uma grande piscina. Lembro-me ainda de minhas travessias aquáticas nos rios da Amazônia e da lagoa de Araruama, no Rio de Janeiro, onde fiz percursos de mais de 10 km.

Porém, contemplo o sangue desaparecer da face dos passageiros e os olhos buscarem terra por todo lado. Por isso, tomo a decisão de permanecer no barco e lutar com eles por uma vitória completa, ainda mais quando temos a bordo um bebê de dois anos, com seus pais.

Sinto que não há para onde fugir a não ser orar por um milagre. Apenas oro: “Deus, socorre-nos!”

Minutos depois, vemos outra lancha se aproximando em alta velocidade. Nela há um homem sozinho. Ele joga uma corda e pede aos “piratas do caribe” que amarrem em nossa proa. Feito isso, reboca-nos em segurança até a praia da pequena vila de pescadores por nome Miramar, e assim livra a todos da “boca do leão”.

Viajando dessa maneira coloco meus pés e as rodas da “gorducha” (bike) em terras panamenhas. Minutos depois, chegam as trevas da noite e eu estou em segurança deitado numa cama em uma pousada da praia de Miramar, extremo leste do Panamá, América Central.

Estou a caminho da Geórgia, EUA. Lugar distante, porém, perto porque ando nos passos da fé e sigo as pegadas do Senhor. Ele está aqui. Venha comigo!

Obs.: também não ia ter coragem de abandonar o barco à deriva por causa de minha “gorducha”.

(George Silva de Souza, atleta e autor livro Conquistando o Brasil)

Nota: O Atleta da Fé, George Silva, está enfrentando grandes dificuldades financeiras para prosseguir nessa missão esportivo-evangelística e precisa urgentemente fazer uma revisão na bicicleta. Ele não me pediu isso, mas eu convido: se você puder colaborar de alguma maneira, escreva para ele: georgepalestras@yahoo.com.br