sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Cientistas descobrem linguagem avançada em roedor

Um pequeno roedor pode ter a linguagem mais sofisticada do mundo animal. A afirmação é do acadêmico Con Slobodchikoff, que trabalha nos Estados Unidos e vem estudando há muito tempo o repertório vocal do chamado cão-da-pradaria-de-cauda-curta (Cynomys gunnisoni). Com um único latido, diz o cientista, um animal pode alertar sobre o tipo e direção de um predador oculto e até descrever a cor. Se a descoberta for confirmada, isso significa que esses roedores comunicam-se de uma maneira mais complexa até do que macacos e golfinhos. Slobodchikoff dá detalhes das experiências que fez para revelar a estrutura oculta da linguagem do animal em um documentário exibido pela BBC. O cão-da-pradaria-de-cauda-curta pertence à família dos esquilos e vive no norte dos Estados de Arizona, Novo México e sul do Colorado.

No passado, havia uma população de bilhões mas são considerados por fazendeiros como uma praga e seu número diminuiu acentuadamente. Mas os animais ainda existentes vivem em colônias de centenas de indivíduos e cavam uma complexa rede de tocas subterrâneas.

Quando um predador se aproxima, os pequenos roedores emitem uma série de ruídos. Durante 30 anos, Slobodchikoff e seus colegas gravaram esses sons. Para analisá-los, os cientistas realizaram várias experiências, apresentando modelos diferentes de predadores e gravando a resposta diante de coiotes, falcões e texugos.

Os pesquisadores descobriram que os cães-da-pradaria enfrentam tantos predadores que desenvolveram "palavras" diferentes para qualificá-los. Essas palavras são latidos e sons que contêm números diferentes de vocalizações rítmicas e modulações de frequência.

Os cães-da-pradaria têm qualidades tonais diferentes, assim como vozes humanas, mas diferentes roedores usam as mesmas palavras para descrever os mesmos predadores, permitindo que o alarme seja entendido pelo resto da colônia. Um único latido, por exemplo, pode dizer "coiote algo, magro ao longe, movendo-se rapidamente em direção à colônia".

Outros cientistas contestaram essa ideia pois significaria que, apenas com um latido breve, os cães-da-pradaria transmitem informações sobre tamanho, cor, direção e velocidade do deslocamento de um predador. A equipe de Slobodchikoff acredita que os cães-da-pradaria incluem essa informação ao variar a modulação do chamado e a harmonia do latido.

Ao fazer isso, eles podem incluir uma vasta quandidade de informações em um som muito breve. "Cães-da-pradaria têm a linguagem natural mais complexa decodificada até agora. Eles têm palavras para diferentes predadores, eles têm palavras para descrever as características individuais de predadores diferentes, por isso é uma língua muito complexa, que tem muitos elementos", dissse Slobodchikoff.

No documentário, os cientistas registraram o primeiro chamado dos cães-da-pradaria "para alertar sobre texugos". É sutil, mas sempre diferente de todas as outras chamadas. Quando o alarme é reproduzido para uma colônia de roedores, eles reagem de forma diferente em relação a quando o aviso é sobre coiotes.

Coiotes caçam de surpresa, então os roedores respondem fugindo instantaneamente. Texugos tentam cavar tocas e, quando os cães-da-pradaria são avisados sobre um texugo, ficam vigilantes.

Slobodchikoff acredita que os cães-da-pradaria podem ter evoluído esta linguagem complexa porque vivem em uma sociedade complexa alojada em um sistema de tocas complexo. [Tudo complexo, menos a explicação para a complexidade, como sempre.]

Eles vivem em "cidades" bem organizadas com centenas de indivíduos e também têm que competir com posseiros, como coelhos, cobras, tarântulas, corujas, texugos e raposas que, muitas vezes, entram em suas tocas. [A pergunta é: Se esses e outros animais dependem de complexos intintos e organização social para sobreviver, como essa estrutura se desenvolveu aos poucos, já que eles sempre precisaram dela?]

(Terra)

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