segunda-feira, março 22, 2010

Projeto Atlanta: morto de sede

Depois de tudo pelo que passei para entrar em território costarriquenho, posso dizer com certeza: Deus é amor e sua graça e misericórdia são infinitas. Os caminhos percorridos para estar pedalando dentro da segunda nação da América Central, a Costa Rica, não foram nada suaves. Todavia, tenho que enaltecer o nome do Deus que sirvo, porque, sem Sua ajuda, este milagre seria inconcebível. Amo relembrar as bênçãos que o Senhor me tem concedido ao longo desta travessia das três Américas. Por isso, como estou muito orgulhoso de ter alcançado este país, quero recordar onde tudo começou: larguei no dia 18 de agosto do ano passado, da cidade de Boa Vista, capital de Roraima, norte do Brasil, montado sobre uma bicicleta montain bike de 18 marchas, apelidada inicialmente de “Atlanta” e, por perceber ser ela muito rechonchuda, ou seja, construída com tubos grossos de alumínio, troquei seu nome para “gorducha”. Assim, temos viajado amigavelmente até o momento.

Eu sou George Silva, o “Atleta da Fé”, e ela é minha inseparável companheira metálica. Pouco a pouco estamos avançando pelos países que separam o Brasil dos Estados Unidos da América do Norte. Já rodamos 1.000, 2.000, 3.000, 4.000 e agora superamos a marca dos 5.000 km.

Depois que cruzei a fronteira do Panamá, a primeira cidade da Costa Rica, alcançada após pedalar 153 km, chama-se Palmar Norte.

Dessa cidade saí bem cedo em direção a San Isidro (este diário é anterior ao “Sierra de la Morte”), meu próximo alvo 100 km adiante. Após uma oração, comi algo e montei na “gorducha”. Nela já estavam minha mochila de viagem e a bolsa dianteira de documentos. Deixei o hotel Cabanas Osa às 7h e peguei o caminho das praias do Oceano Pacífico. Minha intenção era, tão logo fosse possível, tomar um banho nas ondas desse mar. Já me deliciei nas águas do Oceano Atlântico e do Mar do Caribe. Porém, essa será a primeira vez que vou me banhar em águas deste mar.

Larguei de Palmar Norte debaixo de uma chuva fina. Com duas horas de pedaladas, ou seja, às 9h, o sol abriu e a “gorducha” aos poucos foi engolindo a estrada.

Com 50 km, cheguei a uma região de praias chamada Uvita. A rodovia por onde viajo segue paralela à praia. Passo direto por Uvita em busca de uma praia mais tranquila para um banho. O odômetro da gorducha agora marca 5.183,4 km, desde a saída de Boa Vista, e 70 km após Palmar Norte.

O detalhe é que a única garrafa de água que transporto se esgotou e estou no momento “morrendo de sede”. Sim, estou muito desidratado porque tomei apenas um litro de água em quase 100 km, quando deveria beber uns três.

Meu olhar vasculha a beira da estrada em busca de fontes de água, mas nada encontram. Para piorar, o sol que antes estivera coberto por nuvens de chuva, brilha como nunca. Então, não aguentando mais a sede, resolvo deixar a pista e entrar numa trilha em direção ao mar. Logo que abandono a estrada, encontro um bosque de árvores frondosas. A sombra gelada das árvores me refresca a pele e tira um pouco a sensação de sede. Olhando em frente, vejo ondas baixas e suaves do famoso Pacífico. Encosto a “gorducha” em um arbusto, tiro a camiseta e os tênis e, caminhando por um chão mesclado de areia e pedras pequenas, tenho acesso às águas cristalinas deste belo mar. O banho abranda minha sede, porém, me rouba mais energia. Sou obrigado a diminuir o tempo do agradável banho marítimo para ir abrigar-me na sombra doce das árvores do bosque.

Quando retorno da água disputo meus tênis com um lindo iguana que havia se enamorado deles. O animal tem o corpo todo coberto de uma pele degradê em verde e azul. Jamais vi algo parecido. Ele posa para filmagens e depois sai de mansinho, sacudindo a cauda, e vai se esconder nas folhagens, de onde fica observando todos os meus movimentos.

Após a saída do iguana, volto a sentir uma sede incontrolável. Na realidade, preciso de água urgentemente ou a desidratação engrossará meu sangue e ficarei à mercê de um desmaio ou parada cardíaca.

Mas, como sempre digo, Deus está adiante de mim. Ele está aqui. Digo isso porque ao olhar mais detalhadamente o ambiente a minha volta, vejo depositado em meio às raízes de uma árvore, que não era um coqueiro, quatro cocos amarelos grandes. A princípio deduzi que eles estivessem abertos e sem uma gota de água. No entanto, quando me aproximei, pude verificar que eles estavam intactos e, ao abri-los, cada um continha quase um litro de água. Tomei água até encher o estômago. Enchi também minha garrafa. Lavei a cabeça, o rosto e as mãos com água de coco e ainda sobrou.

Eu poderia ter acessado a praia por qualquer trilha. Mas fui entrar justamente naquela em que Deus me havia preparado um tônico hidratante e refrescante, no momento em que eu mais precisava.

Sim, amigo(a), esse é o meu Deus. DEle me orgulho. Suas obras são maravilhosas e Suas misericórdias não têm fim; se renovam a cada manhã. Ele mesmo nos faz o convite e diz: “Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Aquele que beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede. Quem crê em Mim, do seu interior fluirão rios de água viva.”

Você também quer matar sua sede com a água viva? É só pedir. Ela é de graça, como os três cocos que saciaram minha sede.

Venha comigo, porque estou viajando de bicicleta para Atlanta e a verdadeira fonte que sacia a nossa sede está aqui. Bebi dela hoje.

Até breve. Muito breve!

(George Silva de Souza, atleta e autor livro Conquistando o Brasil)