terça-feira, abril 20, 2010

André Trigueiro e o fim dos tempos

Ontem à noite (19/4), no finalzinho do Jornal das 10 da Globonews, chamou-me a atenção uma nota apresentada pelo jornalista André Trigueiro. Ele leu com todo gosto a tal nota exibida em seu teleprompter, escrita por sabe-se lá quais especialistas (seriam os mesmos da teologia do aquecimento global antropogênico?), advertindo contra a opinião de alguns que apontam os atuais terremotos, vulcões e outros desastres naturais como sinais do fim do mundo. A nota “esclarece” que o aumento na quantidade de terremotos é aparente, pois diz respeito apenas à percepção dos eventos por acontecerem em áreas atualmente mais povoadas que no passado. Trigueiro finaliza a leitura afirmando que, em seus 4,5 bilhões de anos [sic], a Terra tem sido o que sempre foi, e continuará assim por muuuuuito mais tempo. E que devemos voltar nossas atenções e esforços para a preservação dos recursos do planeta.

Não sei se o jornalista endossa essa opinião travestida em verdade científica; parece que sim. Tudo bem, há maneiras e maneiras de ele ganhar o pão de cada dia. Mesmo através da cumplicidade para com os dogmas bancados por sua emissora.

Trigueiro é espírita desde 1987 (confira aqui). Talvez ele releve ou desconheça que sua crença é o sincretismo entre uma forma particular de paganismo com pretensões filosóficas, ditas espiritualistas, com uma interpretação exoticíssima das Escrituras Sagradas (no caso, o Novo Testamento; o Antigo é explicitamente descartado pelos colegas de fé de Trigueiro como não possuindo inspiração divina ou serventia teológica – vide Revista Espírita, setembro de 1989). Quando friso o particularismo dessa interpretação, refiro-me à relativização, descaracterização ou mesmo ao absoluto descarte de inúmeras passagens neotestamentárias, como esta, escrita por Kefas, também conhecido como São Pedro (2Pe 3:1-10):

“Amados, já é esta a segunda carta que vos escrevo; em ambas as quais desperto com admoestações o vosso ânimo sincero; para que vos lembreis das palavras que dantes foram ditas pelos santos profetas, e do mandamento do Senhor e Salvador, dado mediante os vossos apóstolos; sabendo primeiro isto, que nos últimos dias virão escarnecedores com zombaria andando segundo as suas próprias concupiscências, e dizendo: ‘Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação’. Pois eles de propósito ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste; pelas quais coisas pereceu o mundo de então, afogado em água; mas os céus e a terra de agora, pela mesma palavra, têm sido guardados para o fogo, sendo reservados para o dia do juízo e da perdição dos homens ímpios. Mas vós, amados, não ignoreis uma coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se. Virá, pois, como ladrão o dia do Senhor, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se dissolverão, e a terra, e as obras que nela há, serão descobertas.”

Há outras passagens de semelhante teor no Texto Sagrado. Cito apenas essa. Observe-se que, a exemplo de André Trigueiro, todos temos liberdade para exercer escolhas. Contudo, essa liberdade não nos permite determinar o resultado dessas mesmas escolhas. Podemos, é óbvio, ignorar as claras e insofismáveis mensagens de advertência da Palavra de Deus acerca destes últimos dias. Mas não poderemos fugir das consequências dessa atitude. O Complexo de Avestruz não blinda ninguém.

No mais, a ladainha naturalista de sempre: 4 bilhões e meio de anos para a idade da Terra. Como é que é? Quais os geocronômetros que endossam tal assertiva? Qual o seu grau de fidedignidade? Existem outros geocronômetros oferecendo uma datação de milhares de anos? Quantos? Quais? Qual o grau de precisão e confiabilidade de cada um dos geocronômetros conhecidos? Comparando-se as duas categorias contraditórias é prudente escolher uma delas ignorando totalmente a outra (e, pior, ridicularizando-se a preterida)? Essa atitude seria científica ou ideológica, motivada pela averiguação impessoal e criteriosa dos dados disponíveis ou apenas um lastimável sintoma de dissonância cognitiva?

Finalmente o non-sequitur do tatibitate de Trigueiro: a prudência de se dar importância à escatologia bíblica implica necessariamente em se descuidar do meio-ambiente? São termos mutuamente excludentes conforme aventado no texto naturalista lido pelo repórter? Ou seriam complementares?

Desonestidade intelectual é pior que desonestidade moral, pois quase sempre a precede e muitas vezes a justifica. Tristes tempos os que vivemos, em que o jornalismo dito de alto nível apenas serve de capitão-do-mato para o coronelismo cientificista.

(Marco Dourado, analista de sistemas formado pela UnB, com especialização em Administração em Banco de Dados)