segunda-feira, abril 19, 2010

Anjos de baixo

Uma das matérias em destaque na revista IstoÉ desta semana tem como título “Anjos em alta”, e começa assim: “Os anjos já não são tão anjos assim. Deixaram de ser invisíveis, sem sexo e sem costas. Agora eles se mostram mais humanos, mundanos e sedentos de desejo, capazes até de se apaixonar perdidamente por quem deveriam proteger. Não chegam a ser demoníacos, mas revelam-se malvados e carnais.” O texto prossegue:

“É assim que esses seres alados estão sendo retratados numa leva de livros que nos EUA já foi identificada como o mais novo filão editorial. E é devido a esse lado carnal e sedutor que estão fazendo tanto sucesso. Ao todo, são quase uma dezena de títulos inéditos, a maioria planejada como série e tratando do mesmo tema – os anjos caídos. No Brasil, a onda começa a chegar às livrarias no segundo semestre com Hush Hush, de Becca Fitzpatrick. Os direitos foram comprados pela editora Intrínseca, que espera êxito semelhante ao da tetralogia Crepúsculo. ‘O gênero sobrenatural causa muito frisson e essa moda de anjos pode ser vista como consequência disso’, diz Danielle Machado, responsável pelo setor infanto-juvenil da editora. Na sequência, sai em agosto pelo selo Galera, da Record, Fallen, de Lauren Kate. Trata-se do primeiro volume de uma tetralogia que já é cult entre os jovens americanos.

“Recém-lançado nos EUA, Fallen vendeu 200 mil exemplares nas primeiras semanas e ocupa a quarta posição na lista de best-sellers do The New York Times. Tem como protagonistas os arcanjos Daniel e Cam, que brigam pelo amor da humana Luce. E, para isso, não medem consequências. [...] Já a história de Hush Hush, misto de romance, suspense e ação, gira em torno de um ‘bad boy’ alado, chamado Patch. É assim que o protagonista é descrito pela autora Becca, para quem a rebeldia do personagem tem mais a ver com escolhas e redenção – a sua única cobiça é experimentar tudo aquilo que nunca viveu como querubim.

“A batalha do bem contra o mal pode ganhar contornos mais ousados, como prova o romance Angelology, de Danielle Trussoni, que acaba de ser lançado nos EUA. Com enredo comparado ao de O Código Da Vinci, de Dan Brown, centra-se na freira Evangeline, 23 anos, que é procurada por um estudante de arte de nome Verlaine. O jovem está fazendo uma pesquisa para o patrão, que ele não sabe ser um nephilim: ser demoníaco, metade anjo, metade humano, cuja dinastia acumulou uma grande fortuna e busca dominar a Terra através dos séculos. Evangeline, nascida numa família de angelólogos (que fazem parte de uma ordem secreta que se opõe historicamente aos nephilins), possui um documento secreto que pode solucionar esse conflito que vem dos tempos da Bíblia. [...] a Disney já garantiu exclusividade sobre Fallen, comprado um mês após o livro chegar às livrarias. No cinema, o filão tem como pioneiro o filme Legião, que chega ao Brasil em junho. O voo dos anjos está se dando em céu de brigadeiro.”

Nota: O diabo (líder dos verdadeiros anjos caídos) deve mesmo estar desesperado. Começou por introduzir sorrateiramente a feitiçaria e o ocultismo por meio de personagens “inofensivos” como Harry Potter. Depois veio a onda do vampirismo, com Crepúsculo, que aproximou seus leitores de “vampiros simpáticos”. Agora vem a “onda angélica”, com anjos distorcidos, misturando características boas com outras nem tanto (note a estratégia e a intensificação das temáticas que aos poucos se aproximam da Bíblia para distorcê-la). Assim, por tabela, o inimigo espalha a ideia (sempre conveniente para ele) de que os anjos maus não são tão maus. São apenas seres atormentados em busca de paz e amor. Na pior das hipóteses (também vantajosa para Satanás), os anjos – todos eles, bons ou maus – passarão a ser considerados tão mitológicos quanto um bruxinho que voa sentado numa vassoura ou vampiros apaixonados. O sobrenatural vira mero entretenimento e as pessoas são levadas a ver o grande conflito entre o bem e o mal como apenas um bom argumento para livros e superproduções hollywoodianas.[MB]