segunda-feira, abril 05, 2010

Projeto Atlanta: água viva

“Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Aquele que beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede. Quem crê em Mim, do seu interior fluirão rios de água viva.”

Depois que saciei a sede com os quatro cocos encontrados sob as frondosas árvores daquele bosque onde me refugiei do calor (clique aqui para ler esse relato), passei a meditar sobre as palavras de Jesus ditas na frase acima. E, então, fiz a pergunta: Será que do meu interior estão fluindo fontes de águas capazes de saciar a sede do meu semelhante?

Equipei a “gorducha” (bike). Vesti minha camisa. Guardei o canivete que usei para abrir os cocos. Tomei o tênis do iguana que não saia de perto dele. Coloquei as luvas e o capacete e, deixando aquele saudável e aconchegante “éden” do Oceano Pacífico, voltei à rodovia e imprimi um ritmo forte na intenção de chegar a San Isidro antes do pôr do sol. O pastor adventista local me disse que se eu chegasse até as 17h, ele poderia me atender e conseguir que eu pudesse testemunhar em uma de suas igrejas.

Após deixar o bosque, vejo uma placa dizendo que estou em uma praia de nome Dominical. Avanço alguns quilômetros e encontro uma ponte larga. Nela, viro à direita onde há uma sinalização informando que faltam 33 km para San Isidro. Entro por esse caminho e me deparo com uma vegetação de selva fechada e uma estrada estreita e sem qualquer acostamento. Descubro também que San Isidro fica no alto de uma serra. À medida que subo, aparecem fontes de águas e cachoeiras onde paro para um refrescante banho doce. Também contemplo uma cena que só vi antes nas selvas da Amazônia: um bando de magníficas araras passa sobre minha cabeça.

Estou pedalando a “gorducha” por mais de 80 km e não parei em lugar algum para comprar comida. Por providência divina, na beira da estrada, acho um mamão maduro e algumas goiabas e os transformo em um delicioso almoço.

Subi 25 km dos 33 que, segundo a placa, faltam para meu alvo hoje: San Isidro. Estou quase no topo e minhas pernas sentem um pouco de cansaço. Tenho alguns ferimentos nos pés, no braço direito e na coxa direita que ainda doem desde a Colômbia.

Falta-me energia porque minha alimentação foi muito pobre em carboidratos e proteína. Consegui apenas muita água e algumas frutas. Mas prossigo porque estou acostumado a me cansar até a beira da morte e ressurgir. Quando estou quase desmaiando de cansaço, restauro-me pela força e garra vindas dos Céus. Meu poder provém de Deus. Meu alimento maior, usado até agora nesta jornada, é espiritual. Veja o que o Senhor dos Exércitos diz para mim: “Não te mandei Eu? Esforça-te, e tem bom ânimo. Não pasmes, nem te espantes, porque o Senhor teu Deus é contigo por onde quer que andares.” Os jovens se cansam e se fatigam e os moços tropeçam e caem. Mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças. Correrão e não se cansarão. Caminharão e não se fatigarão.

Saciado por esse gole da “fonte da água da vida”, chego ao topo da serra depois de pedalar 98 km desde Palmar Norte. Faltam apenas 8 km para San Isidro e começo uma forte descida. Acho que poderei chegar as 17h e ter o encontro na igreja. Mas enfrento chuvas fortes e muitas curvas perigosas. No entanto, pedalando com todas as reservas de energia que tenho, consigo chegar ao centro de San Isidro às 17h10.

Ligo para o pastor e não consigo resposta. Insisto várias vezes, porém, em vão. Todavia, o desejo de fazer a obra missionária é muito grande, porque não sou um simples atleta em uma viagem esportiva.

Começo a perguntar aos moradores onde se localiza a igreja adventista. Uns taxistas me informam que a mais próxima fica em um morro, o mais alto da cidade.

Então, cansado, exaustíssimo, subo mais esse obstáculo, fazendo a “gorducha” ranger de dor. Lá no alto tenho outra surpresa: para chegar à nave da igreja, faz-se necessário subir uma enorme escadaria.

Por um milagre, descubro que é exatamente esta igreja que o pastor havia separado para que eu pudesse dar meu testemunho. Meu esforço não foi em vão.
Consigo alcançar o último degrau e tinho acesso às dependências da igreja por volta das 06h30. Um jovem colportor (vendedor de literatura religiosa) me recebe e consegue uma toalha e sabonete para que eu possa tomar um banho.

Às 07h30 entro no templo. Um punhado de pessoas está ali para me ouvir. Hoje é quarta-feira.

Quando inicio a mensagem, todo cansaço, desespero, angústia e dores somem. Então prego, testemunho e falo do poder de Deus revelado em minha existência. Uma das pessoas veio a mim e disse: “Eu estava agoniada, depressiva, desesperada. Perdi um ente muito querido. Mas suas palavras trouxeram conforto e paz. Eu não vinha ao culto hoje. Mas foi maravilhoso estar aqui e renovar minha fé, esperança e confiança nesse Deus a quem servimos.”

No dia seguinte, monto na “gorducha” em direção a San José, capital da Costa Rica, na certeza de que, por obra do amorável Espírito Santo, de mim fluiu “água da vida” para aquela ovelha sedenta de um encontro com o Deus vivo. Vou avante, saltitante de alegria, para conquistar o restante do território da Costa Rica e estar mais perto de Atlanta, meu alvo longínquo.

Percebeu que Deus está aqui? Então venha comigo, pois juntos chegaremos ao Céu.
Que seja breve nossa despedida...

(George Silva de Souza, atleta e autor livro Conquistando o Brasil)