domingo, agosto 08, 2010

Em defesa de Deus e contra Dawkins

Classificado pelo Sunday Times como “marxista, religioso, velho e punk”, o crítico cultural Terry Eagleton mostrou na manhã de hoje (7) que o jornal inglês poderia ter acrescentado mais um adjetivo à lista: mordaz. Estrela da mesa “Andar com fé”, mediada pelo jornalista Silio Boccanera, Eagleton não poupou farpas na direção de seus mais notórios contendores. O principal deles, Richard Dawkins, que esteve na Flip 2009. “Dawkins é antiquado, parece um racionalista do século 19 em sua crença de que Deus é um mal da evolução. Repete que não acredita em Deus, mas não tem a menor ideia de o que Deus significa”, afirmou. Eagleton foi irônico ao apontar um suposto paradoxo no discurso do cientista: “Ele acredita que, se não fosse a religião, poderíamos caminhar para frente rumo a um novo Iluminismo. Não consigo pensar em algo mais supersticioso do que isso.”

Nas considerações sobre Deus e religiosidade, sobrou também para outro ateísta célebre: o jornalista Christopher Hitchens, que também já veio à Paraty (Flip 2006). “Ele acha simplesmente que a religião é uma coisa nojenta. Mas é melhor argumentar com Hitchens do que com o camareiro da rainha, que não vai perguntar se você quer ser lavado em sangue de ovelha, apenas se você quer um Brandy”, disse Eagleton, com senso de humor puramente britânico.

O crítico centrou fogo ainda no que chamou de “islãfobia”, salientando que não se pode confundir uma minoria adepta do Islamismo radical – “que mata pessoas em nome de Alá” - com milhares de muçulmanos. E propôs que o Ocidente faça um mea culpa: “Há uma variedade texana do Islamismo, e várias formas de Islamismo evangélico, no mundo e aqui mesmo, no Brasil. Mas os liberais sempre acham que os bárbaros são os outros, como se a tradição ocidental fosse isenta de barbarismos.”

Ao abordar, instado por Boccanera, a relação entre marxismo e fé, o crítico lamentou que a famosa frase do mentor da doutrina comunista seja em geral compreendida fora de seu contexto: “Antes de dizer que é o ópio do povo, Marx afirmou que a religião é o coração de um mundo sem coração.” Apesar de marxista, Eagleton fez a ressalva de que não subscreve tudo o que o filósofo escreveu. “Não conheço freudiano que concorde com todas as teorias de Freud, nem darwiniano que acredite em tudo o que Darwin defendeu. A não ser Dawkins, é claro”, comentou ele, na alfinetada final.

(Flip)