segunda-feira, agosto 23, 2010

Ensaio de Carl Sagan sobre maconha

Em 1969, o astrônomo Carl Sagan escreveu um ensaio sobre maconha para o livro Marihuana Reconsidered, publicado por Lester Grinspoon. Naquela época, o cientista (falecido em 1996) tinha 35 anos de idade e continuou a usar a droga pelo resto de sua vida: “A experiência com a cannabis melhorou grandemente minha apreciação pela arte, um tema que nunca apreciei muito anteriormente. O entendimento do intento do artista que consigo alcançar quando estou ‘pedrado’ por vezes continua quando não estou. Essa é uma das muitas fronteiras humanas que a cannabis me ajudou a atravessar. Uma melhoria muito semelhante na minha apreciação musical ocorreu com a cannabis. Pela primeira vez consegui ouvir as partes separadas de uma harmonia de três partes e a riqueza do contraponto. Desde então descobri que os músicos profissionais podem facilmente tocar muitas partes separadas simultaneamente na sua cabeça, mas para mim essa foi a primeira vez. Mais uma vez, a experiência de aprendizagem quando ‘pedrado’ passou pelo menos até certo ponto para o meu estado sóbrio. A apreciação de comida amplificou-se; emergem sabores e aromas que normalmente por qualquer razão parecemos estar demasiado ocupados para notar. Posso dar minha atenção total à sensação. Uma batata ganha textura, corpo e sabor como as outras batatas, mas muito mais intensos. A cannabis também aumenta a apreciação do sexo – por um lado dá uma sensação única, mas por outro lado adia o orgasmo: em parte distraindo-me com a profusão da imagem que passa pelos meus olhos. A duração do orgasmo parece aumentar imensamente, mas isso pode ser a experiência usual da expansão temporal que se dá ao fumar cannabis.

“Não me considero uma pessoa religiosa no sentido geral, mas há um aspecto religioso em algumas ‘pedras’. A sensitividade em todas as áreas dá-me uma sensação de comunhão com o que me rodeia, tanto as coisas animadas como inanimadas.

“Quando estou ‘pedrado’, consigo penetrar no passado, recordar memórias de infância, amigos, familiares, brinquedos, ruas, cheiros, sons e sabores de uma era desaparecida. Posso reconstruir as ocorrências de episódios da infância apenas meio compreendidos. Muitas, mas não todas as minhas ‘pedras’ de cannabis têm nelas um simbolismo significativo para mim que não vou tentar descrever aqui, uma espécie de mandala embutida, tanto visualmente como na própria pedra. A associação livre a essa mandala, tanto visual como em forma de bricandeira com as palavras, produziu uma rica disposição de percepções.

“A proibição da cannabis é escandalosa, um impedimento da utilização completa de uma droga que ajuda a produzir a serenidade e a percepção, a sensibilidade e o companheirismo tão desesperadamente necessários neste mundo cada vez mais louco e perigoso.”

(Azarius)

Nota: Num fórum na internet, há o seguinte comentário de um internauta: “Eu mesmo creio que o uso [da maconha] foi o que inspirou Carl Sagan a ajudar tanto a humanidade. Afinal, se ele se matasse ou morresse naturalmente ajudando essa pobre raça, que diferença faria? Ele era ateu! Ele iria virar pó de qualquer jeito. A cannabis ajudou-o a conviver e ajudar essa raça chamada raça humana. Sem ela, Sagan não veria outro motivo para ajudar-nos.” É uma pena que pessoas tão inteligentes quanto Sagan, para ser felizes e se “conectar” com a realidade, dependam de esperanças vãs como o contato com os “extraterrestres” ou mesmo de sensações artificiais provocadas por drogas alucinógenas. Pena não reconhecerem (e experimentarem) que a verdadeira plenitude de vida, que nos faz admirar a natureza como a obra-prima do Criador, somente é encontrada na comunhão com o Todo Poderoso. Quando se afasta de Deus, o ser humano procura preencher o vazio natural desse afastamento com paliativos autodestrutivos, emuladores da verdadeira felicidade que está ao alcance de todos aqueles que se rendem ao convite do Eterno: “Vinde a Mim todos vós...” (Mt 11:28).[MB]