quarta-feira, dezembro 15, 2010

Novo olhar sobre a visão – mais complexidade

Os resultados de uma pesquisa com neurônios localizados na retina, parte dos olhos que capta a luz, surpreenderam cientistas de instituições inglesas e norte-americanas. Experimentos com ratos mostraram que essas células, conhecidas até então apenas por seu papel em processos subconscientes, possuem a capacidade de transmitir informação visual ao cérebro. Portanto, desempenham importante papel na visão. A função dessas células nervosas está relacionada à sua habilidade de produzir uma proteína sensível à luz conhecida como melanopsina. Apenas 1% dos neurônios localizados na retina é capaz de fazer isso. No campo dos estudos sobre a visão, somente dois tipos de células fotossensíveis haviam sido identificados na retina de mamíferos: os cones e os bastonetes. Na presença de luz, essas células transmitem ao cérebro informações sobre forma, movimento e cor.

A descoberta de uma função visual em outras células da retina pode auxiliar em futuros tratamentos de determinados tipos de cegueira. “Podemos desenvolver tratamentos nos quais a melanopsina contribua ainda mais para a visão de pessoas com problemas na retina”, afirma Timothy Brown, neurocientista da Universidade de Manchester (Inglaterra) e autor principal do estudo publicado no periódico PLoS Biology, em entrevista à CH On-line.

O pesquisador adverte, no entanto, que a proteína pode fornecer, mesmo em ambientes bem iluminados, uma visão de baixa qualidade. “Talvez o suficiente para evitar grandes obstáculos, mas não para ler ou ver televisão”, diz Brown.

Brown e seus colegas analisaram ratos sem cones e bastonetes nos olhos e observaram que, embora fossem tecnicamente cegos, os animais ainda apresentavam atividade elétrica no córtex visual do cérebro, quando expostos à luz. “Utilizamos microeletrodos para monitorar mudanças provocadas por luzes de diferentes brilhos na atividade elétrica de áreas visuais do cérebro dos ratos”, explica o neurocientista.

Quando o experimento foi feito em ratos sem melanopsina, os pesquisadores perceberam que o sistema visual dos animais era incapaz de distinguir entre a intensidade de luz correspondente a um dia nublado ou um a dia ensolarado.

Além de auxiliar em novos tratamentos, a melhor compreensão da função dessas células nervosas poderia ser aplicada ao aperfeiçoamento da iluminação artificial, dos monitores de televisão e dos computadores. “A iluminação tradicional e os computadores são enxergados por meio da projeção realizada pelos cones e bastonetes”, explica Brown. “O uso de uma luz em torno da faixa de comprimento de onda média em que a melanopsina é mais sensível pode melhorar a experiência subjetiva de brilho”, completa.

Antes da descoberta, acreditava-se que o trabalho dos neurônios estudados se limitava ao envio de informações sobre a luz detectada no ambiente para o subconsciente. Essas informações serviriam, por exemplo, para mensurar o brilho e regular o tamanho das pupilas e o relógio biológico para os ciclos diurnos e noturnos.

(Ciência Hoje)

Nota: A maquinaria humana nunca deixa de surpreender os cientistas. Para conhecer mais a fundo a bioquímica da visão, recomendo a leitura do best-seller A Caixa Preta de Darwin, de Michael Behe. Behe descreve alguns sistemas de complexidade irredutível, entre os quais o olho humano. Já é difícil explicar como podem ter surgido ao mesmo tempo a pupila e seus micromúsculos, a retina e suas células especializadas, o nervo ótico, com sua capacidade de transmitir informação, e os neurônios especializados, com a capacidade de interpretar e decodificar a informação visual. Agora imagine explicar a complexidade específica da visão em nível bioquímico, no qual a palavra “evolução” (no contexto darwiniano) nem faz sentido... E quer “piorar” as coisas? De alto a baixo do registro fóssil, os animais sempre têm dois olhos. Milagre duplo![MB]