quinta-feira, janeiro 20, 2011

Aminoácidos em meteorito?

A notícia darwinista do momento dá conta de que um meteorito conteria traços de aminoácidos do tipo levógiro (L), o que, para alguns pesquisadores dotados de grande imaginação, seria evidência de que a vida veio do espaço e colonizou nosso planeta. Talvez, daqui a algumas semanas, alguém detecte um erro e seja necessária retratação, como aconteceu com a bactéria “ET” da Nasa. Mas, enquanto isso não ocorre, para comentar esse assunto, ninguém melhor do que um cientista especialista em homoquiralidade, o Dr. Marcos N. Eberlin, da Unicamp:

“Essencialmente, o artigo trata da seguinte questão: Se poderia ser D ou L, por que L, então? E aí, ao encontrarem um pouquinho mais de L do que D em meteoritos, eles assumem que o pequeno excesso de L poderia ter induzido a vida a escolher a forma L. Ok, sugestão válida... Mas o buraco, nessa questão, é muito, muito, muito mais embaixo, um abismo embaixo. Não basta tentar explicar somente por que D e não L. Temos que explicar, na realidade, o grande enigma da vida, que não é esse. Qual seria, então, esse enigma? Como a vida se iniciou, em um processo não guiado, somente com um tipo de aminoácido, independentemente de ser D ou L? Como a vida, antes de ser vida, conseguiu desenvolver as maquinarias necessárias para separar e selecionar um dos tipos de AAs, e para todos os 20 AAs (19, na realidade, pois um não é quiral) que entram na receita de proteínas? Como, se processos naturais não guiados formam – nós sabemos hoje – uma mistura equivalente dos dois, 1:1, racêmica? Como, se cientistas em seus laboratórios, quando preparam AAs, formam misturas racêmicas? E como, levando em conta que cientistas, usando toda a sua imaginação, habilidade e inteligência, raramente conseguem grandes excessos enantioméricos (ee)? Isso porque se sabe que um só AA na orientação errada entrando na composição de uma proteína destruiria a função dela. Torceria a proteína para o lado errado, um veneno para a vida! Caos completo. Um bilhão de anos para formar uma; dois bilhões para formar duas; e a vida precisaria de várias e várias e ao mesmo tempo.

“Essas são as verdadeiras questões para as quais até hoje não encontramos respostas. Esse é o grande enigma da vida! O enigma da homoquiralidade dos seres vivos. Na verdade, é só metade do enigma, pois sabemos que os açúcares que constituem o DNA e o RNA também são quirais, e da orientação oposta à dos AAs. Os açúcares são enantiomericamente puros também, e da forma D. Para ser capazes de enovelar corretamente o DNA em uma dupla hélice. Ou seja, a maquinaria do LUCA (a primeira forma de vida, last universal common ancestor), para iniciar a vida neste planeta antes de a vida estar nele operando teria que saber reconhecer, separar e selecionar AAs do tipo L e açucares do tipo D. Dois ‘milagres’ simultâneos da evolução química, com os quais, abismados e boquiabertos, nos deparamos quando conseguimos, nós os químicos e bioquímicos, entender como a vida funciona em nível molecular. Com suas maquinas, seus ‘amazing rybosomes’, como a prêmio Nobel de Química, a profa. Ada Yonath, nos falou e nos mostrou em um vídeo de tirar o fôlego, aqui no Instituto de Química da Unicamp, em uma palestra. Os ribosomos, robôs moleculares com mãos, cabeça, cérebro. Como as kinesinas, com suas ‘pernas’, que andam através das rodovias moleculares de nossas células e que dependem de moléculas enantiomericamente puras para terem formas corretas, tridimensionalmente corretas. Um espetáculo de engenharia química e eficiência sintética! Design absolutamente perfeito, e de uma inteligência inimaginável. Sintese enantiosseletiva 100% eficiente. Maquinaria que faz e reconhece coisas que nós, cientistas, temos imensa dificuldade de fazer e reconhecer.

“Quem se atreveria, então, a explicar como, na sopa primordial, em processos não guiados, essa maquinaria surgiu e gerou a vida? Estamos tentando...”

Em tempo: A Folha.com noticiou o assunto com o título “Moléculas fundamentais à vida podem ter origem extraterrestre” e a Veja.com publicou entrevista com o Dr. Eberlin. Sabe o que essa teoria (que vem ganhando força) – a da panspermia cósmica – sugere? Que os cientistas darwinistas estão admitindo que aqui, na Terra, não haveria tempo suficiente, nem condições logicamente aceitáveis para o “surgimento” da vida. Assim, o melhor negócio é jogar o problema para fora, para o espaço. E quanto mais longe melhor.[MB]