segunda-feira, janeiro 03, 2011

Dilúvio universal e suas implicações

Em reação à postagem “Montanha chinesa tem mais de 20 mil fósseis marinhos”, recebi o seguinte e-mail de um amigo leitor: “Prezado Michelson, segundo seu pensamento, os animais foram soterrados de forma abrupta, sob lama e sedimentos. Mas, se assim fosse, [1] não seria lógico encontrarmos sítios com manadas inteiras, ou várias espécies reunidas? Por que isso não acontece? [2] Se Deus fez chover durante quarenta dias de tal forma que inundou o mundo todo, teria que ser um volume incrivelmente grande de água. A Bíblia fala de chuva, não de tromba d’água. Pois se fosse algo tão violento nem a arca suportaria. [3] Temos outra questão: Para onde a água escoou? [4] Como os cangurus e outros marsupiais que só existem na Austrália chegaram lá, se foram desembarcados no monte Ararate? [5] Quando os animais da arca desembarcaram, viveram do quê? Sendo que se um leão comesse ao menos uma zebra, adeus zebras. Fora a dificuldade de se locomover no meio de toda aquela lama. [6] Partindo também dessa premissa, deveríamos encontrar muito mais fósseis marinhos, agrupados, em altas montanhas do que são encontrados hoje. Explicaria o porquê das ossadas de baleias e outros seres marinhos, mas e os crustáceos que vivem no solo, foram parar lá como? [7] Reconheço que os criacionistas têm feito um esforço enorme para torná-lo uma ciência, mas para isso devem seguir as premissas da ciência não da fé. Abraço. R.”

Como acredito que essas perguntas são de interesse mais ou menos geral e que é relativamente fácil respondê-las sob a ótica criacionista, vou aproveitar para tornar públicas as respostas que daria por e-mail ao amigo R. (Na quarta edição revista e ampliada do meu livro A História da Vida, que deve ser publicada nas próximas semanas, dedico um capítulo ao assunto do dilúvio e outro aos dinossauros. Ali essas questões são tratadas de modo mais aprofundado.)

1. Na verdade, a própria existência de milhões de espécimes fossilizados em todo o mundo evidencia que houve uma grande catástrofe hídrica que causou esse sepultamento repentino, preservando tantos animais (alguns deles enormes) em situações que realmente apontam para o elemento surpresa: há fósseis preservados em estado de agonia e sufocamento; alguns têm alimento não digerido no estômago e há até animais sepultados em pleno ato de dar à luz. Diferentemente do que o leitor sugere, sítios com manadas inteiras foram encontrados, sim. Confira aqui e aqui.

2. Existem pesquisas não criacionistas que já admitem inundações catastróficas (confira aqui, aqui e aqui). Com relação à quantidade de água para cobrir toda a Terra, o grande erro de muitos é pensar que seria necessário um volume tal que fosse capaz de submergir os 8.850 metros do Monte Everest. Esses grandes montes e cordilheiras não eram tão altos no passado e, tendo em vista as transformações catastróficas observadas em tempos recentes, podem ter se elevado em tempo relativamente curto. Isso explica a existência de fósseis de animais marinhos no alto dessas montanhas: quando foram fossilizados, não estavam lá no alto. Se não foi assim, qual seria a explicação? Baleias fossilizadas no alto de montanhas? É bom lembrar que, segundo os criacionistas, a topografia antediluviana era suave, com colinas não muito elevadas, e que pouco tempo após o dilúvio, homens planejaram construir uma torre que pudesse protegê-los de uma eventual nova inundação. Se eles pensavam que isso era possível, certamente as águas do dilúvio não devem ter se elevado a alturas absurdas, como alguns pensam. Quanto à arca, certamente a proteção dela deve ter sido garantida pelo poder de Deus, mesmo assim, segundo estimativas de engenheiros, ela seria capaz de suportar ondas de várias dezenas de metros.

3. A água do dilúvio escoou para as grandes depressões formadas pelas pressões geológicas durante e após o dilúvio. Fossas como a das Marianas têm milhares de metros de profundidade. Imagine quanta água podem conter.

4. Como os cangurus chegaram à Austrália a partir do Ararate? Talvez eles nem tenham estado na arca... Como assim? Criacionistas admitem os efeitos da microevolução e do isolamento geográfico. Na verdade, muitas “espécies” de animais não estiveram na arca, pois surgiram depois. Exemplos: vários tipos de cães e gatos atuais. Além disso, qual era a etnia de Noé e de seus filhos? Certamente, todos os tipos de etnias humanas modernas derivaram dessa família que foi salva. O movimento tectônico que afasta os continentes (ou os aproxima) uns dos outros é tido pelos criacionistas como um fenômeno decorrente do dilúvio. Assim, a Austrália não existia no passado remoto da Terra; ela fazia parte do mega-continente conhecido como Pangeia. Resumindo: ou os ancestrais dos cangurus migraram para a região que hoje é a Austrália e acabaram ficando isolados lá, sofrendo modificações, ou nem sequer entraram na arca e surgiram posteriormente a partir de microevolução de uma espécie ancestral.

5. Durante os dias do dilúvio, com pouca luz e temperatura mais baixa na arca, é possível que muitos dos animais tenham hibernado, o que facilitaria o trabalho de alimentá-los. Assim, é possível que muito do alimento estocado (sementes, frutas secas e feno, suponho) tenha sobrado para alimentá-los durante algum tempo após a inundação. É bom lembrar também que a arca somente foi aberta quando a terra já estava seca e que havia plantas brotando mesmo antes disso (a pomba com o ramo de oliveira atesta isso). Leões muito provavelmente não comiam zebras nessa época (pelo que indicam pesquisas recentes, a maioria dos dinossauros tidos como carnívoros também eram vegetarianos).

6. Na verdade, fósseis marinhos em áreas continentais e em montanhas são encontrados em todo o mundo. Grande parte dos sedimentos continentais são de origem marinha, conforme referências presentes em meu livro A História da Vida.

7. Criacionistas e evolucionistas se valem igualmente do método científico. A diferença está na filosofia ou cosmovisão por trás dos modelos: enquanto os criacionistas aceitam a historicidade do relato bíblico de Gênesis, os evolucionistas se pautam pelo naturalismo filosófico.

Michelson Borges

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