segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Governantes árabes prometem reformas

As revoltas populares na Tunísia e no Egito estão tirando o sono de governantes dos países árabes, que começam a adotar medidas de abertura e prometer reformas políticas para evitar que o efeito dominó chegue a seus territórios, embora os analistas acreditem que, se a rebelião egípcia for derrotada, o impulso reformista deverá ser freado.
“Em um mês, o mundo árabe mudou mais do que em anos”, estimou Ziad Majed, especialista em Oriente Médio Contemporâneo, da Universidade Americana de Paris. “O temor mudou de campo: durante décadas, os regimes autoritários se mantinham graças à repressão [...]. Hoje, os regimes têm medo e querem evitar a qualquer preço o que aconteceu no Egito e na Tunísia”, acrescentou.

O presidente iemenita Ali Abdalah Saleh, no poder há 32 anos, anunciou que não disputaria um novo mandato, mas isso não foi suficiente para acalmar a oposição. Milhares de manifestantes tomaram as ruas da capital Sanaa para exigir reformas democráticas.

Na Jordânia, o rei Abdallah destituiu o primeiro-ministro para amainar a pressão popular por sua saída, mas a poderosa oposição islamita criticou a opção do substituto e convocou novas manifestações na sexta-feira.

Na Síria, onde as rede sociais foram usadas para organizar protestos na última sexta-feira e sábado, o presidente Bashar al-Assad - que sucedeu o pai em 2000 - declarou querer “continuar a mudança em nível do Estado e das instituições”.

No Marrocos, o governo expressou sua determinação em manter os subsídios para os produtos básicos. “Os regimes querem mostrar sinais de abertura, e aceitam reivindicações que rejeitaram durante décadas por temer uma perda de controle da situação”, explicou Majed. Para o especialista, “a simples ameaça de manifestações de ira na Jordânia ou no Iêmen teve mais consequências políticas do que toda a militância clássica dos últimos anos”.

Majed destacou também o fato de que o mundo árabe “é a única região do mundo onde os governantes se mantêm no poder desde os anos 60, e onde há repúblicas que começam a ter o comportamento de dinastias”. [...]

Desde o último dia 25 de janeiro - data que ganhou um caráter histórico, principalmente na internet pelo uso da hashtag #Jan25 no Twitter -, os egípcios protestam pela saída do presidente Hosni Mubarak, que está há 30 anos no poder. No dia 28 as manifestações ganharam uma nova dimensão, fazendo o governo cortar o acesso à rede e declarar toque de recolher. As medidas foram ignoradas pela população, mas Mubarak disse que não sairia. Limitou-se a dizer que buscaria “reformas democráticas” para responder aos anseios da população a partir da formação de um novo governo.

A partir do dia 29, um sábado, a nova administração foi anunciada. A medida, mais uma vez, não surtiu efeito, e os protestos continuaram. O presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da polícia antimotins. Enquanto isso, a oposição seguiu se organizando. O líder opositor Mohamad ElBaradei garantiu que “a mudança chegará” para o Egito. Já os Irmãos Muçulmanos disseram que não iriam dialogar com o novo governo. Na terça, dia 1º de fevereiro, dezenas de milhares de pessoas se reuniram na praça Tahrir para exigir a renúncia de Mubarak.

A grandeza dos protestos levou o líder egípcio a anunciar que não participaria das próximas eleições, para delírio da massa reunida no centro do Cairo. O dia seguinte, 2 de fevereiro, no entanto, foi novamente de caos na capital. Manifestantes pró e contra o governo Mubarak travaram uma batalha campal na praça Tahrir com pedras, paus, facas e barras de ferro. O número de mortos é incerto, entre seis e dez, e mais de 800 pessoas ficaram feridas. No dia seguinte, o governo disse ter iniciado um diálogo com os partidos. Mas a oposição nega. Na praça Tahrir e arredores, segue a tensão.

(Terra)

Nota: Ainda é um pouco imprevisível a que desdobramentos esses protestos no mundo árabe podem levar. Por um lado, há o risco de assumirem o poder radicais islâmicos que podem levar a teocracia a extremos. Mas também há a possibilidade de abertura democrática nesses países, o que favoreceria a evangelização dos muçulmanos. Os islâmicos não devem ser forçados a deixar sua religião (aliás, ninguém deve), mas devem ter o direito de conhecer outras religiões e ter a liberdade de mudar, se desejarem.[MB]