terça-feira, fevereiro 22, 2011

Para resistir aos hunos

Em meados do século 18, a física “newtoniana” anunciava um mundo duro, frio, incolor, silencioso e morto. Alegria, beleza, amor e cores seriam não mais que abstrações casuais da mente humana, ela mesma relegada a observadora irrelevante, insignificante. O século seguinte estenderia essa visão ao mundo das coisas vivas, e a gradação por complexidade dos diversos seres vivos passaria a hierarquizar, inclusive, os grupamentos humanos. De repente, o homem olhava para o céu e não mais via Deus, mas “o frio, a escuridão sufocante e o silêncio”. Olhando para dentro de si, percebeu apenas o horror, que é, afinal, “o retrato frio e vazio da escuridão”. Pior que a morte, a única certeza da vida era agora a falta de sentido, de propósito e significado. Restava-nos o laxismo, o relativismo e o pragmatismo. Inaugurava-se, assim, a justificação pseudocientífica para todas as formas de engenharia social, do Congo Belga aos Gulags, passando por inúmeros Birkenaus.

Mas o que blindava essa visão mecanicista tão suicida? A irrefutabilidade de suas afirmações ou o repúdio amargurado a qualquer esperança de natureza metafísica? Seria maturidade julgar mentirosa, a priori, a figura de um Deus amoroso e pessoal, mas verdadeira a redução do semelhante a algo acessório senão inconveniente? O Cristianismo não poderia se calar. Contudo, sua resistência, inicialmente despreparada, serviu de anteparo ao naturalismo mecanicista, principalmente sua pedra angular, o evolucionismo. Afrontar esse último passou a ser tachado de delírio ou impostura. Tal doxa amordaçou boa parte dos críticos. No Brasil, então, era como se esses nem existissem. Me foram particularmente melancólicos os anos 1980, quando o silêncio resignado ou a concordância pusilânime de meus colegas cristãos de universidade ajudavam a promover o materialismo à condição de verdade absoluta. Triste, pois sempre considerei que um cristão capitula por falta de argumentos, nunca de coragem.

Um dia, há nove anos, tive acesso à primeira versão do livro A História da Vida, do jornalista Michelson Borges. Foi de imensa satisfação descobrir que ainda havia jornalistas em Berlim. E biólogos e químicos e físicos e arqueólogos! Ao ampliar minha biblioteca com autores correlatos, pensei: “Não tardará até reocuparmos a Normandia e devolvermos os hunos à aridez de suas estepes.”

Quando há um ano Michelson, agora meu amigo, me participou que trabalhava em nova versão de seu livro, iniciei contagem regressiva, ansioso. A década que separava as duas versões de A História da Vida trouxe grandes novidades: desconcertantes descobertas no campo da genética, o fundamentalismo xiita dos neoateus, apostasias de cada lado da disputa criacionismo-evolucionismo, a consolidação do Design Inteligente nos meios cultos, apesar da truculência quase mafiosa da Nomenklatura Científica. Esses e outros temas são devidamente tratados ao longo do novo livro. O resultado cativará o leitor pouco afeito a embates filosóficos, e instigará o raciocínio crítico dos que não adotaram o naturalismo mecanicista como dogma e credo (“Darwin locuta, causa finita”). Apesar do deleite que será sua leitura, cabe ao menos uma única - e justa - crítica: a brevidade de suas 224 páginas. Ao fim delas, o leitor ansiará por que uma terceira versão já esteja a caminho do prelo. Bon appetit!

(Marco Dourado, analista de sistemas formado pela UnB, com especialização em Administração em Banco de Dados)

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