terça-feira, fevereiro 08, 2011

Toda a verdade é relativa… menos esta!

Imagine a seguinte situação. Você é uma pessoa saudável, mas durante os últimos meses começa a sentir uma dor aguda no estômago. Vai ao médico, faz os exames necessários e uma semana depois retorna ao doutor para que ele examine os resultados dos exames. Ao puxar os papéis do envelope e ler o conteúdo, o médico muda de expressão. Você já não está tão calmo como estava antes e começa a imaginar as diferentes frases que podem sair da boca dele. Mas, em vez do tradicional “Você está com câncer e tem alguns meses de vida apenas”, o médico respira fundo e lhe diz:

“Olha, senhor, o laboratório diz aqui que você tem câncer no estômago, mas a realidade é que a verdade é o senhor que escolhe. Isso pode ser verdade para eles, porém, não precisa ser verdade para você! O senhor é quem escolhe o seu caminho.”

O que você acharia disso? Pode parecer uma história absurda, mas é mais ou menos isso o que acontece na área da religião e da filosofia. Você já ouviu a frase: “Isso pode ser verdade para você, mas não para mim”?

Primeiro, vamos às definições técnicas. A verdade, segundo alguns, pode ser relativa ou absoluta. A definição da verdade relativa é que a verdade é verdade uma única vez e em um único lugar. É verdade para algumas pessoas e não para outras. É verdade hoje, mas pode não ter sido verdade no passado e pode não ser novamente no futuro – sempre está sujeita a mudança. Ela também está sujeita à perspectiva das pessoas.

A definição de verdade absoluta é: tudo quanto é verdade uma vez e em um lugar é verdade todo o tempo e em todos os lugares. O que é verdade para uma pessoa é verdade para todas as pessoas. Verdade é verdade se nós acreditamos nela ou não. A verdade é descoberta ou revelada, não é inventada por uma cultura ou por homens religiosos.

O filósofo grego Protágoras disse que o “homem é a medida de todas as coisas”. Isso significa que cada pessoa pode decidir o próprio padrão para o certo e o errado. O que é moralmente certo para mim, pode estar errado para outro. Essa é a essência de relativismo.

O renomado biólogo Edward Wilson, em Consilience: the Unity of Knowledge, escreve: “Pensadores do iluminismo creem que podemos saber tudo, e pós-modernos radicais creem que não podemos saber nada.” O que ele quis dizer com isso? Tivemos dois extremos na história do saber. Um deles, como vimos no estudo anterior, afirma que por meio da ciência podemos saber todas as coisas. Esse pensamento pertence ao mundo do Iluminismo do século 18. Porém, a sabedoria com o passar dos anos se estendeu a outro extremo e o pós-modernismo em que vivemos hoje tenta nos convencer de que não existe uma verdade, mas várias.

Agora, o que nos interessa é saber como sabemos que a verdade é relativa ou absoluta. Como posso ter certeza de que minha vida, meus atos, minha crença devem ser ditados por uma única verdade que governa o mundo inteiro?

Vamos à primeira evidência: existem absolutos. Com certeza, você crê nisso. Quer provas? Você consegue acreditar que alguém pode andar e permanecer parado ao mesmo tempo? Ou que alguém está dormindo enquanto está acordado? É possível que um cavalo seja inteiramente branco enquanto inteiramente preto? Você consegue viver no passado e no futuro ao mesmo tempo? Você definitivamente não poderia dizer, diante de um acidente de automóveis, que talvez o acidente tenha acontecido e talvez não tenha acontecido; que depende do ponto de vista de quem viu acontecer.

A primeira conclusão, portanto, é de que, quando lidamos com a realidade, tem de existir uma verdade absoluta, senão não é realidade!

Segunda evidência: a lei da não contradição. O princípio da não contradição foi formulado por Aristóteles em seus estudos sobre a lógica, e diz que uma proposição verdadeira não pode ser falsa e uma proposição falsa não pode ser verdadeira. Nenhuma proposição, portanto, pode ser os dois ao mesmo tempo. Uma afirmação não pode ser contraditória para ser verdadeira. Por exemplo, você não pode dizer que um animal é um cachorro e dizer também que não é um cachorro.

Se analisarmos cuidadosamente, a própria afirmação do relativismo é contraditória. Veja só: “Toda a verdade é relativa.” Isso é como uma declaração do tipo: eu tenho absolutamente certeza de que tudo é relativo. Na própria declaração, o relativismo já se contradiz. Porém, se você analisar a afirmação da verdade absoluta, isso muda: toda verdade é absoluta. Essa afirmação também é absoluta, portanto, sem problemas!

Rafael Lanzetti, em seu artigo “Relativismo e Crítica Literária”, faz um comentário muito interessante a respeito de Protágoras, o filósofo que criou a teoria relativista: “Ora, Protágoras, ao criar tal teoria, criou juntamente com ela sua primeira contradição: se o trabalho de Protágoras enquanto filósofo sofista era o de ensinar aos outros como convencer os demais de que o que diziam era verdade, como poderia afirmar ele que tudo em que o homem acredita é verdade para este? Ao perceber sua contradição, Protágoras foi obrigado a adaptar sua teoria, qualificando sua doutrina: enquanto tudo em que alguém acredita é verdade, algumas coisas em que algumas pessoas acreditam são melhores que outras coisas em que outros acreditam.”

Platão disse, porém, que tal qualificação revela a inconsistência de toda a sua doutrina. Seu argumento básico se chama “A virada de mesas” (“Peritroph”): “Se à maneira como as coisas parecem para mim, assim elas existem para mim, e se à maneira como as coisas parecem para ti, assim elas existem para ti, então parece a mim que toda a tua doutrina é falsa. Uma vez que à maneira com que as coisas parecem para mim é verdade, então deve ser verdade que Protágoras estava errado.” Uma vez que Protágoras afirmou não existir falsidade, ele não pode dizer que o argumento de Platão seja falso, portanto a teoria de Protágoras é relativa.

Se até mesmo o inventor da teoria tão divulgada hoje teve problemas com ela, o que isso diz a respeito de sua confiabilidade?

Segunda conclusão: a teoria do relativismo não passa no teste da Lei da Não Contradição e seu próprio autor se contradisse.

Terceira evidência: a verdade relativa não é benéfica no sentido moral da sociedade. Se o ser humano é a medida de todas as coisas, ele também pode ser a medida do que dita a lei. Como defesa das verdades absolutas, o estudioso católico Leslie Walker debate o Relativismo usando seu próprio paradoxo: “Se dissemos que não existe no mundo certo ou errado, melhor ou pior, mas apenas formas de vida diversificadas, não podemos dizer que alguém está errado por seguir suas verdades particulares, certo?”, pergunta ele. “Certo”, ele mesmo responde. “Se isso é verdade, não podemos dizer que Hitler e Stalin estavam errados em matar milhões de pessoas e trazer sofrimento e dor, de uma forma ou de outra, a todo o mundo, certo? ‘Certo.’ Consequentemente, não podemos dizer que estávamos errados se quisemos matá-los, como assim o fizemos. ‘Exato.’” (Larry J. Walker, “Relativism”. In: Encyclopaedia Catholica. Vaticano: Editoriale Papale, 1987). Você já pensou nisso?

Terceira conclusão: se nossa sociedade baseasse sua moralidade na teoria da verdade relativa, cada um poderia exercer aquilo que acredita ser verdade, causando um verdadeiro caos moral.

Quarta evidência: as declarações religiosas também são propostas não-contraditórias. Muitos dizem que o problema da verdade relativa não está nas coisas corriqueiras do nosso dia a dia ou nos fatos que a ciência comprova e sim que o problema reside nas questões religiosas, como, por exemplo, a existência de Deus, a veracidade da Bíblia como Escritura Sagrada, e em citações de Jesus Cristo. A mentalidade pós-modernista, quando questionada a respeito da religião, clama em uníssono: “Não existe uma só verdade e não há um caminho verdadeiro. Todos os caminhos, todas as religiões e todos os livros sagrados nos levam a Deus (seja qual for) e a uma verdade.” Vamos analisar também essa afirmação.

Vimos anteriormente que toda declaração feita tem que ser verdadeira ou falsa; não há alternativa além dessas. Qualquer afirmação que faz uma reivindicação de ser verdade – seja ela expressa em uma frase, elocução ou uma crença – é chamada de proposta. Frases sobre fatos expressam propostas. Propostas são ou verdadeiras ou falsas porque elas fazem reivindicações da verdade, estipulam o “que é” e o que “não é”. Veja esta citação de Aristóteles: “Dizer que é o que não é, ou que não é o que é, é falso, enquanto dizer o que é que é, e o que não é que não é, é verdade; para que aquele que diz qualquer coisa que é, ou que não é, vai dizer aquilo que é verdade e não o que é falso.”

Essa citação de Aristóteles inspirou até mesmo um grupo musical dos anos 1980 a escrever a música “O Que”. Também nos inspira a entender que até mesmo propostas filosóficas e religiosas entram na categoria de ou serem verdadeiras ou falsas.

Quarta conclusão: a mesma regra da não contradição se aplica a declarações filosóficas e religiosas, pois elas se enquadram na definição de propostas.

A grande pergunta final

Ainda resta uma grande pergunta: Por que, de todas as declarações e propostas religiosas no mundo, devemos seguir o cristianismo? E mais: Por que seguir a Bíblia? Por que não os livros sagrados do Islamismo, Budismo ou Hari Krishna? Será que não existem verdades em todas as religiões? Por que só uma deve ser verdadeira e como podemos confiar naquilo que está escrito na Bíblia?

Pense em alguém se aproximando de você e declarando: “Estou com dor no joelho esquerdo.” Essa é uma declaração subjetiva, mas ainda é uma proposta. Pode ser verdadeira ou não. Como você sabe? Você consegue entrar na cabeça da pessoa e saber se ela está mentindo? Acredito que não. Então, a única forma de saber depende de quanta confiança você tem nessa pessoa. Ela já mentiu para você alguma vez? Ela frequentemente se contradiz em suas afirmações? Você já passou tempo com essa pessoa para saber se ela é confiável?

É isso que estudaremos nos próximos programas. Usando fatos e a lei da não contradição, vamos realmente analisar esse livro que se diz portador de tantas verdades absolutas. E vamos confirmar se podemos verdadeiramente confiar nele.

(Marina Garner Assis)