Bem que Gilberto Braga tenta disfarçar, com algumas concessões ao bom-mocismo, mas ao desfraldar suas bandeiras pró-homossexualidade deixa escorrer misoginia pelos cantos da tela no folhetim das nove, cuja autoria compartilha com Ricardo Linhares (Insensato Coração, Rede Globo, 21h). Embora dos seis personagens gays apenas um tenha papel de destaque, diálogos como o de um deles (Nelson, interpretado por Edson Fieshi), numa cena de festa em que, acossado por uma socialite, bradou irritado algo como "se eu precisasse de uma boneca inflável para alavancar minha carreira estaria perdido", dão a medida do tratamento depreciativo que os autores vêm destinando às mulheres na trama. O mesmo personagem, capítulos depois, se mostraria possesso porque uma garota sem noção, atraída por sua "irresistível" beleza, atrapalhara uma paquera sua entre iguais, num quiosque. Para arrematar, ironizou, juntamente com o garçom, igualmente gay, a ignorância de Sueli (Louise Cardoso), que não alcança o linguajar, o estilo, nem consegue identificar os membros desta comunidade aparentemente tão superior. [...]
Nada contra a defesa de um gênero oprimido. Mas os direitos GLS e a valorização da mulher não são mutuamente excludentes.
Para movimentar sua trama os autores apelam para bate-bocas e cenas de ação bem ao estilo do cinema estadunidense. Em 25 capítulos já houve seqüestro e acidente de avião, roubos e assaltos a residências, desastres de carros e motos, rebelião de presídio, assassinato, socos e tapas em profusão, várias cenas hospitalares.
Felizmente a Globo está reprisando O Clone (14h30), que, embora não seja nenhuma mil e uma noites, extrai o movimento do relacionamento interno dos personagens e desfila mulheres misteriosas e sensuais como odaliscas.
(Silvia Chiabai, Observatório da Imprensa)