quinta-feira, agosto 04, 2011

Bóson de Higgs e as outras “não descobertas” do LHC

O bóson de Higgs ainda não foi encontrado. Tudo o que apareceu até agora foram “flutuações” nos gráficos que os milhares de cientistas que monitoram os grandes detectores do LHC olham com avidez. Flutuações já surgiram antes, e já foram devidamente aplainadas quando uma quantidade maior de dados foi coletada. Mas talvez devêssemos começar a nos preocupar mais com outras coisas que o Grande Colisor de Hádrons ainda não encontrou. Esta foi a principal mensagem ao fim da esperada conferência do LHC, em Grenoble, na França, onde os físicos se reuniram para ruminar e, eventualmente, digerir os primeiros resultados do maior laboratório científico do mundo. Encontrar o Bóson de Higgs, também chamada de Partícula de Deus, poderá completar o “modelo padrão”, que contém os nossos melhores palpites sobre como explicar as partículas fundamentais e as forças da natureza. Mas já sabemos que algumas outras questões de muito peso permanecem fora do alcance do modelo padrão - ou, talvez devêssemos dizer, questões de muito mais massa do que o Bóson de Higgs.

Entre elas está a relação entre a intensidade das diferentes forças no Universo e a natureza da matéria escura, que se acredita formar nada menos do que três quartos da sua massa. Para responder a essas questões, os físicos estão de olho em uma outra grandiosa construção teórica, conhecida como supersimetria. A supersimetria propõe que cada partícula prevista pelo modelo padrão tem um parente “bombado”, que aparece apenas em energias extremamente altas.

“Squarks” e “gluínos”, os primos fortes dos quarks e glúons do modelo padrão, foram descartados a energias de até 1 tera eléctron-volt (TeV), de acordo com uma análise do primeiro ano de colisões do LHC. Essa é exatamente a faixa de energia na qual a família mais simples de modelos supersimétricos prevê que essas partículas deveriam ser encontradas.

Energias mais altas e modelos mais complexos ainda precisam ser explorados, mas “o ar está ficando rarefeito para a supersimetria”, disse Guido Tonelli, da colaboração CMS, um dos grandes detectores do LHC.

Ao mesmo tempo, abaixo de uma energia de 2 TeV, não há ainda nenhum sinal dos grávitons - partículas que “transmitiriam” a gravidade e que são essenciais para uma teoria quântica dessa força.

Tantas partículas “faltantes” estão fazendo físicos se perguntarem se eles estão fazendo as perguntas certas. Mas Rolf-Dieter Heuer, diretor-geral do CERN, aconselha a evitar conclusões precipitadas. Com a máquina ainda acelerando rumo à sua potência total, o LHC produziu apenas um milésimo dos dados que, eventualmente, ele deverá gerar. “Alguma coisa virá”, profetizou ele. “Nós apenas temos que ser pacientes.” No caso do Bóson de Higgs, pelo menos, ele está confiante de que algo virá mais cedo ou mais tarde.

O LHC já encontrou alguns vislumbres do que poderia vir a ser essa partícula elusiva - as tais flutuações nos gráficos - mas os resultados ainda são frágeis demais para confirmar ou para negar sua existência.

Heuer preferiu transferir a expectativa para a reunião do ano que vem, afirmando que a questão shakesperiana do Bóson de Higgs - ser ou não ser – “deverá ser respondida até o final do ano que vem”.

Mas o que é preciso considerar bem é que tantas “não descobertas” talvez sejam a melhor notícia do LHC até agora: afinal, quem iria querer gastar quase dez bilhões de dólares apenas para, no final, dizer “Eu já sabia”?

(Inovação Tecnológica)

Nota: Mesmo com a nota esperançosa que encerra o texto acima, uma coisa é certa: essa notícia é um verdadeiro balde de água fria sobre todo o estardalhaço midiático promovido quando da inauguração do LHC. Parece que alguns ainda não aprenderam a ser humildes diante da magnitude da criação divina.[MB]

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