terça-feira, agosto 16, 2011

O sequestro

No último sábado (13), por volta das 22h30, após sair da igreja com meu marido, Júnior, fomos ao Hipermercado Extra, na Rótula do Abacaxi, aqui em Salvador, BA. Fizemos umas compras e fomos guardá-las em nosso veículo. Após guardá-las, entrei no carro e fiquei esperando-o fechar o porta-malas. No momento em que Junior entrou no veículo, percebi a presença de alguém se aproximado da gente; tentei avisá-lo, mas foi tarde. Um jovem, aparentando pouco mais de 20 anos, portando um revólver, mandou que meu marido passasse para o banco de trás. Por um instante, pensei que fosse algum conhecido brincando, pela forma calma de falar. Foi quando percebi que se tratava de um sequestro. Júnior olhou para mim e me pediu calma, enquanto o ladrão ligava o carro sem dar uma palavra. Antes de sair do Extra, ele olhou para a gente e perguntou:

- Vocês são evangélicos?

Ficamos surpresos, mas Júnior respondeu com convicção:

- Sim, somos!

Então o rapaz bateu as duas mãos no volante e fez outra pergunta:

- De que igreja vocês são?

Eu respondi:

- Somos adventistas do sétimo dia.

Então, para nossa surpresa, o ladrão afirmou:

- Não se preocupem, não vou fazer nada com vocês. Eu não assalto cristão; não sou maluco de fazer isso. Já fiz uma vez e me arrependo amargamente.

Logo em seguida, o jovem nos perguntou outra coisa:

- O carro de vocês tem seguro?

Eu, outra vez, tomei a palavra e respondi:

- Não. Inclusive somos recém-casados e ainda estamos nos estabilizando financeiramente.

Para nossa surpresa, mais uma vez, ele balançou a cabeça e disse:

- Mais um motivo para eu não fazer nada com vocês. Eu só roubo carro que tem seguro. Podem ficar tranquilos, vou dar uma volta com vocês e pegar outro carro, pois preciso voltar pra casa.

Tudo parecia um pesadelo, mas era realidade. Tiago – esse é o nome do rapaz – é ex-evangélico. Ele nos disse que “precisávamos passar por aquele momento”, e que nenhuma folha cai sem a permissão de Deus! Júnior e eu estávamos relativamente calmos, pois sabíamos que Deus estava no controle. No percurso, Júnior perguntou o que levara Tiago a pensar que nós éramos evangélicos e tivemos outra surpresa com a resposta dele:

- A aparência, só isso.

Continuamos a conversar. Na verdade, aproveitamos a oportunidade para testemunhar do amor de Deus e tentar tirar aquele jovem da vida torta em que ele se encontrava. Tudo durou, aproximadamente, 1h30. Mas parecia uma eternidade.

Apesar de ele não nos ter ameaçado, apontado a arma, ou sequer nos xingado, o medo pairava em meu coração. Em determinado momento, pedi para que eu pudesse chorar, pois estava angustiada, pelo simples fato de nunca ter passado por situação assim. Mais uma vez, Tiago nos surpreendeu. Olhou para mim e disse:

- Vocês podem fazer o que quiserem. Eu não vou fazer nada com vocês. Eu não quero nada de vocês. Eu nem tô fazendo nada. Rapaz, pra você ter certeza de que não vou fazer nada, segure minha arma.

Júnior tomou um susto e disse não precisar daquilo, pois confiava na palavra dele. Tiago recolheu o revolver e o guardou embaixo das pernas.

Calmamente, aquele jovem dirigia e conversava com a gente – como se fôssemos três amigos. Não ultrapassou nenhum sinal vermelho e também não acelerou o carro. Manteve a velocidade entre 60 e 70 km.

Tentamos convencê-lo a sair daquela vida e ele começou a falar o que havia se passado com ele (não vou relatar, pois foram várias situações que o levaram àquela vida). Mas, de uma coisa eu tinha certeza: ele tinha o temor de Deus! E nós estávamos com a Trindade e um batalhão de anjos dentro daquele carro.

Após “passearmos” na orla, Costa Azul e adjacências, ele disse que iria nos deixar no mesmo local em que tínhamos sido abordados. Como ele estava um pouco alcoolizado, acabou indo para o Hiper Bompreço do Iguatemi, quando eu disse:

- Mas você pegou a gente no Extra da Rótula do Abacaxi.

Mesmo percebendo que estava em outro local, ele entrou no Hiper Bompreço. Havia ali alguns seguranças armados e poucos carros. Então decidiu voltar ao Extra. Ao chegarmos lá, ficamos parados uns 30 minutos, durante os quais continuamos a conversar. Nesse momento, meu marido pediu para que nós orássemos juntos e ele aceitou. Inacreditavelmente, ele fechou os dois olhos. Demos as mãos e oramos. Era algo inacreditável! Parecia surreal! Mas foi verdade.

Como demoramos muito, ele percebeu uma movimentação “estranha” dos seguranças do Extra. Na verdade, acho que foi impressão dele, mas o fato é que ele ligou o carro e saiu do local em que havia estacionado. Deu uma volta e tentou assaltar outro carro, comigo e meu marido dentro do nosso veículo. Quando ele avistou algumas pessoas se dirigindo para um automóvel, disse-nos:

- Não, aqueles ali eu não posso. Tão com criança e eu não faço isso.

Era uma surpresa atrás da outra! Eu continuava custando a acreditar. Então ele foi conduzindo nosso carro para outro local e eu pedi para que ele estacionasse onde eu não pudesse vê-lo abordando outra pessoa. Ele atendeu meu pedido e estacionou num local em que eu não pudesse ver quase nada. Um casal saiu de um gol preto e entrou no supermercado. Tiago esperou que eles voltassem. Nesse meio tempo, meu marido ofereceu para ele a Bíblia do nosso casamento e um DVD do Departamento Jovem da igreja. Ele aceitou prontamente. Disse que sabia que aquela era a única saída para os problemas dele, mas que ele precisava roubar um carro para voltar para casa. Então, quando fui pegar o DVD, descobri que dentro da capa estava o CD de Ed Carlos, que havia vivido algo parecido com o que aquele jovem vivia. Então olhei para Tiago e disse:

- Tiago, acho que Deus tem, realmente, um propósito em sua vida. O CD que temos aqui é de uma pessoa que tinha a vida parecida com a sua. Mas, hoje, vive para o Senhor. Ele teve a vida transformada. Ainda há tempo pra você!

Nesse momento, o casal que tinha ido ao Extra voltava para o carro e, então, Tiago olhou para mim e para o Júnior e disse:

- Vou indo nessa. Orem para que eu saia desta vida!

Na tarde do dia seguinte, meu marido e eu fomos à delegacia para conversar com o delegado, mas ele não estava lá. Ao falar com o policial, ele nos entregou o boletim de ocorrência errado. Quando o lemos, percebemos que se tratava de algo parecido com o que havia acontecido conosco e tive curiosidade de ler mais. O boletim era o do casal que Tiago havia abordado depois de nós! Não sei como aquele documento veio parar em nossas mãos, mas, ao lê-lo, tive ainda mais certeza de que Deus estava no controle de tudo.

O motorista do gol, que declarou ser evangélico, disse que Tiago lhe havia perguntado se o carro tinha seguro. Ele respondeu que sim. Então, Tiago levou o carro, mas deixou o casal em um ponto de ônibus. Junto com o carro, Tiago levou também dois celulares e 35 reais, não sem antes devolver os chips dos aparelhos e entregar-lhes dinheiro suficiente para eles tomarem o ônibus para casa.

Tenho certeza de que existe esperança para aquele rapaz. Está tudo nas mãos de Deus!

É claro que fiquei traumatizada, porém, mais forte do que nunca. Deus livrou a mim e a meu marido do vale da sombra da morte. E nos fez testemunhas vivas do Seu amor, bondade e proteção.

(Monique Conceição dos Anjos, jornalista e assessora de imprensa)