segunda-feira, dezembro 05, 2011

O argumento de Deus

Onde está Deus? Pergunta o cientista./ Ninguém O viu jamais. Deus Ele é?/ Responde às pressas, o materialista:/ Deus é somente uma invenção da fé!

Em 2007, uma grande editora de livros brasileira trouxe à baila uma obra extremamente hostil ao mundo religioso, que já circulava pelas livrarias de outros países. Chegava às mãos dos leitores ávidos por polêmicas envolvendo a religião Deus, um delírio, do controvertido zoólogo britânico Richard Dawkins – o principal expoente da nova geração de ateus militantes que veem na religião um mal a ser extirpado e a crença na existência de Deus, uma ideia “refutada” pela lógica científica e racionalista. O livro pode ser resumido no seguinte: Deus é um tipo de loucura, um sonho, impressão psicológica, ilusão da mente humana. Em termos mais fortes, constitui uma mentira propagada pelos religiosos, mas desmascarada pelo pensamento racional, devendo, portanto, ser substituída pelo ateísmo, visão de mundo considerada por Dawkins intelectualmente satisfatória e mais condizente com a realidade.

Deus, um delírio causou certo frenesi em ambos os lados da polêmica. Os religiosos afoitos o demonizaram; os céticos mais radicais comemoraram a “pancada” sobre a fé e os fiéis. Por outro lado, mentes mais sensatas deixaram a passionalidade de lado para analisarem os argumentos retóricos de Dawkins contra a religião, a fim de verificar se a razão e os fatos lhe assistiam. Intelectuais cristãos (sobretudo teólogos e filósofos) reagiram com poderosa e convincente argumentação. Houve um reavivamento sobre o tema. Debates escritos e orais foram (e ainda estão sendo) travados em universidades do mundo inteiro, na internet e nos mais diversos meios de comunicação. E o resultado aí está: um assunto relegado aos círculos acadêmicos passou a ocupar a atenção de muita gente que se voltou mais uma vez para a questão: Deus existe ou é um delírio? Quem tem razão, os ateus ou os religiosos?

Goethe, famoso poeta alemão, disse que “a história é o combate entre a fé e a incredulidade”. Temos visto, na passagem dos séculos, essa batalha sendo travada de diferentes formas e em todos os campos do conhecimento. Desde a famosa frase de Nietzsche “Deus está morto”, aliada às investidas dos outros “mestres da suspeita” (Freud e Marx), a guerra vem se intensificando ainda mais, levando as pessoas a se decidirem contra ou a favor de Deus. E à medida que nos aproximamos do fim do grande conflito, quando se proclama a mensagem “adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar e as fontes das águas” (Ap 14:7), crer ou não em Deus (com todas as implicações práticas) tornar-se-á o assunto central da humanidade.

Norman Geisler e Frank Turek, apologetas cristãos, escreveram o interessante livro Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu. Numa de suas páginas, eles fazem a razoável declaração: “Com o objetivo de assegurar que a nossa escolha é totalmente livre, Ele [Deus] nos colocou num ambiente repleto de provas de Sua existência, mas sem a Sua presença direta – uma presença tão poderosa que poderia sobrepujar nossa liberdade e, assim, negar nossa possibilidade de rejeitá-la. Em outras palavras, Deus forneceu provas suficientes nesta vida para convencer qualquer um que esteja disposto a acreditar, mas Ele também deixou alguma ambiguidade, de modo a não compelir aquele que não estiver disposto.”

Ellen G. White, de modo parecido, se expressou: “Ao mesmo tempo em que Deus deu prova ampla para a fé, nunca removeu toda desculpa para a descrença. Todos os que buscam ganchos em que pendurar suas dúvidas, encontrá-los-ão. E todos os que se recusam a aceitar a Palavra de Deus e lhe obedecer antes que toda objeção tenha sido removida, e não mais haja lugar para a dúvida, jamais virão à luz” (O Grande Conflito, p. 527).

Não nos cabe aqui discutir os argumentos clássicos da existência do Ser Supremo (argumentos cosmológico, teleológico, ontológico e outros tantos); tampouco analisar as objeções dos céticos para tais argumentos. Essa é uma tarefa árida, e há livros e livros empenhados nisso. A própria Bíblia não tenta provar a existência de Deus; ela O assume como um fato, apresentando-O logo “de cara”: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1:1). Os homens podem apresentar defesas para fortalecer a fé no Ser divino; mas será que Deus precisa ou deseja ser provado por nós, tomando-se como base o significado de “prova” dado pelo racionalismo e pelo empirismo? Cremos que não.

Além de um empreendimento com escopo inatingível, constitui uma impossibilidade epistemológica, ou seja, fora de qualquer viabilidade no campo do conhecimento humano. Muitos, porém, acham que só creriam em Deus se a prova factual esmagadora pudesse ser levantada. Morrerão ateus, se Deus depender dessa exigência infrutífera. Aliás, de acordo com Lord Tennyson, poeta britânico do século 19, “nada digno de prova pode ser provado, nem refutado; então seja sábio, apegue-se sempre ao lado mais ensolarado da dúvida”. A bem da verdade, argumentar não converte ninguém; quando muito, convence intelectualmente uma pessoa mediante proposições persuasivas. No sábio pensamento da já mencionada Ellen G. White: “Em alguns casos, num debate público, pode ser necessário enfrentar um homem orgulhoso e que se jacta contra a verdade de Deus, mas geralmente essas discussões, quer orais quer escritas, produzem mais mal que bem. As discussões nem sempre podem ser evitadas. [...] As pessoas que gostam de ver oponentes combaterem-se, podem clamar pela discussão. Outros, que desejam ouvir as provas de ambos os lados, podem incitar a discussão com toda a honestidade de intenção; mas sempre que possam ser evitadas as discussões, deveriam sê-lo. [...] Raramente Deus é glorificado ou favorecida a verdade nessas lutas” (Evangelismo, p. 162).

Destarte, crer ou não crer está mais na esfera da vontade do que do intelecto. Há aqueles “de boa vontade”, inclinados a crer, que fortalecem sua fé com evidências positivas; estes agradam a Deus, de acordo com a Bíblia (Hb 11:6). Outros preferem não acreditar e sustentam-se em suas cavilações e dúvidas. O primeiro caso pode ser visto na história do discípulo Tomé; o segundo, na vida do faraó do Êxodo. Ambos são protótipos, respectivamente, do ceticismo sincero e da incredulidade indesculpável.

Tomé

Dentre as doutrinas cristãs mais atacadas pelos ateístas encontra-se a da ressurreição literal de Jesus. Ao lado dos milagres efetuados por Ele, esse ensinamento é fortemente negado pela corrente racionalista de filósofos, cientistas e teólogos liberais. “Um morto ressurgir! Isso vai de encontro às leis da natureza!” – clamam os descrentes. De fato, as leis da natureza conhecidas são os modos normais de Deus operar no mundo; contudo, Ele não é escravo delas. Sendo Seu Autor, possui plena liberdade de interferir na regularidade das coisas, de acordo com Seus propósitos eternos. Tomé compreendeu e aceitou o controle divino sobre as leis da vida e da morte quando se rendeu ao poder de Deus.

A história de Tomé, também chamado Dídimo, retrata muito bem a experiência do cético honesto. Convicto de suas razões e guiado pelos “fatos naturais”, o apóstolo sinceramente duvidou da ressurreição de Cristo. Aparentemente, ele não nutria a disposição mental de “crer para ver”; para Tomé era fundamental “ver para crer”. E o Senhor, repreendendo-o brandamente, não lhe negou as evidências – neste caso, as provas concretas de que havia ressurgido da morte. Pelo contrário, disponibilizou a Si mesmo ao discípulo para que ele visse e acreditasse. Tocando-O, Tomé examinou detidamente os fatos, chegando à sublime conclusão: “Senhor meu, e Deus meu!” (Jo 20:28).

Há no mundo muitos Tomés à espera de um sinal que lhes faça crer. Deus os entende, atendendo ao requisito da “prova”, porque lê o coração daqueles que desejam encontrá-Lo não motivados por curiosidade, mas para amá-Lo e reconhecê-Lo como Senhor da vida. Essas pessoas sabem o risco e a grandeza da crença para a vida pessoal. Por isso, desejam ter certeza de onde estão depositando sua confiança. À semelhança de Tomé, almejam “tocar” no Senhor Jesus, “apalpá-Lo”, senti-Lo convictamente, para depois se lançarem inteiramente nos braços de Deus. Tais “aspirantes à fé” saem de suas dúvidas para uma profunda experiência espiritual, saltando do ceticismo para a crença, à maneira do escritor americano Sheldon Vanauken, que confessou:

“Há um abismo entre o provável e o provado. Como atravessá-lo? Se era para eu apostar toda a minha vida no Cristo ressurreto, eu queria provas, queria certeza. Desejava vê-Lo comer um pedaço de peixe, esperava que letras de fogo cruzassem o céu. Não recebi nada disso... Foi uma questão de aceitar – ou rejeitar. Meu Deus! Havia outro abismo atrás de mim! Talvez o salto para a aceitação fosse uma aposta aterrorizante – mas, e quanto ao salto para a rejeição? Poderia não haver a certeza de que Cristo era Deus, mas – por Deus! – não havia certeza de que Ele não o fosse. Não dava para suportar. Eu não podia rejeitar Jesus. Depois que vi o abismo atrás de mim, só havia uma coisa a fazer. Virei as costas para ele e me atirei sobre o abismo que levava a Jesus”.

Infelizmente, existem outros, aqueles a quem denominamos “Tomés ao avesso”, que, numa atitude de desafio à soberania divina, saltam no “abismo da rejeição”, apesar dos irrecusáveis apelos ao coração e à mente para pularem em sentido contrário. A esses, a recomendação divina é: “Não sejas incrédulo, mas crente” (Jo 20:27).

O caso de Faraó

“A desconfiança em Deus é produto natural do coração não renovado, que está em inimizade com Ele. A fé, porém, é inspirada pelo Espírito Santo, e unicamente florescerá à medida que for acalentada” (O Grande Conflito, p. 527). O ateísmo vem de longa data. Basicamente constitui um produto da rebelião (suave ou agressiva) do coração à autoridade do Ser supremo. A versão “light” desse posicionamento chama-se agnosticismo – a postura de que é impossível saber se Ele existe ou não.

Há uma psicologia do ateísmo que precisa ser reconhecida, se se quiser compreender tal fenômeno. As pessoas não nascem ateias; elas se tornam incrédulas por motivos não vinculados à reflexão cuidadosa ou à lógica científica. Vasculhe a vida de qualquer ateu e você verificará sua experiência negativa com a religião. A maioria dos casos é dessa espécie; poucos são motivados por outras razões. Podemos seguramente afirmar que ser ateu é uma questão pessoal, assim como ser crente também o é. Não significa somente duvidar; é permitir que a dúvida transforme o indivíduo num rebelde declarado que combate todas as evidências disponibilizadas por Deus para alimentar a fé. As Escrituras exemplificam essa espécie de ateísmo, proveniente do orgulho e da rebelião de um coração duro, não disposto a crer.

Os egípcios, curiosamente, foram considerados por Heródoto, historiador antigo, “os homens mais religiosos do mundo”. Eram politeístas supersticiosos adoradores de inúmeras divindades. Mas foi nesse povo, “religiosamente ateu”, que o ceticismo rebelde desafiou abertamente o Ser Supremo. Na história do faraó do Êxodo, vislumbramos o primeiro caso de “ateísmo” declarado, registrado na Bíblia. Como se deu isso?

A Bíblia narra a história do cativeiro israelita no Egito. Nesse período, a fé ficou submetida à descrença. Diante da opressão sofrida, muitos hebreus talvez já não acreditassem mais na promessa divina, feita a seus pais, de que Deus os libertaria da mão impiedosa de seus algozes. Durante quatro séculos, o povo de Israel permaneceu escravizado, sob o jugo de uma nação que não conhecia o Senhor.

Esse fato está bem expresso no seguinte verso: “E levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José” (Êx 1:8). José havia levado ao Egito o conhecimento de Deus. O jovem tinha sido ali um argumento poderoso e irrefutável em favor do teísmo; e enquanto permaneceu entre os egípcios, José jamais deixou de testemunhar favoravelmente acerca da visão de mundo religiosa verdadeira. Mas, assim como Nínive perdera de vista o testemunho do profeta Jonas, o Egito desprezou finalmente o conhecimento de Deus dado por José. Após a morte dele, uma nova geração se levantou; e mesmo conhecendo a história dos atos de Deus por intermédio do Seu servo, possivelmente o Egito racionalizou esse fato, considerando-o mito ou algo para se questionar. A expressão máxima disso se concretizou na atitude do novo faraó “que não conhecera José”.

Com Moisés veio então a “prova” final. Deus encheria o Egito de argumentos suficientes, capazes de extinguir qualquer dúvida sobre Sua existência e Seus planos. Moisés foi comissionado a descer ao Egito no “papel” de Deus (Êx 4:16), para falar do EU SOU mediante atos concretos e memoráveis.

Inicialmente, o servo de Deus começou com a palavra, utilizando argumentos orais persuasivos, com o objetivo de incentivar a fé. Diante de Faraó, Moisés argumentou: “Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Deixa ir o Meu povo, para que Me celebre uma festa no deserto” (Êx 5:1). A resposta ousada veio na hora: “Quem é o Senhor para que Lhe ouça eu a voz e deixe ir a Israel? Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir Israel” (Êx 5:2).

O néscio diz no seu coração que não há Deus (Sl 14:1). Mas pior do que assumir essa negação interiormente é enfrentar e desafiar abertamente o Todo-Poderoso. O ceticismo de Faraó teve resultados terríveis. Deus utilizou argumentos cada vez mais fortes, chegando às últimas consequências para dissuadi-lo da sua teimosia. Ele usou o “megafone” da dor.

O sofrimento

É quase unânime o pensamento de que o maior obstáculo à crença em Deus tem a ver com a presença do mal e do sofrimento no mundo. Como entender as tragédias diante da existência de um Ser onipotente e amoroso? Talvez seja esse o ponto principal levantado pelos ateus. A teologia, já de longa época, vem aperfeiçoando a chamada teodiceia, ou a coexistência do Deus bondoso e todo-poderoso com o mal. Devemos deixar bem claro que Deus não é um masoquista cósmico, o autor das tragédias e sofrimentos no mundo. Sabemos muito bem que o pecado, mediante a atuação de Satanás, é o responsável por todo o pesar no Universo. Na Terra, vivemos no meio do grande conflito em que as forças do bem e do mal se digladiam. Na dinâmica do grande conflito, revela-se o caráter de Deus e de Seus seguidores e o de Seu arqui-inimigo e seguidores.

“O mesmo sol que derrete a cera endurece o barro.” Por meio das aflições, certas pessoas se voltam ainda mais para Deus; outras, infelizmente, acentuam sua revolta e rebelião. Se houve um homem com boas razões para se tornar ateu revoltado, este seria o patriarca Jó. Ele enfrentou dores físicas e psicológicas injustificáveis e inexplicáveis; manteve-se, contudo, firme na sua confiança em Deus (Jó 13:15). Escolheu derreter-se como cera diante do sofrimento, saindo de sua deplorável situação com uma compreensão bem mais ampliada do caráter divino. Seus amigos “consoladores” lhe apresentaram muitos argumentos teóricos. Nenhum deles serviu naquela hora. Jó estava mesmo era salvaguardado na experiência pessoal que mantivera com Deus ao longo da vida, sendo sua fé recompensada com a presença do próprio Senhor.

Deus também Se revelou a Faraó. Este, no entanto, resolveu ter comportamento contrário ao de Jó, o qual não merecia sofrer, mas reteve sua confiança e submissão a Deus. Já Faraó, sendo culpado, atreveu-se a desafiar o Criador, desprezando a oportunidade de perdão concedida. As pragas vieram, então, como consequência do endurecimento voluntário do coração desse líder egípcio. À medida que as desgraças sucediam umas às outras, ele se tornou barro duro e seco, cada vez mais resistente. Nem mesmo os milagres operados por intermédio de Moisés conseguiram abrandar a natureza desse rei.

Diante dos prodígios divinos, Faraó, por escolha, resolveu não crer no Senhor, trazendo males sobre a nação inteira. Os fantásticos argumentos não conseguiram fazê-lo mudar de caminho. Mistério de um duro coração! Não estaria o cético pertinaz do século 21 adotando idêntico “espírito egípcio”? Para a moderna geração incrédula, teria o Senhor uma tática mais eficaz?

O principal argumento de Deus

Todas as exposições utilizadas na defesa de Deus ainda são válidas, apesar de serem fortemente contestadas pela filosofia secular. A natureza argumenta com suas leis maravilhosamente estabelecidas, ao demonstrar o desígnio inteligente do Criador (Sl 19:1-4); mas Deus não declarou ser a natureza Sua testemunha. O Universo, mediante o ajuste fino, parece evidenciar, convincentemente, que há um Supervisor do Cosmos a manter tudo sob controle; porém Deus nunca chegou a afirmar em Sua Palavra que o Universo é a Sua testemunha. O sofrimento, por vezes, amolece alguns corações revoltados; entretanto, as provações também têm efeito contrário noutros indivíduos, tornando-os mais endurecidos.

Existe, contudo, uma “prova” da qual Deus deseja Se valer de forma mais ampla, que nenhuma pessoa verdadeiramente inteligente e sensata deveria refutar. Dessa forma, quando nos confrontarem com a negação de Deus, rejeitando os motivos intelectuais para se acreditar nEle, tomemos em nossos lábios as palavras de Eliú, o amigo de Jó: “Mais um pouco de paciência, e te mostrarei que ainda há argumentos a favor de Deus. De longe trarei o meu conhecimento; e ao meu Criador atribuirei a justiça” (Jó 36:2, 3).

Num dado momento histórico, Deus mostrou da maneira mais clara Sua presença no mundo. O autor de Hebreus concorda: “Havendo Deus antigamente falado [argumentado] muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a Quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo” (Hb 1:1, 2). Por tais versículos, constatamos que a própria Divindade, na forma de ser humano, desceu à Terra como testemunha de Si mesma. Assim, em Jesus Cristo, Deus apelou aos homens, nesses “últimos dias”, fazendo uso do “argumento pessoal”. Jesus foi a defesa mais convincente de Deus. No breve período de Sua vida na Terra, Cristo prestou os mais fortes esclarecimentos acerca do Eterno, desfazendo a escura concepção em torno do caráter divino: “Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo” (Jo 1:9). Realizando obras
miraculosas, Ele viveu e pregou a verdade e o amor de maneira tão profunda que ninguém era capaz de refutá-Lo. Por Jesus, o reino de Deus chegou à Terra, trazendo à humanidade as bênçãos celestiais.

Entretanto, Cristo não está mais entre nós visivelmente. Ascendeu aos Céus, onde agora desempenha a função de Intercessor. Contudo, não deixou a humanidade sem Suas testemunhas visíveis, especialmente comissionadas: os “cristos” humanos. Deus falou claramente em Sua Palavra: “Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor” (Is 43:10). Em outra parte, Ele pronunciou: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5:14). Traduzindo: “Vocês, que creem em Mim, que são Meus seguidores, constituem o Meu argumento vivo. O mundo não tem lido a Bíblia, mas ‘lê’ a vida de vocês. Nestes últimos dias, Eu os envio com a mensagem da salvação. Vocês são Meus braços, mãos, pés e voz. Pelo Meu poder, podem chamar a atenção do mundo, fazendo obras bem maiores que as Minhas” (Jo 14:12).

“Quando vier o Filho do homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lc 18:8). O presente século nos oprime com a descrença, afligindo-nos com “cargas” cada vez maiores (Êx 1:11). Mas quanto mais nos açoitam e oprimem, precisamos nos multiplicar como os hebreus e testemunhar no Egito simbólico, refutando a negação de Deus com a afirmação de Seu amor. Somos uma espécie de carta viva, “conhecida e lida por todos os homens” (2Co 3:2). Se nossa voz se calar ou nossa fé morrer (ou se a “leitura” que fazem de nós for mal interpretada), Deus ficará sem Suas testemunhas humanas. Se nos comportarmos como “ateus cristãos”, pela prática de uma vida incoerente, o Senhor será negado cada vez mais e o mundo continuará no cativeiro do pecado e da descrença.

Assim, somos enviados a uma geração incrédula, tal qual Moisés o foi, para falar em nome do grande EU SOU. Nossa missão é anunciar o êxodo final que conduzirá os fiéis à “Terra Prometida” – a Nova Jerusalém. Se necessário, o Senhor fará prodígios por nosso intermédio, “abrindo o mar Vermelho”, “afogando” a incredulidade e “destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus...” (2Co 10:5).

Qualquer filosofia, seja ateísta ou não, produz sérias implicações para a vida de cada ser humano, afetando-o por inteiro. Acreditar no Ser Supremo, antes de mera teoria, constitui um compromisso prático fundamental para o sentido da existência e o modus vivendi pessoal. Destarte, para os verdadeiramente crentes Deus não é um delírio ou invenção da fé. Se os ateus apressadamente sustentam opinião oposta, precisamos contrafazê-la por meio de todos os argumentos possíveis, especialmente mediante o convincente testemunho cristão. Neste particular, não permita ser um argumento surrado ou refutado pela incredulidade. Torne-se hoje a principal defesa de Deus. Ele conta com você. Que privilégio e responsabilidade ser o argumento vivo de Deus! Diga ao mundo: “De longe trarei o meu conhecimento; e ao meu Criador atribuirei a justiça” (Jó 36:2, 3).

Proclame: “Vou testemunhar!”

(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)