quinta-feira, dezembro 01, 2011

O universo não precisa de deus, diz ateu

[Meus comentário seguem entre colchetes. – MB] É deus! É assim mesmo como se lê no título: em letras minúsculas. Por que eu deveria escrever o substantivo “deus” com um dê maiúsculo, se para mim tal entidade não existe? Por que diferenciar o “deus” único com a sagração de uma maiúscula se, para mim, ele em nada se diferencia dos deuses do panteão greco-romano, dos santos da umbanda e do candomblé, das divindades animistas adoradas pelos antigos egípcios ou por tribos amazônicas e africanas nossas contemporâneas? Sou ateu. Sou agnóstico. Escolha o nome que preferir. Não sou chato. Nunca procurei vender o meu peixe e convencer ninguém a abandonar as suas crenças e a sua fé. É por isso que me incomoda a gana evangelizadora dos tementes a deus [tementes esses que não têm acesso à grande imprensa, como este pregador ateu/agnóstico]. Quantas vezes eu fui obrigado a atender o interfone em pleno sábado à tarde para ouvir a voz de alguma senhora no portão de casa dizendo trazer uma mensagem de conforto ou uma palavra de fé? “Não, obrigado. Não estamos interessados. Nesta casa somos todos ateus”, costumo responder. [Pronto, é só fazer isso. Por que se irritar?]

Intolerante, eu? Sim, eu sei, não precisaria ser grosso. Mas por acaso sou eu quem toca a campainha alheia com o firme propósito de mudar as convicções íntimas do outro? Ser grosso é um atenuante eficaz para afugentar missionários do meu portão, evitando que comecem com a sua arenga evangelizadora. Se eles creem num mundo assombrado pelo demônio, por que eu não deveria fazer uso da sua crença no tinhoso para enxotá-los da minha soleira? [E se esse ateu cresse (com o perdão do trocadilho) possuir informações que poderiam beneficiar as pessoas no que diz respeito à saúde, aos relacionamentos, etc., e guardasse isso para si, não seria egoísta? Não seria mesquinhez crer possuir algo de bom e não querer partilhar isso com os outros? Por que esse articulista ateu julga tão mal as intenções dos crentes, sendo que, sabidamente são justamente os crentes que mais abandonam sua “zona de conforto” para realizar obras assistenciais? Infelizmente, essa rusga dele com os cristãos não é de hoje, como você lerá na nota logo abaixo.]

Argumentar significaria prolongar a conversa e a perda de tempo. E o tempo é o bem mais escasso da vida [para um ateu, de fato, o tempo é o bem mais escasso. Para um cristão, é a vida humana, especialmente a eterna. Por isso o cristão “perde tempo” se preocupando com pessoas como Moon]. Começa-se a perdê-lo no instante em que se nasce. A morte, seguida pelo esquecimento, é o denominador comum da vida. Por que esta é uma ideia tão desconfortável? A vida precisa de um sentido? [Sinceramente, não sei como gente como Moon consegue viver sem um sentido para a existência. Vive pelo prazer e só? Se não há um sentido, nem um referencial moral, “matar ou amar alguém são coisas moralmente equivalentes. Pois em um universo sem Deus, não há bem nem mal – há apenas ‘a realidade nua e crua, a realidade sem valor da existência’ (Sartre), e não há ninguém para dizer se você está certo ou errado” (Em Guarda, p. 39).]

O universo tem 13,7 bilhões de anos. A Via Láctea tem 13 bilhões de anos. O Sol e a Terra têm 4,6 bilhões de anos. Logo depois disso, tão logo a Terra teve condições de abrigar vida, esta evoluiu e prosperou. As evidências mais antigas de vida têm 3,8 bilhões de anos. Por quatro quintos de sua história, a vida na Terra se manteve invisível. Limitou-se ao plano bacteriano, unicelular. Seres complexos, pluricelulares, os ancestrais dos animais e das plantas, evoluíram há, talvez, 800 milhões de anos. [Aqui o ateu manifesta fé cega no naturalismo filosófico (que não pode ser submetido ao crivo do naturalismo metodológico) e no darwinismo hipotético. E critica os crentes...] [...]

Há 70 mil anos o cérebro humano deve ter assumido a sua capacidade plena, armando-nos com a melhor das ferramentas e a pior arma que qualquer predador desejaria: a consciência. Com ela brotaram nossos sonhos, nossas angústias, nossos desejos, nossa inconformidade com a condição humana e nossa busca por um sentido para a vida. [Não tenho fé suficiente para crer nessa narrativa lunática! Se o cérebro humano é o ajuntamento ao acaso de matéria, um amontoado de moléculas que milagrosamente se organizou no quilo e meio de matéria mais complexa do Universo; se o cérebro é apenas isso, por que devo confiar no julgamento que o cérebro de Moon faz da realidade? Por que devo confiar no julgamento de qualquer cérebro? E que vantagem evolutiva a busca por um sentido para a vida nos conferiria? Seria pura perda de tempo e energia! Mas eu sabia que Moon ia escrever o que escreveu a seguir:]

A fé pode ter surgido como uma invenção intelectual que fornecia sentido à vida num mundo infestado por feras e açoitado por desastres naturais. Na luta pela sobrevivência, a evolução da fé e do seu subproduto, a religião, podem ter servido para amalgamar o tecido social, congregando bandos de caçadores indefesos em aldeias e em tribos. [Claro, se não pode vencer o inimigo, encontre uma explicação para ele segundo sua cosmovisão. A fé é inerente ao ser humano, então, como os darwinistas e ateus não podem negá-la, precisam explica-la do ponto de vista naturalista. Vão para a “pré-história” (e sempre coloco “pré-história” entre aspas, pois história somente existe a partir do momento em que há registros escritos dela) com todos os contos-de-fada inerentes a ela, e inventam uma explicação para a emergência da fé: é um subproduto da evolução! Ah, francamente... A evolução explica tudo, desde o adultério, passando pela diminuição do cérebro (e não seu esperado aumento) até o surgimento da religião. Dá-lhe teoria-explica-tudo!]

Pertencer a uma tribo era uma vantagem adaptativa considerável. Os homens caçavam e guerreavam em grupo. As mulheres, também em grupo, colhiam frutas e raízes, cozinhavam, teciam, pariam e cuidavam dos filhos. [...] [E a lengalenga cavernosa de Moon prossegue. Prefiro a prosa humorada do Chesterton.]

Até o século XVI, as explicações para os mistérios da natureza e as respostas para as nossas dúvidas existenciais eram fornecidas com exclusividade pelas diversas religiões, seus dogmas e mitos. Aí, há 400 anos, veio Copérnico. Este foi seguido por Galileo, e depois por Kepler, e então por Newton. A obra destes gigantes tomou das mãos do divino o poder de explicar a natureza. [Caramba! Como Moon consegue ser tão parcial?! Por que omite o fato de que essa tríade de cientistas fundadores do método científico fazia ciência justamente para entender como o Universo foi CRIADO? Copérnico, Galileu, Newton, Leibniz, Pascal e muitos outros eram cientistas cristãos e crentes na Bíblia. Newton foi tremendo teólogo. Com todo respeito, Moon precisa sair do mundo da Lua.]

Hoje sabemos como e quando o universo surgiu [Verdade? Não é o que dizem os cosmólogos]. Desvendamos os segredos da vida [Verdade? Não é o que dizem os biólogos que têm os pés no chão]. Fomos à Lua. Dividimos o átomo. Sabemos que lá longe, o espaço escuro está coalhado por centenas de bilhões de galáxias, cada uma com bilhões de estrelas, em torno das quais há bilhões de planetas.

Se a brevidade com que a vida fincou raízes na Terra é um parâmetro que pode ser generalizado, então o universo está infestado de vida – não necessariamente de vida inteligente [mais uma prova de fé ou de tendências lunáticas; probabilidades sem evidências não provam nada]. Novamente, se as evidências terrestres podem servir de parâmetro, a vida inteligente não seria a norma, mas uma exceção à regra. Por que a inteligência evoluiu na espécie humana há 200 mil anos e não em alguma salamandra que viveu há 270 milhões de anos, no período Permiano, quando a biosfera era tão complexa quanto a atual? [Não ocorre a Moon que a inteligência é inerente aos humanos, posto que são imagem e semelhança do Criador inteligente.]

Na história da vida na Terra, a evolução da consciência é um acidente de percurso. Neste sentido, nós somos privilegiados e vivemos num momento mais do que especial. Não vivemos mais num mundo assombrado pelo demônio. Graças à ciência, o bicho homem descobriu enfim qual é o seu lugar no cosmo [e qual é?]. Se em algum momento nos 4,5 bilhões de anos deste planeta existiram deuses, então eles somos nós. [E Moon chega ao ponto! O ápice do pensamento darwinista que reflete o engano primordial daquele que adora ser tido como inexistente. Lá no Éden, Satanás, usando como médium uma serpente, disse para a primeira mulher: “Sereis como Deus” (Gn 3:5). Hoje ainda o inimigo de Deus se vale de subterfúgios para enganar os incautos. O “médium” dele, agora, são teorias e filosofias que ensinam a mesma coisa: “Sereis como Deus”, com uma variante: “Deus não existe; vocês serão deuses.” Como escreveu William Craig, “se Deus não existir, isso significa que o ser humano e o Universo existem sem um propósito – uma vez que o fim de tudo é a morte – e que vieram a existir sem propósito algum, uma vez que são meras obras do acaso. Em síntese, a vida é algo completamente sem razão. [...] ‘Se Deus está morto, o homem também está’” (Em Guarda, p. 41).]

Ainda assim, entra ano e sai ano, em qualquer região do planeta, em sociedades ricas e também nas menos desenvolvidas, toda a vez que se faz uma pesquisa para tentar aferir o grau de religiosidade de determinado país ou extrato da sociedade, o resultado é sempre o mesmo. Repetidamente, 99% dos entrevistados dizem ter alguma forma de fé ou de espiritualidade, afirmam pertencer a uma religião formal, crer num deus ou em uma entidade criadora. Eles creem na vida eterna, na vida após a morte, em reencarnações, no sobrenatural, em anjos e em demônios.

Consistentemente, só 1% dos entrevistados afirma não ter fé nem religião. São os ateus, os agnósticos, dê o nome que preferir. Muito prazer. [E viva Moon, no alto de sua lua de marfim, considerando-se parte do grupo de 1% das únicas pessoas que, para ele, podem ser chamadas de “consistentes”! E todo o resto da humanidade é composto por gente inconsistente, burra, iludida e boba, termo que Moon omitiu aqui, mas que já usou no passado. Leia a nota abaixo.]

(Peter Moon, Época)

Nota: Moon pode pregar o que quiser, mesmo usando a tribuna do site de uma revista supostamente laica como a Época. O que ele não pode é ser desrespeitoso, como quando chamou de “bobos” os 40% dos norte-americanos que acreditam na historicidade do relato de Gênesis – na verdade, xingou, por extensão, todos os criacionistas bíblicos (confira aqui). Nunca me esqueci desse exemplo de mau jornalismo – sim, porque o que ele escreveu naquela ocasião (1999) foi uma reportagem e não um panfleto ateísta, como é o caso do texto acima. Termino com mais um pensamento de Craig: “Para aqueles que negam que a vida tenha um propósito, a única forma de ser feliz é criando algum propósito para a vida. [...] Esse é o tenebroso veredicto proferido contra o homem moderno. Para sobreviver, ele tem que viver se enganando” (Em Guarda, p. 48, 51). Isso é o que significa viver no mundo da Lua e ter coragem de olhar de cima para baixo para 99% da humanidade.[MB]

Como disse Einstein: “O homem que considera sua vida sem sentido, não é simplesmente um infeliz, mas alguém que dificilmente se adapta à vida.”

Leia também: "A dura vida de uma cristã 'fundamentalista'"