sexta-feira, janeiro 27, 2012

Fé e vida acadêmica

Em 2006, através do Programa Universidade para Todos, iniciei o curso de graduação em Agronomia na Faculdade Assis Gurgacz, situada na cidade de Cascavel, região oeste do Paraná. Como as aulas eram ministradas no período matutino, procurei desenvolver alguma atividade no período da tarde, de forma a obter recursos para custear minhas despesas de moradia e alimentação, já que não morava com minha família. Aproveitando a sugestão de um dos professores, me envolvi com estágio em um laboratório dentro da instituição e participei de alguns projetos de extensão e de projetos de iniciação científica na área de qualidade de alimentos, aproveitamento de resíduos e agrometeorologia.

Como um dos dirigentes do centro acadêmico de agronomia, tive várias oportunidades de testemunhar aos amigos sobre minha fé e do propósito de Deus para o ser humano. De forma indireta, o curso de Agronomia sempre esteve envolvido com as campanhas sociais da Igreja Adventista. No Vida por Vidas, vários alunos aceitaram doar sangue. Durante dois anos consecutivos, o curso foi um dos maiores arrecadadores de alimentos para a campanha do Mutirão de Natal na cidade, conseguindo mais de duas toneladas a cada ano.

No último semestre do curso, tive a oportunidade de assumir a função de analista de laboratório em uma empresa parceira de um dos projetos em que atuei na faculdade. Embora tenha sido uma oportunidade vantajosa no âmbito profissional, havia a incompatibilidade de horários, sendo necessário que eu passasse a estudar no período noturno para dedicar o dia ao trabalho.

Estava prestes a viver um grande desafio, pois na turma noturna, além das aulas teóricas de sexta-feira, havia as aulas práticas que eram ministradas aos sábados durante todo o dia. Procurando evitar transtornos e ainda permanecer fiel, procurei conversar com a direção da instituição para verificar o que poderia ser feito. Em conversa com o reitor, fui informado de que não havia amparo legal que possibilitasse o abono de minhas faltas, no entanto, se eu conseguisse participar em 50% das aulas das disciplinas que tinham aula aos sábados, e caso o professor responsável aceitasse passar atividades extras equivalentes ao conteúdo das aulas que eu faltasse, essas atividades poderiam compor mais 25% de presença na disciplina, ou seja, desse modo eu teria a quantidade mínima de presença exigida pelo Ministério da Educação.

Com essa alternativa, iniciei a conversa com os três professores das disciplinas ministradas às sextas e aos sábados. Como participava de projetos de pesquisa e tinha bom relacionamento com os professores, não houve nenhuma resistência por parte de dois dos três professores. No entanto, o terceiro me informou que não iria colaborar comigo, pois ele não considerava que o aluno poderia desenvolver o conhecimento transmitido participando de apenas metade das aulas, além de argumentar que eu, como estudante adventista, deveria ter escolhido um curso ou instituição de ensino em que os horários de aula não entrassem em conflito com minha fé.

Após faltar nas aulas do primeiro fim de semana, recebi uma mensagem do professor comunicando que em conversa com a direção e com outros professores ele havia resolvido reconsiderar sua decisão e que eu poderia entregar as atividades solicitadas e obter presença com elas. Meus amigos da antiga turma (turma da manhã) não acreditavam no que estava acontecendo; muitos me auxiliaram a realizar as atividades e manifestavam seu espanto ao ver o quanto eu estava disposto a permanecer fiel ao mandamento divino.

No fim do semestre, com todas as presenças necessárias obtidas, fui aprovado com excelência em todas as disciplinas, inclusive aquelas em que assisti apenas 50% das aulas. Na análise das notas finais do curso, fui informado pela coordenação de que havia obtido a terceira maior média geral da turma, faltando apenas 0,5 ponto para ser laureado com a menção honrosa de maior média entre os 110 formandos.

Graças às bênçãos divinas e ao mérito acadêmico conquistado através da participação nos projetos de pesquisa durante a graduação, fui aprovado no processo seletivo para o curso de mestrado em Engenharia Agrícola na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

No ano de 2010, iniciei o mestrado em Engenharia Agrícola, em meio a novos desafios acadêmicos e profissionais, participei de vários eventos com outros pesquisados da Unicamp. Graças a meu comportamento diferenciado, como abstinência de álcool e de carne suína, pude explicar vários dos princípios de saúde ensinados na Bíblia.

Durante uma viagem com um pesquisador doutorando em Engenharia Química, mantivemos um longo diálogo sobre os efeitos dos alimentos industrializados no organismo. Nessa conversa, ele, pela primeira vez, ouviu falar a respeito dos princípios de saúde ensinados pela Igreja Adventista e confirmados pela Bíblia. Foram momentos durante os quais também tive a oportunidade de explicar a ele sobre o surgimento do povo remanescente como cumprimento de parte de uma das profecias bíblicas.

Mais uma vez, por meio do poder do bondoso Deus, estou concluindo o mestrado e já aprovado em primeiro lugar no processo seletivo do curso de doutorado em Engenharia Agrícola da Unicamp. A jornada acadêmica ainda é longa, no entanto, espero poder aproveitar muitas outras oportunidades para apresentar Jesus à comunidade acadêmica e científica.

(Wesley Esdras Santiago é engenheiro agrônomo)