segunda-feira, abril 30, 2012

Globo Ciência fala de “criacionismo”

Por que coloquei a palavra criacionismo entre aspas no título desta postagem? Simples: porque o repórter do Globo Ciência se propôs entender a controvérsia entre criacionismo e evolucionismo, mas não entrevistou sequer um criacionista de fato. Pra falar a verdade, até entrevistou, mas simplesmente dispensou a entrevista. Daqui a pouco eu revelo esse bastidor da matéria. Antes, porém, vou esperar que você assista à reportagem (basta clicar aqui). Em seguida, farei alguns comentários pontuais.

[E então, assistiu? O que achou?] Com todo o respeito aos entrevistados, todos eles embarcaram na “onda” de polarizar a discussão como sendo religião (criacionismo) versus ciência (darwinismo), quando se sabe (ou deveria saber) que ambos os modelos se valem do método científico, mas estão “contaminados” por uma visão filosófica. No caso do criacionismo, é o teísmo bíblico que assume a priori a existência de Deus e interpreta as evidências de design na natureza à luz dessa cosmovisão. No caso do darwinismo, é o naturalismo filosófico, que assume, também à priori, a não existência do sobrenatural e interpreta as evidências de design na natureza como resultado de causas naturais não dirigidas. É verdade que há um esforço conciliatório por parte de alguns darwinistas no sentido de tentar convencer o exército de crentes liberais (como os católicos) de que o darwinismo seria compatível com a religião (tratei desse tema neste texto). E isso é notado nas entrevistas desse programa da Globo, já que todos os pesquisadores admitiram ter algum tipo de “espiritualidade”. Assim, parece que foram escolhidos a dedo.

Outro detalhe (que é recorrente em discussões sobre evolução) é que alguns entrevistados apresentam evidências de diversificação de baixo nível (microevolução) – como o desenvolvimento de resistência a antibióticos por parte das bactérias – como se fossem evidências de macroevolução, ou seja, de que uma “simples célula” teria dado origem a todos os seres vivos que conhecemos. Isso é extrapolação, a partir de dados observacionais, para o campo da metafísica, de hipóteses não comprovadas e não verificáveis.

Mas o pior de tudo nessa reportagem é o que não foi mostrado. A equipe do Globo Ciência entrevistou o geólogo criacionista Dr. Nahor Neves de Souza Júnior, diretor da filial brasileira do Geoscience Research Institute e professor do Unasp, campus Engenheiro Coelho. Nahor falou sobre o criacionismo bíblico a apresentou evidências científicas que dão sustentação a esse modelo. Mas, na hora de editar o programa, os responsáveis simplesmente optaram por descartar a entrevista com um verdadeiro criacionista para colocar no lugar dela a fala de um clérigo católico que apenas apresenta argumentos diluídos advindos de uma visão darwinista teísta que mal compreende do que se trata o verdadeiro criacionismo bíblico. Ou seja: num programa que pretende tratar de criacionismo, o único defensor do criacionismo entre tantos darwinistas é um bispo que, na verdade, não é criacionista! (Ah, detalhe, a doutora em filosofia entrevistada é da Unisinos, universidade jesuíta/católica.)

Assim fica difícil para o público formar opinião sobre o tema, como parecia ser a proposta desse programa da Globo. Assim as pessoas estão sendo é doutrinadas, em lugar de ser esclarecidas. 


Uma coisa é certa: o criacionismo está cada vez mais em evidência, mas a que preço para os criacionistas?

Um vídeo como este (clique aqui) poderia fornecer mais base para reflexão e análise do que os vinte e tantos minutos de reportagem do Globo Ciência.

Michelson Borges