terça-feira, junho 12, 2012

De volta aos braços do Pai

Hoje só consigo olhar pra tantos posts deste blog [Heresia Loira] e perceber o quanto fui tola, o quanto fui infantil. Não leio com raiva, nem me condeno pelas coisas que escrevi, mas muitas coisas leio com tristeza. Era minha opinião e eu tinha todo o direito de dá-la? Claro! Mesmo assim, hoje me entristeço com a cegueira e a amargura que atrasou minha vida. Sim, porque toda essa “cruzada contra a fé” atrasou minha vida e me trouxe cada vez mais confusão. Nós colhemos o que plantamos e eu sei muito bem o que plantei. Tenho certeza de que aqueles que estavam na presença de Deus liam meus escritos e percebiam que eu não estava feliz. A gente percebe essas coisas. Às vezes, por uma sensibilidade grande de discernir o que os outros estão sentindo, por empatia ou porque realmente quem vive com Jesus entende certas coisas que outras pessoas não entendem.

Muita gente diz que eu tentava me convencer de que Deus não existia, que na verdade eu ainda cria. Pode ser verdade mesmo. Não sei, é muita coisa do passado para avaliar e não quero ficar olhando para trás, a não ser como agora, para admitir que eu estava errada e que meus erros me levaram a perder a paz.

Quem me lê, não sabe tudo que passei. Não importa que pareça “testemunho de crente”: fui até ao fundo mais profundo do poço, em muitos sentidos. Tudo porque um dia fui uma nova criatura em Cristo e reneguei tudo isso. Foram sete anos longe de Deus. Sete anos de vacas magras. No início, lááá em 2005, quando larguei a fé, parecia que o mundo se abria cheio de possibilidades diante de meus olhos... PARECIA.

Eu poderia estar morta. Fui livrada da morte muitas vezes. Porque inconsequente eu fui. E apanhei da vida. Apanhei feio. Até o ponto de estar rastejando. Mas sobrevivi para voltar para o meu Senhor. Mais sorte que juízo? Não! Hoje eu sei que não.

“Se não fora o auxílio do Senhor, já a minha alma estaria na região do silêncio. Quando eu digo: resvala-me o pé, a tua benignidade, Senhor, me sustém” (Sl 94:17, 18).

Não posso deixar de agradecer a todos que oraram por mim, que desejaram minha felicidade, não uma felicidade ilusória, daquelas que passam aos primeiros sinais de ressaca física ou moral, não um arremedo de felicidade, mas a felicidade e a paz que excedem todo o entendimento! Muitos leitores deste blog, crentes cheios de sabedoria, se tornaram meus amigos, não me repreendendo por tudo que eu escrevia, mesmo quando eu escrevia coisas duras contra o evangelho. Esses leitores cristãos usaram a internet para plantar sementinhas de amor e perdão em meu coração, alguns usando a caixa de comentários do blog, outros mandando e-mails, me enviando livros, ou até mesmo (tenho certeza disso) “tacando” o joelho no chão e orando por mim!

Podem ter certeza que valeu a pena e que NADA, NADA é impossível para Deus!

Eu vou voltar pra casa do Pai, / Eu quero o amor da casa do meu Pai, / E repousar tranquilo nos braços do meu Pai.

(Juliana Dacoregio, ex-ateia, jornalista e criadora do blog Heresia Loira)


Nota: Prezada conterrânea e irmã Juliana, você fez o que o grande escritor Chesterton recomenda: foi cética até o fim, a ponto de, um dia, duvidar até mesmo de seu ceticismo. É isso o que faz um cético de verdade. Ele segue as evidências (racionais e do coração) levem aonde levarem. Isso apenas mostra o quanto de sinceridade há em você. Quando não conseguia mais crer (pelos motivos que apenas você e Deus conhecem a fundo), não teve vergonha de declarar isso. Mas, quando voltou para os braços de Deus, também não teve receio de dizer para todos, custasse o que custasse, pensassem o que pensassem, que reencontrou a fé. O mundo precisa de mais crentes e ateus sinceros como você. A verdadeira heresia, mostrada por sua experiência, consiste em ir contra as hipocrisias do mundo (da fé ou da falta dela), contra certas convenções tolas, e buscar a verdadeira e autêntica religião, que nos liga a Deus. Continuarei orando por você para que essa sua nova/velha experiência se aprofunde e sua felicidade seja um testemunho vivo de que fomos criados para Ele. Um abraço.[MB]