Uma
série de estudos publicada no periódico Lancet
chama a atenção para um assunto tabu: o suicídio. Segundo um dos artigos, essa
é a primeira causa de morte entre meninas de 15 a 19 anos. Entre os homens, o
suicídio ocupa o terceiro lugar, depois de acidentes de trânsito e da
violência. No Brasil, o suicídio é a terceira causa de morte entre jovens,
ficando atrás de acidentes e homicídios. “As taxas sempre foram maiores na
terceira idade. Hoje a gente observa que, entre os jovens, elas sobem
assustadoramente”, afirma Alexandrina Meleiro, psiquiatra do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. Entre os jovens, a taxa
multiplicou-se por dez de 1980 a 2000: de 0,4 para 4 a cada 100 mil pessoas.
Segundo
o estudo, os adolescentes evitam procurar ajuda por temer o estigma e que
rumores sobre seus pensamentos suicidas se espalhem pela escola. Há outra
mudança no perfil dos que cometem suicídio. O risco, que sempre foi maior entre
homens, tem aumentado entre as meninas. Segundo Meleiro, isso se deve a gestações precoces e não desejadas, prostituição e abuso
de drogas.
O
problema, porém, é negligenciado, como mostram dados da OMS (Organização
Mundial da Saúde). A entidade afirma que os casos de suicídio aumentaram 60%
nos últimos 45 anos e que um milhão de pessoas no mundo morrem dessa forma por
ano. No Brasil, estima-se que ocorram 24 suicídios por dia. O número de
tentativas é até 20 vezes maior que o de mortes.
Segundo
a OMS, pouco tem sido feito em termos de prevenção. Os pesquisadores, da
Universidade de Oxford e da Universidade Stirling, na Escócia, dizem que mais
pesquisas são necessárias para compreender os fatores de risco e melhorar a
prevenção. Uma estratégia é limitar o acesso a meios que facilitem o suicídio,
como armas.
Meleiro
diz ainda que as pessoas costumam dar sinais antes de uma tentativa. “Acredita-se
que perguntar se a pessoa tem pensamentos suicidas vai estimulá-la, mas isso
pode levá-la a procurar ajuda.”
A
psiquiatra da infância e da adolescência Jackeline Giusti, do Hospital das
Clínicas da USP, afirma que é importante prestar atenção a sinais de
automutilação nos adolescentes, porque a prática aumenta o risco de suicídio.
“Professores,
clínicos e pediatras têm que ficar atentos a essa possibilidade e investigar. É
um sinal de que algo não está legal e merece cuidados. Em geral os adolescentes
que se mutilam são deprimidos, têm ansiedade e têm uma dificuldade enorme para
dizer o que estão sentindo ou para pedir ajuda.”
Nota:
Releia o trecho grifado e pense se a solução está mesmo em afastar os jovens de
armas que possam facilitar o suicídio. Isso é paliativo. É preciso atacar as
causas e reconhecer que esta cultura permissiva em que vivemos tem grande
contribuição neste cenário triste. Filmes, novelas, séries, músicas, campanhas
publicitárias (como as do carnaval, no Brasil)
incentivam o sexo sem compromisso e o
comportamento irresponsável, libertino. As pessoas, incentivadas pelos modelos
da mídia e por grupos igualmente influenciados por esses padrões, se consideram
livres para viver como bem entendem (ainda que seja como objetos sexuais) e
depois nem sabem por que se sentem tão mal. Mas a grande imprensa se preocupa
com isso? Ou está mais preocupada com os números de sua audiência que se
convertem em milhões de reais na conta de seus donos?[MB]