“Antigamente”,
as meninas brincavam com bonecas de pano e bebês de plástico, como que
“treinando” para a futura/possível maternidade, a missão mais elevada e nobre de uma mulher. A imaginação corria solta e era tudo
muito mais simples e ingênuo. Com a criação da Barbie, a coisa mudou. O estilo
de vida da boneca esguia, de proporções perfeitas já vem pronto e associa o
sucesso ao dinheiro, à carreira, aos assessórios, ao prazer. Sem contar o fato
de que as medidas da boneca também acabam impondo um padrão de beleza que só se
alcança com muitas horas de academia e muito dinheiro com cosméticos e
intervenções estéticas – ou seja, algo que está ao alcance de poucas
privilegiadas. Há problema em ser bonita e bem-sucedida, do ponto de vista
financeiro/profissional? Nenhum, evidentemente. Mas, quando isso se transforma
no alvo principal de uma vida, aí, sim, há problema.
No
que diz respeito ao aspecto da erotização promovido pela Barbie, a fotógrafa
Patricia Kaufmann, com sua exposição “Sombra Negra”, faz uma crítica bem
interessante. Ela usou uma boneca Barbie como modelo para um ensaio nu,
carregado – como o título da exposição já diz – de luz, sombras e silhuetas. A
exposição fica em cartaz até o dia 15 de setembro, em São Paulo, na galeria
Mônica Filgueiras & Eduardo Machado Galeria. A ideia de Kaufmann foi
justamente discutir os atuais padrões de beleza femininos.
Mas
tem mais. Leia esta nota do site O Fuxico: “A boneca Barbie é conhecida por explorar diversas raças, profissões e
personagens e agora ganhou nova versão: drag queen. Segundo o jornal New York Times, a Mattel convidou os
estilistas Phillipe e David Blond, da grife The Blonds, que criaram o figurino
para o clipe Paparazzi, de Lady Gaga, para confeccionar a nova boneca. A
inspiração foi o próprio Phillipe, que desenvolve um trabalho [sic] como drag
queen, inclusive nos desfiles. Mas, apesar da parceria, a boneca não é batizada
de ‘Barbie drag’. ‘Uma moda divertida e o rock glam foram as regras para essa
roupa maravilhosa’, disse David Blond ao New
York Times. A nova boneca, que tem estreia prevista para dezembro, usa um
vestido de diamantes, saltos e acessórios, além dos cílios enormes. ‘Uma das
grandes coisas sobre a Barbie é que ela continua indo além. Barbie não se preocupa com o que as outras
pessoas pensam’, disse a vice-presidente de marketing da Mattel, Cathy Cline.”
No
trabalho de pós-graduação “A cultura do consumo e a erotização na infância” (p.
13), Ivone Maria dos Santos escreve: “Para alimentar a imaginação das meninas,
diversas versões da boneca [Barbie] são lançadas retratando profissões, tipos
de comportamentos, ditando modas e remetendo à ideia de uma mulher sensual com
cintura fina, seios grandes e diversas trocas de roupas. Influenciando, dessa
forma, ao estereótipo de uma vida padrão a ser seguida, como ter corpo esbelto,
cuidar da aparência, fazer ginástica, uma ideologia nada infantil que também
estimula essas crianças ao erotismo precoce. E não basta
apenas adquirir a boneca, é preciso construir um cenário inteiro, são
acessórios de beleza, carros, casas e uma infinidade de fantasias de consumo.
Para se ter ideia, a Barbie já teve mais de um bilhão de pares de sapatos e
outro bilhão de peças de roupas.”
Michelson Borges