quarta-feira, setembro 12, 2012

Barbie e a erotização das meninas

“Antigamente”, as meninas brincavam com bonecas de pano e bebês de plástico, como que “treinando” para a futura/possível maternidade, a missão mais elevada e nobre de uma mulher. A imaginação corria solta e era tudo muito mais simples e ingênuo. Com a criação da Barbie, a coisa mudou. O estilo de vida da boneca esguia, de proporções perfeitas já vem pronto e associa o sucesso ao dinheiro, à carreira, aos assessórios, ao prazer. Sem contar o fato de que as medidas da boneca também acabam impondo um padrão de beleza que só se alcança com muitas horas de academia e muito dinheiro com cosméticos e intervenções estéticas – ou seja, algo que está ao alcance de poucas privilegiadas. Há problema em ser bonita e bem-sucedida, do ponto de vista financeiro/profissional? Nenhum, evidentemente. Mas, quando isso se transforma no alvo principal de uma vida, aí, sim, há problema.

No que diz respeito ao aspecto da erotização promovido pela Barbie, a fotógrafa Patricia Kaufmann, com sua exposição “Sombra Negra”, faz uma crítica bem interessante. Ela usou uma boneca Barbie como modelo para um ensaio nu, carregado – como o título da exposição já diz – de luz, sombras e silhuetas. A exposição fica em cartaz até o dia 15 de setembro, em São Paulo, na galeria Mônica Filgueiras & Eduardo Machado Galeria. A ideia de Kaufmann foi justamente discutir os atuais padrões de beleza femininos.



Mas tem mais. Leia esta nota do site O Fuxico: “A boneca Barbie é conhecida por explorar diversas raças, profissões e personagens e agora ganhou nova versão: drag queen. Segundo o jornal New York Times, a Mattel convidou os estilistas Phillipe e David Blond, da grife The Blonds, que criaram o figurino para o clipe Paparazzi, de Lady Gaga, para confeccionar a nova boneca. A inspiração foi o próprio Phillipe, que desenvolve um trabalho [sic] como drag queen, inclusive nos desfiles. Mas, apesar da parceria, a boneca não é batizada de ‘Barbie drag’. ‘Uma moda divertida e o rock glam foram as regras para essa roupa maravilhosa’, disse David Blond ao New York Times. A nova boneca, que tem estreia prevista para dezembro, usa um vestido de diamantes, saltos e acessórios, além dos cílios enormes. ‘Uma das grandes coisas sobre a Barbie é que ela continua indo além. Barbie não se preocupa com o que as outras pessoas pensam’, disse a vice-presidente de marketing da Mattel, Cathy Cline.”

No trabalho de pós-graduação “A cultura do consumo e a erotização na infância” (p. 13), Ivone Maria dos Santos escreve: “Para alimentar a imaginação das meninas, diversas versões da boneca [Barbie] são lançadas retratando profissões, tipos de comportamentos, ditando modas e remetendo à ideia de uma mulher sensual com cintura fina, seios grandes e diversas trocas de roupas. Influenciando, dessa forma, ao estereótipo de uma vida padrão a ser seguida, como ter corpo esbelto, cuidar da aparência, fazer ginástica, uma ideologia nada infantil que também estimula essas crianças ao erotismo precoce. E não basta apenas adquirir a boneca, é preciso construir um cenário inteiro, são acessórios de beleza, carros, casas e uma infinidade de fantasias de consumo. Para se ter ideia, a Barbie já teve mais de um bilhão de pares de sapatos e outro bilhão de peças de roupas.”

Michelson Borges