terça-feira, setembro 25, 2012

Espécie de preá ameaçada vive apenas em Florianópolis

Eles são pequenos e vivem num grupo restrito – entre 40 e 60 indivíduos – isolados no arquipélago de Moleques do Sul, a 14 quilômetros da Praia da Ponta do Papagaio, em Palhoça, na Grande Florianópolis. Estes bichinhos da espécie Cavia intermedia ganharam reconhecimento oficial da comunidade cientifica em 1999 e agora aparecem na lista de espécies mais ameaçadas de extinção da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN). A ilha em que vivem os preás tem cerca de dez mil hectares, mas em apenas quatro serve de habitat para os preás. Estudos indicam que o local começou a se afastar do continente há cera de oito mil anos. Período no qual esses animaizinhos foram se adaptando. Ao longo desse período, eles desenvolveram características específicas que os diferenciam dos que vivem no continente: crânio menor, mancha branca no peito e 62 cromossomos – os demais têm 64.

Além disso, devido ao espaço restrito em que vivem, os preás de Moleques são mais tolerantes uns com os outros. A bióloga Nina Furnai, em uma de suas pesquisas, chegou a registrar 17 indivíduos comendo juntos. Esse isolamento também fez com que esses animais ficassem mais mansos, perdendo inclusive a capacidade de reagir diante de uma ameaça.

De acordo com o biólogo Carlos Salvador, esse fator é o que mais contribuí para o real perigo de extinção enfrentado pela espécie. “Se um animal, que possa se tornar um predador, entrar na ilha, os preás não têm a menor condição de se proteger.”

Apesar de ser uma área protegida, Moleques costuma receber visitantes. Segundo Salvador, das 17 vezes que esteve na ilha, em 12 encontrou alguém por lá. O preá de Moleques tem 20% de chance de ser extinto nos próximo cem anos. Dos três níveis de risco, ocupa o mais elevado: criticamente em perigo de extinção.

As Ilhas Moleques do Sul são um conjunto de três ilhas que pertencem ao Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e seu acesso é restrito. Segundo o chefe da unidade de gestão do Parque, Alair de Souza, o local é monitorado pela Polícia Militar Ambiental e quem for pego desembarcando ali responderá por crime ambiental. Souza reforça a importância de as pessoas não irem até a ilha. “O grupo é muito homogêneo geneticamente. Alguém que leve alguma doença para lá, certamente irá levar aquela espécie à extinção.”


Nota: Conforme destacou o amigo Gustavo Fontanella, “é interessante ver a mídia falando em ‘apenas’ oito mil anos de separação entre a ilha e o continente, e que nesse intervalo de tempo já houve diferenciação genética (dois cromossomos a menos), provando que não são necessários milhões de anos para que ocorra mutação/microevolução”.Outro detalhe importante é o isolamento geográfico, que pode promover a predominância de certas características que se tornam exclusivas daquela espécie isolada. Assim, mutações, seleção natural e isolamento geográfico podem, sim, levar a mudanças em dada população, mas jamais serão mecanismos capazes de promover a macroevolução que hipoteticamente levaria à transformação de um preá num morcego, por exemplo.[MB]

Leia também: "O isolamento geográfico do preá de Palhoça" e "Espécie de preá sobrevive sem variedade genética"