O
fim do mundo está na boca do povo. Prova disso é que duas das mais importantes
revistas semanais do Brasil deram destaque ao assunto – no caso da IstoÉ, o tema foi capa. A Veja, revista brasileira de maior
tiragem, publicou a matéria “Faltam poucos dias”, e afirma: “O índice de
fiascos das previsões com data marcada é de 100%. É prudente, contudo, manter a
estimativa em aberto até a próxima sexta-feira, 21 de dezembro. Há rumores de
que o apocalipse [sic] ocorrerá nesse dia, quando se encerra um ciclo do
calendário usado pelos maias, população indígena que ainda hoje habita regiões
da América Central. [...] A associação entre o fim do ciclo maia e a catástrofe
se deve a um escritor pop americano, José Argüelles, que interpretou com fartas
doses de imaginação as antigas escrituras maias num livro publicado em 1987.” Já
se sabe (e eu publiquei aqui) que o calendário
maia não tem nada a ver com o
fim do mundo. “Não há nos registros arqueológicos nada que diga que os
maias esperavam uma hecatombe fantástica em 21 de dezembro de 2012”, diz Veja. Na verdade, há na literatura maia
algo ainda mais curioso (clique aqui e confira).
Segundo
estudiosos entrevistados por Veja,
essa preocupação com o fim do mundo “tende a se acentuar em épocas de grande
ansiedade social, com eventos como crise econômica, guerras e terrorismo. Se o
mundo não acabar nesta sexta-feira, não faltarão profetas dispostos a dar uma
nova chance ao apocalipse”. Com essa última frase, a revista deixa claro um dos
aspectos negativos (entre muitos) dessa agitação toda em torno do fim: o tema
vai sendo desgastado e, quando alguém procura falar a respeito do fim predito na Bíblia, acaba sendo tido como mais um
sensacionalista maluco. Os que acreditavam no fim que não veio acabam perdendo
a fé. Os que não acreditavam reforçam a descrença.
No
quadro “O mundo já não acabou antes”, Veja
comete um erro histórico ao afirmar que William [Guilherme] Miller foi o
“precursor da Igreja Adventista do Sétimo Dia”. Se tivesse escrito que Miller
foi o precursor do movimento
adventista que agitou praticamente todas as igrejas norte-americanas e em
outros continentes, no século 19, estaria correto. O fato é que Miller nunca se
tornou adventista do sétimo dia. Ele era batista. E a Igreja Adventista do
Sétimo Dia nunca marcou datas para a volta de Jesus. A Igreja Adventista foi
organizada em 1863, quase três décadas depois da pregação milerita nos EUA.
Na
matéria “À espera do fim do mundo”, IstoÉ
dedica bem mais espaço ao tema do que as duas páginas de Veja. Na reportagem de nove páginas,
a semanal apresenta o testemunho de várias pessoas que deixaram tudo para viver
em lugares que, segundo elas, estariam livres dos eventos catastróficos que –
também segundo elas – terão lugar no próximo dia 21. O subtítulo diz: “Conheça
brasileiros e estrangeiros que fazem estoque de água, comida e remédios, se
mudaram para cidades consideradas seguras e protegem-se em bunkers para tentar escapar do apocalipse [sic] previsto para a
próxima sexta-feira 21.”
O
texto prossegue: “No Brasil, as pessoas que se preparam para o dia 21 de
dezembro estão quase sempre vinculadas às profecias de algumas lideranças
místicas. A mais forte delas, atualmente, é a do japonês radicado no Brasil
Masuteru Hirota, também conhecido como Professor Hirota. Hoje com 70 anos, ele
fez fama como curandeiro em Atibaia, no interior de São Paulo, e ganhou o
Brasil e o mundo – já foi tema de documentários na Alemanha e na França – nos
últimos meses com estrambólicas previsões do fim dos tempos. Com base em
interpretações duvidosas do suposto fim do calendário maia, ele cravou que 80% da terra habitável do planeta seria destruída
em 21 de dezembro de 2012 por um tsunami que matará nada menos do que seis
bilhões de pessoas. Como todo bom guru, Hirota deu o mapa da salvação. Quem
quiser viver, disse ele, deve se mudar para as cidades de Alto Paraíso ou
Pirenópolis, ambas em Goiás, estocar comida e remédios para dois anos e esperar
o fim de colete salva-vidas.”
Resultado?
“Foi o suficiente para que um grande número de pessoas, o maior e mais
representativo do País quando o assunto é fim do mundo, largasse suas vidas
estabelecidas em suas cidades e rumasse para essas localidades.” A população de
Alto Paraíso, por exemplo, viu os “novos apocalípticos” se somarem ao volumoso
fluxo de turistas e visitantes que já frequentam a localidade no fim de ano. “É
tanta gente nova por aqui que já não reconheço mais os rostos das pessoas que
vejo na rua”, diz o corretor Nilton Kalunga, dono da Kalunga Imóveis e morador
há mais de 20 anos. Neste ano, ele viu suas vendas aumentarem em 110% quando
comparadas às de 2011 graças ao “efeito fim do mundo”.
“Costumamos
receber sete mil turistas nessa época”, diz Fernanda Inês Montes, secretária de
Turismo de Alto Paraíso. Neste ano eles esperam entre 10 mil e 15 mil. “Muitos
chegam bastante assustados, com medo do que pode acontecer”, diz Lucrécia
Lopes, moradora há 15 anos.
Segundo
IstoÉ, “o medo e a ansiedade são a
grande força motriz dos apocalípticos. Para eles, ainda que a Nasa – agência
espacial norte americana – tenha vindo a público desmentir as teorias de fim
dos tempos [embora curiosamente alerte seus funcionários] e até o Vaticano tenha emitido um comunicado oficial
afirmando, categoricamente, que o mundo não acaba na próxima sexta-feira, a
simples possibilidade, embora remotíssima, do fim é mais forte e atropela
qualquer lampejo de racionalidade”.
A
matéria cita mais pessoas (especialmente nos EUA) que estão estocando alimentos
e investindo em bunkers, e menciona o
caso do prefeito de São Francisco de Paula, RS, Décio Colla. Durante este ano,
ele veio a público, em mais de uma ocasião, alertar a população para uma
possível alteração na atividade solar prevista
para o dia 21. “Há risco de tsunamis gigantescos”, diz, fazendo eco a outras
muitas previsões que se misturaram e passaram a se associar à fatídica
sexta-feira 21 de dezembro de 2012.
Sim,
o fim do mundo está na boca do povo, mas no coração o que se vê é medo ou
indiferença (além de deboche ). É bom lembrar que essas falsas profecias são, na
verdade, o cumprimento de uma profecia verdadeira feita por alguém que nunca
errou, Jesus Cristo. Segundo Ele, devemos ter cuidado com os falsos profetas
(cf. Mt 7:15; leia também todo o capítulo 24 de Mateus). O medo do futuro
também é uma predição de Jesus: “Haverá homens que desmaiarão de terror e pela
expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo” (Lc 21:26).
Gostaria
muito que Jesus voltasse na sexta-feira (ou mesmo hoje), mas creio que farei
tranquilamente minha viagem de férias para Santa Catarina e, no dia 22, de
manhã, se Deus assim desejar, estarei apresentando a mensagem no culto da
Igreja Adventista da Barra do Aririú, em Palhoça, onde fui líder no fim dos
anos 1990. Naquela época, dizia-se que o mundo acabaria no ano 2000 (“mil
passará, dois mil não passará”, lembra?). O tempo passou. A data marcada
“furou” e, pelo visto, as pessoas ainda não aprenderam que esse assunto de data
pertence a Deus (Mc 13:32), mas o preparo a cada dia é nossa responsabilidade.
Quando Jesus vier (seja no ano que vem ou daqui a alguns anos) ou quando eu
morrer, quero estar pronto para encontrá-Lo. Essa deve ser nossa maior
preocupação; nosso maior “projeto de vida”.
Michelson Borges
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