Grupos
de ateus estão se mobilizando para impedir decoração natalina em locais
públicos nos Estados Unidos, em um movimento batizado por jornais
americanos de “Guerra ao Natal”. Os ateus formam um grupo pequeno no país - em
que 73% da população é cristã -, mas que tem crescido ao longo dos últimos
anos. Segundo dados de 2012 do Fórum Pew sobre Religião e Vida Pública, 2,4%
dos americanos são ateus - em 2007 eram 1,6 %. Mesmo sendo minoria, eles têm
conseguido vitórias importantes em tribunais americanos - e é na época do Natal
que a briga entre religiosos e secularistas fica mais feroz, com cada um deles
querendo marcar presença nas propriedades públicas.
Em
novembro, uma juíza de Santa Mônica, comunidade costeira de 90 mil habitantes
próxima a Los Angeles, na Califórnia, proibiu toda e qualquer
manifestação natalina em um parque da cidade, quebrando uma tradição de mais de
60 anos.
Na
cidade de Leesburg, no Estado da Virgínia, em uma tentativa de apaziguar
os dois lados, as autoridades decidiram patrocinar uma exibição no gramado do
fórum local durante a época de festas de final deste ano com símbolos seculares
e religiosos. O objetivo da exigência de solicitação formal é evitar que as
exibições fiquem fora de controle e possam se tornar ofensivas. Desde 2009 até
este ano, qualquer grupo podia montar a apresentação que quisesse no gramado do
fórum.
Mas
as exposições dos grupos ateístas começaram a ser consideradas pela comunidade
como muito ofensivas, pois supostamente debochavam das religiões ao promover “entidades”
como a Igreja do Monstro do Espagueti Voador ou exibir um esqueleto vestido de
Papai Noel preso a uma cruz.
Para
a exposição deste ano, o grupo American Atheist preparou uma exposição focada
em ciência, chamada de Science on the Lawn (Ciência no Gramado, em tradução
livre).
Os
grupos ateístas dizem que, embora não tenha havido uma grande vitória judicial
definitiva em favor de sua causa, cada vez mais tribunais locais têm aceitado o
argumento de direito à igualdade no tratamento e respeito dados à sua convicção
secular.
“Ter
um presépio em uma propriedade do governo dá a impressão de que esse promove o
cristianismo, e isso é ilegal, segundo a Constituição”, disse à BBC Brasil
Hemant Mehta, diretor da Foundation Beyond Belief (Fundação Além da Crença, em
tradução livre), organização que promove atividades caritativas baseadas no
humanismo e livres de vínculos religiosos. “O governo não deve tomar lados
quando se trata de crenças religiosas. Lutamos por patriotismo”, diz ele, que
contou que o sucesso recente de grupos ateus talvez se deva a uma mudança de
estratégia nas suas reivindicações na Justiça. “Nos últimos anos, houve uma
mudança na maneira pela qual os ateístas lidam com a exibição de presépios em
espaços públicos. Em vez de fazer o que sempre fazíamos e processar os governos
locais, algo que exige tempo e dinheiro, agora exigimos nossas próprias
exibições nos mesmo espaços.”
Mehta
também acredita que a internet teve um papel importante para aumentar a fileira
dos ateus no país. Ela ajudou aos ateístas a “saírem do armário” e se sentirem
menos intimidados pela tradicionalmente religiosa sociedade americana. “Graças
à internet, hoje as pessoas podem descobrir a verdade [sic] mais rapidamente do
que nunca. É possível pesquisar fatos sobre seu pastor na web mesmo enquanto
você está sentado no banco da igreja assistindo à missa”, disse Mehta à BBC
Brasil.
As
pequenas vitórias dos ateus têm obtido destaque - e críticas - na imprensa
americana. William Becker, advogado de um grupo de igrejas cristãs, disse ao Los Angeles que a decisão da juíza de
Santa Mônica foi “uma vergonha para o Natal”. “Pôncio Pilatos era exatamente o
mesmo tipo de administrador.”
Em
uma recente coluna para o Washington Post,
Charles C. Haynes, diretor do Religious Freedom Education Project (Projeto de
Ensino sobre Liberdade Religiosa, em tradução livre), defende estar na hora de
os ateístas “aceitarem a vitória e ficarem em casa para dar espaço às
celebrações de Natal”.
“Entendo
o porquê de os ateístas quererem assegurar que a religião não seja privilegiada
pelo governo em praça pública. Mas, em certo ponto (e Santa Mônica, sem dúvida,
chegou a esse ponto), táticas agressivas se tornam contraprodutivas e
desnecessariamente divisivas”, diz Haynes.