quinta-feira, janeiro 10, 2013

Dinossauro usava penas para paquerar?

[Meus comentários seguem entre colchetes. – MB] Muita gente já perdeu o respeito pelos dinossauros depois da descoberta de que vários desses bichos eram cobertos de penas. Mas sugerir que essas plumas teriam a mesma função “carnavalesca” do rabo dos pavões já é demais, certo? Pode até ser, mas um novo artigo científico reúne um conjunto considerável de dados para tentar mostrar que, ao menos entre alguns dinos, a paquera consistia em abanar longas penas da cauda em leque, tal como fazem os pavões. A hipótese está num artigo científico assinado por Scott Persons e Philip Currie, da Universidade de Alberta, no Canadá, e também por Mark Norell, do Museu Americano de História Natural. O trio de pesquisadores baseia suas conclusões numa análise detalhada das caudas dos chamados oviraptorossauros, um grupo de dinos bípedes que lembram vagamente emas ou avestruzes, a julgar pelas patas de corredores e pela presença de bicos - e, claro, penas.

Essas características, bem como detalhes mais específicos do esqueleto dos oviraptorossauros, levou alguns cientistas a considerá-los parentes muito próximos das aves modernas - as quais, segundo quase todos os paleontólogos, não passam de um grupo sobrevivente de dinossauros. [Não é porque “quase todos” os paleontólogos advoguem essa ideia que ela seja necessariamente verdadeira. A história da ciência mostra que muitas vezes a unanimidade não é sinônimo de verdade factual. Clique aqui.]

Persons e companhia, após avaliar cuidadosamente os fósseis de oviraptorossauros, não concordam com essa ideia - para eles, algumas das semelhanças podem ter surgido de forma independente nesse grupo de dinos e nos ancestrais das aves modernas, fenômeno conhecido como evolução convergente. [Gostaria que explicassem aspectos bem mais complicados dessa tal “evolução convergente”, como, por exemplo, o desenvolvimento independente de olhos tão parecidos em lulas e em seres humanos (clique aqui) ou mesmo a capacidade do voo, presente em répteis, mamíferos, aves e insetos. Isso seria evidência de “evolução” ou a marca do Criador que teria usado sistemas semelhantes em seres diferentes, mais ou menos como o ser humano faz com bicicletas, motos e automóveis?]

Uma dessas convergências tem a ver justamente com o tamanho e a estrutura da cauda. Tanto os ancestrais diretos das aves quanto os oviraptorossauros sofreram, ao longo do tempo, a perda de vértebras caudais, de maneira que o rabo foi ficando mais curto.

Mais importante ainda, no entanto, foi o aparecimento do chamado pigóstilo - uma maçaroca de vértebras fundidas na extremidade do rabo, que pode ser vista num frango assado inteiro, por exemplo - aquele “bumbum” arrebitado da ave. Nos animais modernos, ambas as características impedem que a cauda atrapalhe o voo, deixando a anatomia das aves mais aerodinâmica.

Persons e companhia, depois de confirmarem, com a ajuda de novos fósseis, que os oviraptorossauros também tinham pigóstilos, puseram-se a usar um programa de computador para simular a musculatura e a capacidade de movimentação da cauda dos animais. [Ou seja, um programa de computador alimentado por hipóteses baseadas num fóssil que dificilmente revelaria os hábitos do espécime.]

Segundo a reconstrução dos músculos dos bichos que eles fizeram, os oviraptorossauros teriam caudas curtas, fortes e extremamente flexíveis. “Eles teriam sido capazes de balançar e torcer suas caudas, para cima e para baixo e de um lado para o outro, com um grau de destreza muscular acima do que se vê na maioria dos outros terópodes [os dinos bípedes e carnívoros] e dos répteis modernos”, escrevem os pesquisadores.

Juntando esse dado com o dado de que penas caudais já foram descobertas em algumas espécies de oviraptorossauros (plumas que, aliás, parecem ter sido listradas), e com o fato de que o pigóstilo poderia servir para “ancorar” leques de penas, o trio argumenta que a musculatura especializada ajudaria os animais a ondular os ornamentos e deixá-los eretos para a apreciação de potenciais parceiras, por exemplo.

Isso, claro, assumindo que o penacho era um adorno usado por machos para cortejar fêmeas, tal como acontece com os pavões atuais. Para ter certeza, no entanto, seria interessante tentar diferenciar os sexos nos fósseis encontrados até hoje e verificar se, de fato, penas caudais eram mais comuns entre machos. [Depois de tanta argumentação em favor da tese, a matéria abaixa o tom e alivia nas tintas. Tudo não passa de mais uma hipótese baseada em dados inconclusivos. “Ficção pré-histórica” para preencher o espaço nas páginas de editoria de ciência e garantir verbas para pesquisa.]


Nota: Conforme me disse um amigo biólogo: “Fico pensando: o caminho da ciência anda meio chato e permeado de coisas inúteis nos tempos atuais.”