sexta-feira, janeiro 25, 2013

Explosão de raios gama pode ter atingido a Terra

Uma explosão de raios gama, a mais poderosa conhecida no Universo, pode ter atingido a Terra no século 8. Em 2012, pesquisadores encontraram evidências de que nosso planeta foi atingido por uma súbita onda de radiação durante a Idade Média, mas ainda não havia clareza sobre que tipo de evento cósmico pudesse ter sido sua causa. Agora, um estudo sugere que a explosão teria sido resultado da fusão de dois buracos negros ou estrelas de nêutrons em nossa galáxia. Essa colisão teria gerado e arremessado para fora uma grande quantidade de energia, segundo pesquisa publicada no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

No ano passado, uma equipe de pesquisadores constatou a presença em nível incomum de um tipo de carbono radioativo - conhecido como carbono-14 - em algumas antigas árvores de cedro-do-japão. Na Antártida, também, houve um aumento nos níveis de uma forma de berílio - berílio-10 - no gelo. Esses isótopos são criados quando uma radiação intensa atinge os átomos na atmosfera superior, o que sugere que uma explosão de energia havia atingido nosso planeta.

Usando dados recolhidos nas árvores e no gelo, os pesquisadores foram capazes de identificar que esse evento teria ocorrido entre os anos 774 d.C. e 775 d.C., mas que sua causa era desconhecida.

A possibilidade de uma supernova (explosão de uma estrela) foi considerada, mas descartada em seguida porque os rastros de um evento como esse ainda seriam visíveis hoje por telescópio.

Outra equipe de físicos norte-americanos recentemente publicou um artigo sugerindo que uma explosão solar extraordinariamente grande poderia ter causado a emissão de energia. No entanto, outros membros da comunidade científica acharam pouco provável que explosões solares fossem capazes de gerar os níveis de carbono 14 e berílio-10 encontrados nas árvores e no gelo.

Agora, pesquisadores alemães ofereceram outra explicação: uma enorme explosão que teria ocorrido dentro da Via Láctea. 

Um dos autores do estudo, o professor Ralph Neuhauser, do Instituto de Astrofísica da Universidade de Jena, disse: “Nós observamos os espectros de curtas explosões de raios gama para estimar se seriam consistentes com a taxa de produção de carbono-14 e berílio-10 - e [achamos] que é totalmente consistente .”

Essas emissões enormes de energia ocorrem quando os buracos negros, estrelas de nêutrons ou anãs brancas (estrelas na fase final de suas vidas, prestes a explodir) colidem - as fusões galácticas levam apenas alguns segundos, mas enviam uma vasta onda de radiação.

“Explosões de raios gama são eventos muito, muito explosivos e enérgicos. Então usamos a quantidade de energia encontrada [na Terra] para estimar a distância do evento”, diz Neuhauser. “Nossa conclusão foi de que era de três mil a 12 mil anos-luz de distância - e isso está dentro de nossa galáxia.”

Embora o evento soe dramático, nossos antepassados medievais podem mal tê-lo notado. Uma explosão de raios gama ocorrida nesta distância teria sido absorvida pela nossa atmosfera, deixando apenas um traço nos isótopos que eventualmente passaram pelo filtro da atmosfera e chegaram às árvores e ao gelo. Os pesquisadores não acham que foi emitida qualquer luz visível.

Observações do espaço sugerem que explosões de raios gama são raras. Elas ocorrem no máximo a cada 10 mil anos e pelo menos uma vez em um milhão de anos em uma galáxia. Neuhauser disse ser improvável que o planeta Terra fosse atingido por outro fenômeno do tipo, mas, caso isso ocorra, deverá ter mais impacto.

Se uma explosão cósmica ocorrer na mesma distância que o evento do século 8, poderia derrubar nossos satélites. Mas se ocorrer ainda mais perto - a apenas algumas centenas de anos-luz de distância - poderia destruir a camada de ozônio, com efeitos devastadores para a vida na Terra. No entanto, essa hipótese, disse o professor Neuhauser, é “extremamente improvável”.


Nota: Pena que o texto não aborda uma consequência óbvia desse tipo de explosão: a bagunça nos “relógios” radioativos. Certamente os resultados de datações por Carbono 14 (e outros) passam a ser ainda menos confiáveis, levando-se em conta que outros tipos de explosão cósmica e mesmo a atividade solar podem alterar as taxas de decaimento.[MB]