quarta-feira, abril 10, 2013

Homoquiralidade: “ouro dos tolos” e o ônus da prova

O ônus da prova. Quem afirma, prova. E quanto maior a alegação, maiores devem ser as provas. Esses são princípios básicos em qualquer lugar, ainda mais em ciência.
Mas na evolução temos o maior exemplo de inversão de ônus da prova que conheço, feita pelo seu “mestre”. Pois Darwin uma vez disse: “Se se pudesse demonstrar a existência de algum órgão complexo que não pudesse de maneira alguma ser formado através de modificações ligeiras, sucessivas e numerosas, minha teoria ruiria inteiramente por terra” (Charles Darwin, Origem das Espécies, p.161). Ou seja, Darwin propõe uma teoria, faz uma tremenda alegação – talvez a maior de todos os tempos –, usa exemplos morfológicos simplistas (leia o capitulo sobre os tentilhões de galápagos em meu web-book) “a la bico de passarinho”, e depois diz o quê? Eu não preciso apresentar provas, quem quiser derrubar minha teoria demonstre que não existem esses caminhos “ligeiros, sucessivos e numerosos” para os órgãos da Vida!

Mas caminhos como esses podem ser propostos aos milhares, infinitas alternativas, portanto, uma inversão de ônus tremenda, bem marota, que para os leigos o fez de bonzinho. E cada vez que alguém refuta uma proposta evolucionista, aparecem três diferentes. Por isso que eu concordo com a afirmação de que a única coisa que evolui mesmo é a teoria da evolução. As outras coisas se diversificam. A teoria da diversificação, pré-programada, essa eu aceito, pois se baseia em fatos. Por isso que você lê os reviews sobre a homoquiralidade e encontra lá propostas as mais diferentes; você refuta uma, aparecem duas...

Por isso que Michael Behe foi genial. Com a complexidade irredutível e com o flagelo bacteriano, o “mascote da TDI”, Behe reestabeleceu a verdade quanto ao ônus da prova, devolvendo-o a quem de direito: aos proponentes da TSE!

Se querem fazer a maior alegação de todos os tempos em ciência, que forças (eletromagnéticas) geraram e moldaram a Vida, aumentando sua complexidade, que provem devidamente, e com uma teoria só, um só caminho, por favor! Pois o órgão que Darwin pediu está agora aqui, diante de nossos olhos, o flagelo!

É interessante ver o total desespero (o desespero aqui é a minha avaliação como químico analisando as explicações naturalistas para a evolução do flagelo) que se abateu sobre os naturalistas com o [estudo do] flagelo. Pois tiveram que abandonar o blá blá blá retórico das explicações “a la bico de passarinho”, a la letras mitológicas A que formou B que formou C (Behe na Caixa Preta de Darwin) para se debruçar em explicar molecularmente, bioquimicamente, ao nível molecular, com Química e Bioquímica, o nanomotor mais espetacular e mais high tech do Universo, o “mascote da TDI”. E aí deu no que deu, coisas como a cooptação de partes “a la Macgyver” de K. Miller, como se com um alfinete e uma tábua de bater carne, ou coisas assim, se pudesse formar uma ratoeira, ou pior, um motor híper mega high tech sincronizado e exigente como o flagelo. Como a que sugere o sistema T3SS, ordens de grandeza menos complexo, como se ao encontrar um astro entre a Terra e a Lua facilitasse a minha tarefa de lá chegar, pulando...

O Flagelo bacteriano e a ratoeira de Behe entraram para a história do debate, e se mantêm firmes e fortes como mais um golpe mortal na cabeça da serpente. Behe tem respondido e desmascarado todas as falácias das refutações do flagelo bacteriano como irredutivelmente complexo, e proposto a la Darwin uma formula de refutá-lo experimentalmente e cientificamente: “Sobre a reivindicação de falseabilidade, um cientista pode colocar uma espécie bacteriana faltando um flagelo sob pressão seletiva, e alimenta-o por dez mil gerações, se o flagelo, ou qualquer material complexo for produzido, minhas reivindicações evidentemente seriam desmentidas.” (Leia aqui uma resposta de Behe sobre sua tese.)


Se quem afirma prova e tem o ônus da prova, quero então perguntar aos “experts” em homoquiralidade que usaram o Evolution Academy para me chamar de tolo – quero me ater a um único ponto e então perguntar – uma única pergunta – a quem afirmou o seguinte: “Pois bem, esta argumentação é falha porque não é necessário que o meio contivesse 100% de L-aminoácidos, já que se tivesse uma quantidade maior que 50% já seria suficiente para que a seleção natural fizesse o restante.”

A pergunta é simples: A seleção natural, ela, fizesse o restante, mas COMO? E na resposta deste COMO, que deve ser uma resposta grande, muito convincente, pois a alegação foi grande por demais (seleção natural fazendo o restante), será que somente 51% e a “super seleção natural” faria o restante? sugiro que se discutam os seguintes tópicos, que vou procurar resumir em “top 10” (eu teria dezenas):

1. Se a seleção natural é a que está agindo, pré-supomos que a Vida já está em operação, capturando ou produzindo energia, nutrientes e se reproduzindo, em um meio racêmico. Qual seria então em um meio racêmico o mecanismo de codificação para especificar os AA L ou D nas cadeias peptídicas, em cada uma das diversas posições ao longo da cadeia, e em cada síntese repetida e necessária para a Vida e sua reprodução?

2. Se o meio era racêmico, qual foi o fator que causou o desvio do meio dessa
situação, no planeta Terra, e como a Vida pode perceber isso? Qual o mecanismo e o ímpeto de uma Vida que opera já em meio racêmico perceber o pequeno excesso enantiomérico, e reagir a ele?

3. Qual a vantagem evolutiva de uma Vida que opera já em meio racêmico migrar para um ambiente homoquiral? Quem mudou primeiro, os aminoácidos que migraram de L/D para L ou a ribose (via nucleotídeos, eu suponho) que migrou para D?

4. Para a síntese de proteínas, os ribossomos já operavam provavelmente nesse meio racêmico, codificados de alguma forma no DNA desse bicho racêmico, ou a síntese de proteínas ainda era dirigida por fitas de RNA autorreplicantes? Não se esqueça aqui da seleção natural, que faria o restante.

5. Sabemos hoje que o código universal da Vida, que todos os seres vivos usam, com raríssimas degenerações, depende irremediavelmente de todo um sistema funcional interdependente de moléculas altamente sofisticadas e específicas onde suas formas 3D têm papel fundamental, primordial, e não podem de forma alguma ser corrompidas: o DNA com sua dupla hélice, os RNA mensageiros (m-RNA), um conjunto especifico de t-RNA que ajuda a coordenar a síntese proteica nos ribossomos, e vinte enzimas chamadas de aaRS que conectam cada um dos t-RNA a cada um dos L-aminoácidos específicos, e um ribossomo formado, por sua vez, de RNA homoquiral com ribose D e de proteínas homoquirais com AA do tipo L. Algum problema aqui na funcionalidade desse sistema em se mudar a quiralidade da Vida? Se tudo funciona bem em racêmico, por que migrar para homo? Algum problema em se incorporar, sem regras pré-definidas, um único AA D ou uma única ribose D nesse sistema, ou os dois?

6. Se os ribossomos não estavam ainda presentes e atuantes, as proteínas se formavam como? A la nylon, como tem sido proposto no modelo naturalista? Então como se evitar o caos completo que a entrada aleatória de AA L ou D causaria? Como se coordenar a formação exclusiva e repetitiva da mesma proteína, com os AA na sequência certa, e com a presença da quiralidade certa L ou D em cada uma das posições ao longo da cadeia? Com evitar as reações laterais, mortais às vidas, que, lógico, no nylon não são possíveis, mas para os AA, com seus grupos laterias, sim? Como evitar a hidrólise, meio anidro?

7. Como em um meio racêmico ou não enantiomericamente puro pode se garantir a formação da dupla hélice do DNA, essencial para a Vida, a única que conhecemos?

8. Sem Vida não há homoquiralidade e sem homoquiralidade não há vida, isto eu afirmo em meu web-book. Então, se estou errado, quem veio primeiro? A homoquiralidade ou a Vida? Não bastaria separar, teríamos que selecionar.

9. Por que, então, a Vida escolheu L para AA e D para a ribose, e como ela fez isso para dar a partida?

10. Em 2001, durante meu período de transição entre um evolucionista teísta para um inteligentistas, publiquei este artigo: “Chiroselective self-directed octamerization of serine: Implications for homochirogenesis” (R. G. Cooks, D. Zhang, K. J. Koch, F. C. Gozzo, and M. N. Eberlin, Anal. Chem. 2001, 73, 3646-3655), que alcançou amplo destaque na academia e na mídia. O artigo foi citado também para me criticar. Pergunto, então, se esse artigo, científico, amplamente aceito e muitas vezes citado em reviews de hipóteses naturalistas para a homoquiralidade, pode ser mesmo levado a sério?

Meu respeito a todos aí à procura despreconceituosa da Verdade!

(Marcos Eberlin, no Facebook)