sexta-feira, abril 05, 2013

Mitocôndria: uma nave celular híper mega hightech

Agradeço ao Fabiano pela leitura, pela crítica e pela gentileza acadêmica de me oferecer a réplica [ao texto dele]. Meu adversário de ideias, mas amigo de propósito, o de encontrar a Verdade. Agradeço a ele também por me apontar dois erros em meu texto. Aliás, duas trocas. Uma, troquei ao digitar, coisa que faço nos minutos que me sobram em algumas madrugadas, o ano da observação de Carl Benda (1898) pelo de seu nascimento (1857), dois antes do ano “fatídico”, o ano de 1859. Outra troca, imperdoável, eu sei, a qual não consigo, sinceramente, explicar, foi a de seu sexo. Só consigo apelar para a influência da imensa maioria hoje de mulheres, na Ciência, ainda mais na Química, e em meu laboratório. Afora, porém, essas duas trocas, que vou corrigi-las, certamente, e além de uns “typos das altas madrugadas”, assombrações cibernéticas que me perseguem, o resto reputo impecável, baseado em fatos científicos difíceis de contrapor.

Contrário ao que afirma Fabiano, não afirmei que Carl Benda foi o “descobridor das mitocôndrias”. Pois todos nós sabemos, e assim relatam os historiadores da Ciência, que a “descoberta” e a caracterização bioquímica das mitocôndrias não foram feitos isolados e que possam ser atribuídos, com justiça, a um pesquisador só, em particular. Foi um processo lento e gradual, que levou décadas (não evolutivo, mas de intervenção inteligente), iniciando-se em meados do século 12, pelos atores que Fabiano bem descreveu. Apenas citei a observação que julguei de maior importância, feita por Carl Benda, o “pai que a elas deu o nome”, por acreditar ele que as mitocôndrias funcionariam como os “pilares de sustentação” das células, usando assim as palavras gregas mitos e chondros (“fios de cartilagem”) para descrevê-las. Em sua critica, Fabiano dá, porém, a seu querer, muito mais crédito aos outros, relegando a um segundo plano o papel de quem eu destaquei. Note, porém, que se alguém merece maior crédito pela “descoberta” das mitocôndrias, esse alguém parece ser exatamente aquele que este “ignorante” aqui em história da Ciência destacou. Pois há pelo menos referencias a se citar, em favor dele, se alguém assim o desejasse, como o livro 100 Greatest Science Discoveries of All Time (Libraries Unlimited, 2007), no qual Kendall Haven cita exatamente Carl Benda como o “descobridor das mitocôndrias” (veja o apendix 2, p. 233).

Quanto à minha falha em não citar a teoria apresentada pela Dra. Lynn Margulis para a evolução das mitocôndrias, eu não citei porque meu objetivo não era o de desqualificar teses evolucionistas, que sei existem aos montes (via muita retórica e pouca evidência, muitas vezes nenhuma). Meu objetivo era focar em apresentar os argumentos a favor do Design Inteligente. Porque sei que assim os dados indicam, opto pela TDI!

Mas se me forçam ao contraponto, vou então parafrasear Dawkins em sua entrevista recente a Folha [veja também o comentário aqui]. Eu não citei a tal teoria, pois me recuso, como ele, a respeitar “crenças” contrárias ao “bom senso” científico. Notem que troquei consenso, que em ciência quer disser pouca coisa – quase nada, pois a geração espontânea era um enorme consenso científico, apoiada por toda a nomenklatura científica e por vários papers na Nature e na Science e pelos ancestrais de Dawkins e pelos principais “blogs” da época, quando Pasteur, pelo bom senso científico, a derrubou.

A tal endossimbiose é uma desesperação absurda, um sonho infantil, uma ilusão, que atribui a alguns verdadeiros milagres químicos e genéticos a “criação” dessas organelas hiper mega high tech, no caso, a mitocôndria e seu “primo”, o cloroplasto, como consequência de uma tal “associação simbiótica” estável entre organismos durante o processo evolutivo.

Gente, leiam os artigos que Fabiano citou e avaliem os processos ao nível molecular, se vocês souberem (bio)química - coisa que a evolução espera que não -, e vejam o que seria necessário para esses processos ocorrerem - não o blá blá blá, mas a Química e a Genética necessárias -, e me digam se eu deveria respeitar isso. Vejam quantas mutações benéficas isso requereria, e qual o tempo necessário para elas se fixarem, e lembrem-se de que mitocôndrias parecem ser quase tão ancestrais quanto a vida neste planeta, se não iguais. E vejam quem fala lá que estabeleceu a direcionalidade das mutações, na direção das mitocôndrias. Direcionalidade via processos não guiados, acéfalos, sem propósito ou planejamento futuro, quem fez isso? Só porque são parecidas com uma bactéria, evoluíram dela? Fazem o mesmo com os humanos e os chimpanzés...

Um apelo aqui não ao “deus das lacunas”, o que eu não faço, mas - me permitam a analogia - à “Nossa Senhora Seleção Natural Desatadora de Nós”, daqueles nós químicos, genéticos e bioquímicos, que só a Seleção Natural consegue desatar; aquela santa “loira”, pois acéfala, e despropositada (portanto, desastrada) da evolução; ao “São Tempo das Causas Perdidas”, que Georg Wald disse uma vez faria os “milagres” da evolução tornando causas “inviáveis” em “inevitáveis” – como se pulando, um dia eu pudesse chegar à Lua –, e a um tal “MacGyver nanomolecular”, que eu não sei quem é, mas que lá deveria estar, para juntar todas as partes, simbioticamente, juntinhas e certinhas, e pô-las a funcionar em mitocôndrias; e, mais ainda, em seus primos “verdes”. Haja fé no irracional, fé no inviável, ao nível molecular, fé que desconhece Química e Genética, e Matemática, e fé de um tipo que eu me recuso a ter, e como Dawkins, a respeitar.

Fabiano faz também uma afirmação incorreta, quando tenta justificar que Vida com V poderia dispensar as mitocôndrias. E afirma o que eu não disse, que “o autor (eu) tenta nos convencer de que todos os seres vivos precisam obrigatoriamente de uma mitocôndria”. Pois disse claramente – e lá está no meu web-book para quem quiser conferir: “[mitocôndrias] estão presentes em praticamente todas as células eucarióticas.” Ou seja, o praticamente aqui deixa em aberto espaço para umas poucas exceções, que Fabiano corretamente citou. Mas não obrigatoriamente, mas direta ou indiretamente, sim, as mitocôndrias parecem mesmo indispensáveis à Vida plena – às suas formas plenas –, pois energia é preciso; pergunte a um espermatozoide!

Fabiano, então, tentando justificar seu descrédito à minha tese, menciona dois parasitas do organismo humano, Giardia lamblia e Trichomonas vaginalis, como prova de que Vida com V pode, sim, existir neste planeta sem mitocôndrias. Pois, vejamos, mesmo que isso fosse possível, não refutaria minha tese, pois conhecemos Vida que delas depende, e as possui, e então temos que explicá-las, via processos naturais não guiados ou pela intervenção de uma mente inteligente, estas são as opções. Mas ele citou parasitas, e estes são dependentes de seus hospedeiros, ou não seriam? E no caso aqui, o hospedeiro somos nós, recheados de mitocôndrias “da cabeça aos pés”! Ou seja, se parasita depende do hospedeiro, e se o hospedeiro depende de mitocôndrias, logo o parasita depende de mitocôndrias. Ou não?

Mitocôndrias, repito aqui, são – os dados nos forçam a admitir – um espetáculo hiper mega high tech e indesculpável de inteligência e sofisticação. Coisa de tirar o fôlego, ainda mais para quem consegue visualizá-las ao nível molecular. As mitocôndrias, por exemplo, se movem “a la bondinho do Pão de Açucar”, penduradas em fios proteicos, por rodovias celulares (Figura 1), e impulsionadas por aquele robô nanomolecular, o nanomotor que tem pernas e mãos nanomoleculares – as kinesinas (Figura 2), outro espetáculo indesculpável de DI! E aí querem me convencer de que tudo isso, isso sim uma associação simbiótica real de um nanorrobô molecular com uma usina manomolecular de energia, que em si é recheada de ATP sintases, verdadeiros nano-reatores moleculares, que abraçam as moléculas de ADP e fosfato para formar ATP (Figura 3), um outro espetáculo de design megainteligente, seria tudo isso fruto da ação exclusiva de forças naturais (eletromagnéticas) não guiadas? Eu, um químico, que conheço bem tais forças e sei de seus limites? Você pode crer nisso, mas eu não!


Figura 1. Algumas funções mitocondriais absurdamente inteligentes: (1) movimento dinâmico ao longo de microtúbulos assistido por motores nanomoleculres – kinesinas; (2) o ciclo de Krebs que ocorre na matriz mitocondrial; (3) transaminação de α-cetoglutarato que produz os neurotransmissores glutamato e GABA; (4) a cadeia de transporte de elétrons (ETC); a transferência de elétrons é acoplada com a extrusão de prótons para fora da matriz pelo espaço intermembranar, produzindo um gradiente eletroquímico através da membrana interna de cerca de -200 mV; (5) prótons retornam para a matriz através da ATP sintase, utilizando a energia livre produzida pelo ETC para dirigir a síntese de ATP; (6) homeostase do cálcio e íons Ca2+ sequestrados na matriz sob a forma de um complexo de fosfato reversível.


Figura 2. Os nanorrobôs moleculares, as kinesinas, se locomovendo através das rodovias moleculares. Com nanobraços e nanopernas moleculares. Sabem o que pegar, de onde e para onde levar. Outra evidencia indesculpável de DI na Vida.

Figura 3. A ATP sintase. O menor e mais eficiente nano-motor deste planeta turbinando a usina nanomolecular de produção de energia da Vida.

Mitocôndrias são, assim, um espetáculo hiper mega high tech indesculpavelmente nítido de inteligência e sofisticação, de complexidade irredutível, de informação aperiódica funcional, de antevidência genial. E para as mitocôndrias, as kinesinas, as ATP-sintase, e suas associações simbióticas, todas que recheiam a Vida, a Ciência conhece hoje uma única causa, a gente goste ou não, necessária e suficiente: uma mente híper mega inteligente!