“Aqui
é Brasil, seu safado!”, gritou o jogador identificado pelo apelido L3L3K antes
de assassinar um norte-americano no “DayZ”, game de tiro em primeira pessoa. “Tinha
que ser brasileiro”, reclamou a vítima. No jogo, ambientado em um mundo
pós-apocalíptico apinhado de zumbis, os participantes têm que cooperar para
sobreviver. Mas L3L3K faz parte de um grupo de jogadores que prefere roubar
equipamentos e enganar outros gamers
com o objetivo de “tocar o terror”. Há anos, o comportamento “tóxico” (termo
usado pela indústria) é apontado por jogadores de games de multijogadores como tipicamente brasileiro. “DayZ” é
apenas o alvo mais recente, mas outros títulos, como “Call of Duty”, “World of
Warcraft”, “DotA” e “Minecraft”, entre vários outros, também têm legiões de
arruaceiros brasucas. No fórum do game
“League of Legends”, é possível ler frases como “brasileiros são o submundo dos
games on-line, a personificação do
que é ser troll, o mais infame e
odiado tipo de jogador” e “graças a Deus, abriram servidores brasileiros, assim
eles entram menos por aqui [nos servidores internacionais]”.
O
problema, é claro, não é exclusivo do Brasil. Mas nenhum outro país tem uma
identidade negativa tão forte. Alguns brasileiros, na tentativa de fugir do
estereótipo, mudam a nacionalidade de seus perfis no jogo, a fim de não serem
rechaçados. “Podemos afirmar que esse não é um problema que tem origem no game. O jogador é, no mundo on-line, reflexo de como vive no mundo
real”, diz Julio Vieitez, diretor geral da Level Up! (de games como “Grand
Chase” e “Perfect World”) no Brasil.
“Jogadores
brasileiros em games on-line são uma
gangue, e não um grupo”, disse Isac Cobb, desenvolvedor independente, durante a
feira de jogos PAX East 2013, em Boston, nos EUA. Cobb chegou a cogitar o
bloqueio dos brasileiros no novo jogo, mas disse que ainda não há nada
decidido.
Entre
as reclamações, estão a realização de assaltos, mendicância, ataque a membros
do próprio time e outras atrocidades virtuais. “Curtimos tocar o terror”,
admite Caio Simon, 19, jogador de “DayZ”. “É só um jogo, estamos nos
divertindo. Não é para levar tão à sério.” Esse tipo de jogador é, às vezes,
chamados de “hue”, por causa da risada típica, normalmente disparada após
alguma barbaridade cometida: “HUEHUEHUE.”
Nota:
É lamentável que seja assim. Já não bastasse a “fama” que os brasileiros e as
brasileiras têm na vida real, agora vem esse pessoal piorar as coisas, no mundo
virtual. Muitas vezes, é claro, o estereótipo é infundado (veja aqui); noutras, é a pura
verdade, infelizmente (e me lembro disso toda vez que, em viagem de carro, vejo
um mal-educado jogando uma lata de qualquer coisa pela janela do automóvel). No
fim de semana, eu conversava com um amigo que se formou numa boa universidade
de São Paulo, vai se casar em breve e já está arrumando as malas para se mudar
para o Canadá. Com uma população pequena, o país tem atraído estrangeiros para
trabalhar lá, desde que essas pessoas estejam dispostas a estudar inglês ou
francês e tenham certa formação acadêmica. O país “funciona” bem, os impostos
são justos e praticamente não se ouve falar em corrupção. Chega a dar “inveja”,
e revolta saber que, por falta de valorização aqui, nossos bons cérebros têm
sido convidados a se retirar. Soube até que a Bombardier tem levado embora bons
funcionários da Embraer. Quando este país vai acordar? Se depender dessas
gangues de videogames, nunca.[MB]