quinta-feira, julho 11, 2013

Novo estudo coloca em xeque descoberta de planetas

Nem tudo que reluz é planeta. Um novo estudo acaba de colocar em xeque a descoberta de mundos ao redor de outras estrelas recém-nascidas. Tudo pode não passar de uma ilusão. Antes que alguém se apavore e jogue no lixo sua coleção de planetas favoritos, é preciso enfatizar que isso afeta apenas uma ínfima parcela dos mundos extrassolares anunciados pelos cientistas. A imensa maioria deles (cerca de 900), detectada por outros métodos, segue firme e forte. Os que foram afetados são aqueles inferidos pelo padrão de dispersão de gás e poeira num disco ao redor de estrelas jovens. Sabe-se que planetas se formam em discos como esses, pela aglutinação crescente de grãos de poeira, até que se formem objetos suficientemente massivos para crescer por gravidade.

Em alguns dos discos já observados, os cientistas detectavam vãos - que até o momento eram explicados pela suposta presença de um planeta nas imediações. Contudo, uma série de simulações feitas pelo brasileiro Wladimir Lyra (ganhador da bolsa Carl Sagan, da Nasa) e pelo americano Marc Kuchner mostra que as trilhas vazias podem surgir naturalmente, sem planeta nenhum. Ambos trabalham em centros da Nasa (Lyra é do Laboratório de Propulsão a Jato, e Kuchner é do Centro Goddard de Voo Espacial) e seu estudo acaba de ser publicado na revista científica britânica Nature.

A dupla mostrou que, ao realizar simulações mais complexas, incluindo não só a poeira do sistema, mas também as pequenas quantidades de gás presentes, as trilhas vazias aparecem naturalmente. “Encontramos uma instabilidade de aglutinação que organiza a poeira em anéis estreitos e excêntricos”, escreveram os dois em seu artigo.

É um achado importante, porque, embora os planetas inferidos a partir dos discos sejam poucos, eles eram tidos como a melhor pista da observação de formação planetária “ao vivo”, ajudando assim a esclarecer como se dá esse processo. “Costuma-se usar a detecção desses anéis para sugerir a presença de planetas, e inferir sua massa e órbita”, disse Lyra à Folha. “Eu me ponho do lado cético e acreditarei no planeta apenas quando me mostrarem o dito cujo.”

O trabalho coloca em xeque, por exemplo, a sugestão de que há dois mundos de massa terrestre ao redor da estrela Formalhaut, a mais brilhante da constelação de Peixes.

A dupla, entretanto, é cautelosa em jogar no lixo a ideia dos planetas. “Nosso modelo, apesar de ter a vantagem de não precisar de planetas, precisa de gás. No caso de Formalhaut, não há gás detectado”, conta Lyra. “Mas isso pode ser porque gás é difícil de medir.”

O pesquisador ressalta que outros discos ao redor de estrelas como HD 61005 se encaixam melhor com o modelo novo, que dispensa planetas.


Nota: Como me escreveu um amigo, essa é “mais uma para sempre ficarmos muito atentos às ‘novas descobertas científicas’ que tanto encantam e obscurecem nosso discernimento”. Note as palavras de Lyra: “Eu me ponho do lado cético e acreditarei no planeta apenas quando me mostrarem o dito cujo.” Essa deveria ser a postura de todo cientista, evitando, assim, divulgar dados incompletos ou hipóteses sem evidências, como se fossem fato. O povo sempre acredita, e duvido que essa retificação terá a mesma divulgação das notícias sobre “descobertas” de novos planetas.[MB]