segunda-feira, agosto 05, 2013

Fraude científica e baixaria humanista

Quando estamos na frente de uma figura que consideramos carismática, as áreas do cérebro responsáveis pela vigilância e pelo ceticismo são desligadas. Essa é a conclusão de um estudo que analisou o cérebro de pessoas quando estão na presença de alguém que afirma ter poderes divinos. Pesquisadores da Universidade Aarhus, na Dinamarca, estudaram cristãos pentecostais, que acreditam que algumas pessoas possuem poderes proféticos, de cura e de sabedoria. Usando um aparelho de ressonância magnética, os cientistas analisaram os cérebros de 20 pentecostais e 20 céticos enquanto eles assistiam a cultos. Apenas os devotos tiveram mudanças nas atividades cerebrais em resposta às orações. Partes do córtex pré-frontal, que têm papel fundamental de vigilância e que conferem importância para a informação que outras pessoas nos dão, eram completamente desativadas. Quando quem estava falando não era o pastor ou outro líder religioso, a atividade cerebral dos voluntários diminuía menos.

Para os especialistas isso explica por que algumas pessoas parecem ter mais influência sobre as outras. Não está claro se isso funciona apenas para líderes religiosos, mas os cientistas acreditam que o mesmo aconteça com pessoas com ótima oratória – políticos, advogados, médicos e, até mesmo, nossos pais. (Fonte: Hypescience)

A fraude acima é clara. O estudo, na verdade, testa um fenômeno: “a reação de pessoas diante de figuras de autoridade que usem um tipo específico de retórica”. Tanto que, no último parágrafo, o texto da Hypescience reconhece isso.

O problema é que na hora de seleção das amostras sob investigação, escolheram apenas os religiosos como as pessoas a estarem diante das figuras de autoridade, e os não religiosos como as pessoas a não darem a mínima para essas figuras de autoridade. Daí compararam os dois grupos e concluíram: o cérebro do crente “desliga” na frente dessas pessoas.

Isso já é o suficiente para que matilhas neoateístas comecem a capitalizar em cima da notícia, e é mais uma amostra de como, dentro de instituições aparentemente científicas, é possível implementar instâncias da estratégia gramsciana. Qualquer evento ou ação, por menor que seja, pode ser politizada, desde que um dos lados controle o fluxo das informações.

Alguém poderá dizer que não é fraude, “pois, no final, o texto reconhece que o mesmo efeito pode ocorrer em não religiosos”. Falso. Continua sendo fraude, pois as amostras foram selecionadas para testar apenas os crentes religiosos, mesmo que os pesquisadores já tenham em mente que não é claro se o efeito funciona apenas em crentes religiosos. Quer dizer, os pesquisadores já sabiam que deveriam obter amostras variadas (e não apenas de religiosos) para não ter um estudo enviesado.

Vamos dar um exemplo da fraude. Suponha que em um estudo sobre uma característica pejorativa, o autor selecionasse apenas negros. Isso provaria que negros teriam mais essa categoria pejorativa do que brancos, certo? Errado, pois o fenômeno estudado não deveria estudar uma categoria de pessoas, mas todas as amostras que poderiam estar abarcadas pelo mesmo fenômeno. Por isso, os pesquisadores deveriam ter testado não só 20 crentes na religião tradicional, como também 20 crentes no humanismo, 20 crentes no marxismo, e aí por diante.

Quem estudou propaganda sabe que é muito fácil manipular estudos somente com o controle do fluxo de informações. E qualquer um que usa um fenômeno universal e o maquia para fazer parecer que ele só afeta uma determinada parcela da população está cometendo uma fraude.

O próprio título da matéria é sensacionalista, e foi feito para atrair os neoateus. O objetivo da pesquisa, de produzir evidências contra os religiosos (ao invés de tentar entender a mente humana), mostra que estamos diante de ciência por encomenda.
A baixaria humanista realmente não encontra limites...