terça-feira, agosto 20, 2013

O dilúvio em poesia

Aconteceu, de fato, um dilúvio universal, conforme narrado em Gênesis 6 a 9? A ciência moderna, guiada pelo naturalismo ontológico, interpreta como lenda a Grande Catástrofe (ver 2Pd 3:5, 6). Entretanto, há evidências plausíveis de que esse evento foi real - consequência de um juízo sobre o mundo. Ariel A. Roth, ativo pesquisador e PhD em zoologia pela Universidade de Michigan, elenca algumas dessas linhas de evidência geológica que corroboram o catastrofismo como modelo mais condizente com os fatos:

1. Sedimentos oceânicos nos continentes.
2. Abundante atividade submarina rápida nos continentes.
3. Evidência de correntes em escala continental.
4. Depósitos sedimentários de grande extensão.
5. Lacunas planas nas camadas sedimentárias.
6. Sistemas ecológicos incompletos.
7. Depósitos incomuns de carvão.
8. Dados científicos que desafiam eras geológicas longas.

Além disso, “não é necessário basear-se no relato bíblico para encontrar apoio para a realidade de um dilúvio. O conceito está bem documentado em tradições seculares e na literatura folclórica. Relatos sobre um dilúvio global são seis vezes mais comuns do que os de outros tipos de calamidades globais do passado. No monumental tratado de seis volumes sobre literatura folclórica de Stith Thompson, há 122 referências a um dilúvio global. [...] Alguns tentam explicar que as narrativas do folclore sobre um dilúvio se basearam em numerosos dilúvios locais ocorridos ao longo do tempo, antes que houvesse meios de comunicação que facilitassem a confirmação de eventos globais. No entanto, se houvesse ocorrido tantos eventos locais ao longo do tempo, seria de se esperar que uma grande variedade de causas fosse mencionada. Uma conclusão razoável é que essa abundância de relatos sobre um dilúvio global foi simplesmente o resultado de um dilúvio real de tal magnitude que acabou sendo lembrado por muitos povos. Por essa razão, o relato foi preservado por meio de histórias orais”, conclui Ariel Roth.

Até mesmo a poesia, quem diria, nos lembra desse acontecimento sobrenatural. Em belos versos, Machado de Assis registrou a história do dilúvio:

 O DILÚVIO (1863)

“E caiu a chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites” (Gênesis c. VII, v. 12).

Do sol ao raio esplêndido, / Fecundo, abençoado, / A terra exausta e úmida / Surge, revive já; / Que a morte inteira e rápida / Dos filhos do pecado / Pôs termo à imensa cólera / Do imenso Jeová!

Que mar não foi! que túmidas / As águas não rolavam! / Montanhas e planícies

Tudo tornou-se mar; / E nesta cena lúgubre / Os gritos que soavam / Era um clamor uníssono / Que a terra ia acabar.

Em vão, ó pai atônito, / Ao seio o filho estreitas; / Filhos, esposos, míseros, / Em vão tentais fugir! / Que as águas do dilúvio / Crescidas e refeitas, / Vão da planície aos píncaros / Subir, subir, subir!

Só, como a ideia única / De um mundo que se acaba, / Erma, boiava intrépida, / A arca de Noé; / Pura das velhas nódoas / De tudo o que desaba, / Leva no seio incólumes / A virgindade e a fé.

Lá vai! Que um vento alígero, / Entre os contrários ventos, / Ao lenho calmo e impávido / Abre caminho além... / Lá vai! Em torno angústias, / Clamores, lamentos; / Dentro a esperança, os cânticos, / A calma, a paz e o bem.

Cheio de amor, solícito, / O olhar da divindade, / Vela aos escapos náufragos / Da imensa aluvião. / Assim, por sobre o túmulo / Da extinta humanidade / Salva-se um berço; o vínculo / Da nova creação.

Íris, da paz o núncio, / O núncio do concerto, / Riso do Eterno em júbilo, / Nuvens do céu rasgou; / E a pomba, a pomba mística, / Volando ao lenho aberto, / Do arbusto da planície / Um ramo despencou.

Ao sol e às brisas tépidas / Respira a terra um hausto, / Viçam de novo as árvores, / Brota de novo a flor; / E ao som de nossos cânticos, / Ao fumo do holocausto / Desaparece a cólera / Do rosto do Senhor.

(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)