terça-feira, setembro 24, 2013

O mitológico julgamento de Galileu

Galileu é julgado pelo Santo Ofício
Assim como Jeffrey Burton Russel, em seu livro Inventando a Terra Plana, mostra documentalmente o caráter mítico da ideia de que o “modelo” da Terra plana tenha sido uma invenção de religiosos medievais de mente estreita (confira aqui), em seu artigo “The Galileo Affair” (2005), Paul Newall destrói outro mito histórico passado de geração em geração: o de que a Igreja teria condenado Galileu Galilei por ter ele apresentado uma ideia que teria ido contra as Escrituras. Nos dois casos, os mentirosos são os mesmos e a intenção idem: passar a ideia de que os embates foram da ciência contra a religião. Nada mais falso. A verdade é que Galileu foi condenado pela Igreja, sim, mas com o aval de boa parte dos cientistas da época, que adotavam a visão aristotélica segundo a qual a Terra era o centro do Universo. Portanto, se houve algum embate, foi entre Galileu e Aristóteles e não entre Galileu e a Bíblia (que nada diz a respeito dessa questão). Hoje, os pensadores materialistas, ateus, agnósticos, céticos et al, por meio das escolas e da mídia, continuam alimentando o mito. Por quê? Porque lhes interessa manter a dicotomia ciência versus religião, como se a primeira fosse sinônimo de racionalidade e a segunda, de irracionalidade. Com isso, teorias materialistas como o evolucionismo acabam “blindadas” de discussões, já que, na opinião dos mitômanos, religião e ciência não se misturam. 

A comunidade científica aristotélica do tempo de Galileu, com “dor de cotovelo”, entregou o italiano à fogueira – mas ele foi “somente” condenado à prisão domiciliar porque contava com o respeito do papa, seu amigo.

“O que é erroneamente utilizado pelos cientistas e pela grande mídia como exemplo da ‘razão’ sobrepujando a ‘irracionalidade’ é, na verdade, o inverso: mostra a irracionalidade dos que defendem um paradigma, apesar das evidências contrárias. Isso não lembra a postura da atual comunidade científica em relação a algum paradigma?”, escreveu o mestre em História da Ciência Enézio E. de Almeida Filho.

Em 1992, três séculos após sua morte, Galileu foi “perdoado” pelo papa João Paulo II. Mas os defensores do mito em torno do cientista italiano, esses ainda precisam se arrepender da mentira que vêm contando. Na verdade, quem deveria perdoar a Igreja e os cientistas aristotélicos – se pudesse fazê-lo – é Galileu, pela injustiça de que foi alvo.

Michelson Borges