terça-feira, outubro 15, 2013

Gleiser e sua esperança inviável

Opção pelo "acaso"
Na semana passada, o físico brasileiro Marcelo Gleiser, de 54 anos, concedeu entrevista ao jornal Zero Hora e revelou sua preocupação com alguns dos dilemas éticos que a ciência vai colocar diante de nós nos próximos anos. Também propôs um novo tipo de moralidade, mais abrangente, que batizou de “ética cósmica” e que decorre da possível condição humana de única forma de vida inteligente no Universo. Mas o detalhe que mais me chamou a atenção, mesmo, foi a resposta dada por ele à última pergunta. Leia aqui alguns trechos da entrevista, com meus comentários entre colchetes e um comentário do amigo Tarcísio Vieira, no fim do post. [MB]

Ainda sobre nossa responsabilidade de preservar a vida: o novo relatório sobre mudanças climáticas traça um quadro bastante preocupante. Resta pouca dúvida de que a ação humana está por trás de um processo de aquecimento global que pode causar mudanças dramáticas. Já estragamos tudo? 

De certa forma, sim. O processo de aquecimento global é praticamente irreversível. O que a gente pode fazer é parar agora para tentar minimizar os efeitos no futuro. É possível chegar a isso se houver um esforço planetário para controlar as emissões. Está mais do que na hora. [E assim Gleiser e o ZH dão sua contribuição para manter o clima de alarmismo em torno do assunto. “Temos que parar!” Quem estuda o tema do ECOmenismo já sabe quais são as propostas para “parar”...]

A história da ciência é, sob certo ponto de vista, uma permanente conquista de terreno que pertencia à religião, no que diz respeito a oferecer explicações sobre o mundo. Porém, apesar da aparente vitória, quase todo mundo acredita em divindades, mas poucos são capazes de compreender a ciência por trás de tudo que os cerca. O que isso ensina sobre a relação da humanidade com a razão e com a fé?

A ciência é uma maneira de pensar sobre a vida e sobre o mundo que, de certa forma, é mesmo antagônica à questão religiosa [só para quem não compreende bem a ciência e/ou a religião]. Na religião, o que você não entende você atribui a uma divindade que explica ou que cria [é a velha acusação do “deus das lacunas”, segundo a qual os religiosos seriam pessoas acomodadas que atribuem a uma divindade tudo aquilo que não entendem. Nada mais falso. Fosse assim e os primeiros cientistas, os fundadores do método científico, não seriam quase todos homens profundamente religiosos. A motivação deles para fazer ciência foi justamente entender como Deus havia criado o Universo e como ele funciona. Saber quem fez e procurar se relacionar com Ele não invalida a busca pelo entendimento do como Ele fez]. Na ciência, o que você tem de fazer é duvidar sempre e tentar encontrar respostas que não dependam de ações sobrenaturais [perfeito, pois a ciência é naturalista; mas ela não pode invalidar o estudo de outras realidades que extrapolem seus métodos. Quando a ciência naturalista afirma que tudo surgiu por acaso, está fazendo uma afirmação sobrenatural impossível de ser testeda/verificada e invadindo um domínio que não lhe pertence]. São posições bastante antagônicas. O povo brasileiro, em particular, é bastante espiritualizado. É raro eu dar uma palestra sobre a ciência sem que alguém me pergunte se acredito em Deus ou não.

Pessoalmente, qual é o enigma científico que o senhor mais gostaria de ver resolvido?

Acho que é a origem da vida, como o Universo foi de uma coisa simples para uma coisa mais complexa. [Como me disse um amigo biólogo: se pelo menos o que ele coloca como fato “de uma coisa simples para uma coisa mais complexa” já tivesse sido demonstrado eu já bateria palmas!] De repente, um grupo de moléculas orgânicas interagindo entre si se transforma numa entidade autossuficiente capaz de se reproduzir, ou seja, uma entidade viva [passe de mágica?]. Essa transição do não vivo para o vivo é fascinante [e puramente hipotética, sem nenhum correspondente na natureza]. Se entendermos isso, vamos entender como a vida surgiu [a coisa não é assim tão simples, conforme indica este estudioso]. Outra implicação: se entendermos cientificamente como a vida surgiu, quem acredita que Deus fez a vida vai ter de começar a pensar de novo sobre o que é deus [a arrogância humana não tem limites mesmo... Além disso, Gleiser já parte do pressuposto de que a vida “surgiu”; em nenhum momento ele considera a possibilidade de que ela tenha sido criada. Portanto, independentemente das evidências, ele já tem sua conclusão].

Comentário do biólogo e mestre em Química Tarcísio Vieira: “Novamente, e como sempre, voltamos ao ponto das coisas que seriam ‘logicamente possíveis’. É incrível o poder de alucinação ao qual muitos estudiosos estão submetidos. Se você perguntar a um químico se seria uma boa ideia reciclar os gases que saem do escapamento de um automóvel a fim de transformá-los novamente em combustível, provavelmente iria ouvir algo do tipo ‘isso é logicamente possível, mas quimicamente inviável’. Ninguém, com um mínimo de conhecimento em Química, apostaria nesse tipo solução para um possível esgotamento das reservas de petróleo. Isso porque a transformação de ‘coisas simples’ (os gases que saem do escapamento do automóvel) em ‘coisas mais complexas’ (o combustível que deu origem aos gases) não é algo espontâneo e/ou casual, mas requer um tremendo esforço intelectual e econômico. Empresas não apostam nesse tipo de coisa porque não há, em nenhum lugar (sistema) que se conheça, qualquer indício de que isso seja quimicamente viável. Mas, quando o assunto é origem da vida e evolução, esse tipo de bom senso científico parece desaparecer totalmente. É importante frisar isto: nem tudo o que parece logicamente possível é quimicamente viável. Acho que nosso caro Marcelo Gleiser precisa estudar um pouco mais os princípios fundamentais da Química.”