sábado, dezembro 28, 2013

MEC diz que criacionismo não é tema para aula de ciências

MEC deveria ter outras preocupações
O Ministério da Educação tomou posição no debate relativo ao ensino do criacionismo nas escolas do país. Para o MEC, o modelo não deve ser apresentado em aulas de ciências, como fazem alguns colégios privados, em geral confessionais (ligados a uma crença religiosa). “A nossa posição é objetiva: criacionismo pode e deve ser discutido nas aulas de religião, como visão teológica, nunca nas aulas de ciências”, afirmou à Folha a secretária da Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar. Apesar do posicionamento, o MEC diz não poder interferir no conteúdo ensinado pelas escolas, pois elas têm autonomia. Conforme informou o colunista da Folha Marcelo Leite no último dia 30, o colégio Mackenzie (presbiteriano) adotou neste ano apostilas que apresentam o criacionismo nas aulas de ciências nos anos iniciais do ensino fundamental. Outras escolas, como as adventistas, por exemplo, praticam opção semelhante.

Os criacionistas dizem que o Universo foi criado por um ser superior, assim como os seres vivos. Para eles, a vida é muito complexa para ter surgido sem intervenção sobrenatural. Essa crença se opõe à teoria da evolução desenvolvida por Charles Darwin, presente nas diretrizes curriculares nacionais, segundo a qual todas as espécies provêm de um ancestral único - e, a partir dele, se diferenciaram, chegando à diversidade atual de seres vivos.

O entendimento do MEC é semelhante ao dos pesquisadores contrários ao criacionismo: o modelo não pode ser considerado teoria científica por não estar baseado em evidências (preceito tido como básico para se definir o que é ciência).

“[O ensino do criacionismo como ciência] é uma posição que consideramos incoerente com o ambiente de uma escola em que se busca o conhecimento científico e se incentiva a pesquisa”, afirmou Pilar.

O presidente da Associação Brasileira de Pesquisa da Criação, Christiano da Silva Neto, tem entendimento diferente. Para ele, como não há consenso sobre qual teoria está correta, “a maneira mais justa e honesta de lidar com a questão é apresentar ambos os modelos nas aulas de ciências, dando-se destaque aos pontos fortes e fracos de cada um”.

O criacionismo é ensinado no Colégio Presbiteriano Mackenzie desde 1870, quando a instituição foi fundada. O conteúdo é abordado no sexto ano do fundamental - para crianças com idade por volta dos 11 anos -, assim como a teoria evolucionista.

Neste ano, no entanto, o colégio passou a adotar um novo material nos três primeiros anos do ensino fundamental. São apostilas com conteúdos didáticos convencionais, onde há a explicação criacionista, mas sem a teoria evolucionista.

Segundo o colégio, nessa idade (por volta dos oito anos) os alunos não estão preparados para aprender o darwinismo. O colégio anunciou que alterará o conteúdo das apostilas, abrandando o caráter religioso, mas manterá o criacionismo.

O Pueri Domus Escolas Associadas, uma rede laica que reúne 160 escolas no Brasil inteiro, algumas com orientação católica ou protestante, também apresenta o criacionismo nas aulas de ciências. O conteúdo é exposto com o evolucionismo no oitavo ano do ensino fundamental das escolas. Para Lilio Alonso Paoliel-lo Júnior, diretor de conteúdo da rede associada, o objetivo é promover o debate. “Negativo seria não deixar que a discussão acontecesse. É uma questão de posição pedagógica. O conteúdo é aceito por pais das escolas laicas e das religiosas”, diz o diretor.

A visão também é defendida por Maria Lúcia Callegari, orientadora do colégio Santa Maria (zona sul de SP). “Quando falamos sobre o surgimento da vida, abordamos o criacionismo e o evolucionismo. Trabalhamos com pluralidade na ciência, para romper a ideia de uma verdade absoluta.” Na escola, o conteúdo é ensinado para os alunos do quinto ano do ensino fundamental e, segundo ela, não há reclamação de pais por causa do conteúdo.


Nota: Criacionismo não deve ser ensinado nas aulas de ciência por ser considerado religião. Ok, mas o que dizer de uma teoria que sustenta que todas as formas de vida passaram a existir a partir de um suposto ancestral comum que teria surgido espontaneamente há bilhões de anos, mesmo sem ter evidência conclusiva a respeito disso? Quando se pergunta pela evidência, o que apresentam? Diversificação de baixo nível, alterações em bicos de aves e mutações em bactérias que continuam a ser bactérias. O MEC ajuda a promover uma teoria filosófica (naturalismo filosófico) como se fosse ciência experimental. Se criacionismo é religião, macroevolução é filosofia, e, portanto, também estaria sendo ensinada na matéria errada.

Criacionismo não é baseado em evidências? E o que dizer das evidências de um dilúvio global? O que dizer das evidências de design inteligente – que os descrentes precisam fechar os olhos para não ver? O que dizer da análise da informação genética que jamais poderia ter surgido e se complexificado com o tempo? O que fazer quando as evidências contrárias ao mainstream são simplesmente ignoradas ou reinterpretadas ao bel prazer?

“[O ensino do criacionismo como ciência] é uma posição que consideramos incoerente com o ambiente de uma escola em que se busca o conhecimento científico e se incentiva a pesquisa”, diz a secretária da Educação Básica do Ministério da Educação. Nossa secretária está muito mal informada. Pena que ela desconhece escolas criacionistas como a Universidade Adventista de Loma Linda, na Califórnia, que se caracteriza pela excelência em pesquisa científica. É afirmação muito leviana dizer que o criacionismo não combina com conhecimento científico e pesquisa. Uma pena, para dizer o mínimo...

Fosse tão pernicioso o ensino do criacionismo, escolas como a Mackenzie e a Adventista não seriam conhecidas pelos altos índices de aprovação no vestibular e pela boa qualidade do ensino que oferecem. Em lugar de proibir esse ou aquele conteúdo, o governo deveria se preocupar mais com a qualidade geral do ensino que oferece em suas escolas, cujos alunos todos os anos têm ficado em péssimas posições no ranking de educação mundial (confira). Parece até que o criacionismo está sendo usado como elemento para desviar o foco do verdadeiro problema: salários baixos para os professores, desvio de verbas para a educação, corrupção, etc. [MB]