domingo, junho 30, 2013

"Esse é o legado da Copa"

Uma foto tirada momentos antes da partida entre Brasil e México, em Fortaleza, tem sido compartilhada por milhares de usuários de redes sociais. A imagem foi registrada pelo fotógrafo Edimar Soares, do jornal O Povo, no entorno da Arena Castelão e retrata claramente o abismo social existente no Brasil. Enquanto torcedores caminhavam animados para a partida, uma jovem procurava comida em uma lixeira na entrada do estádio. Sem pensar duas vezes, o fotógrafo registrou a cena impactante. “Esse é o legado que a Copa das Confederações deixa para algumas pessoas, uma cena humilhante”, escreveu Edimar em seu perfil no Facebook. 
(Belo Horizonte de A a Z)

Leia também: "Futebolópio do povo", "Diga não ao futebol, sim à família" e "Descoberta rede de corrupção no futebol"

sábado, junho 29, 2013

Duas refeições: mais uma pesquisa confirma a Revelação

Quem tem problemas com a balança com certeza já ouviu falar que é preciso comer de três em três horas para manter o metabolismo acelerado, e, assim, contribuir para o emagrecimento. No entanto, segundo um estudo apresentado no último domingo (23) na reunião anual da ADA (Associação Americana de Diabetes), em Chicago (EUA), comer duas refeições maiores durante o dia é mais eficaz na perda de peso do que fracionar as refeições. A pesquisa, realizada em Praga, na República Checa, foi feita com 54 pacientes com diabetes tipo 2. Eles foram divididos em dois grupos: em um, as pessoas comiam apenas duas refeições diárias maiores, enquanto no outro, os participantes faziam seis refeições com porções menores.

Durante 12 semanas, os pacientes seguiram uma dieta com a mesma quantidade calórica e de macronutrientes para depois trocar o regime de alimentação, ou seja, quem comeu apenas duas refeições passou a comer seis vezes ao dia. “A dieta prescrita foi rica em fibras e com 500 calorias a menos, já visando ao emagrecimento”, explica Hana Kahleova, uma das cientistas que participou do estudo.

Além de um aumento na perda de peso durante a fase em que só comiam duas vezes ao dia, os pacientes também apresentaram aumento na sensibilidade à insulina e melhora na função das células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina.

Para seguir a dieta corretamente, os participantes receberam tutoriais para aprender a compor o cardápio e em quais horários se alimentar, além de reuniões em grupo e individuais com nutricionistas.

“O resultado do estudo mostra que os pacientes com diabetes tipo 2 devem seguir a máxima de tomar o café da manhã como um rei, almoçar como um príncipe e jantar como um mendigo”, finaliza Kahleova.

De acordo com o endocrinologista da Sociedade Brasileira de Diabetes Antonio Carlos Lerário, é preciso levar em consideração que o estudo foi realizado com poucos pacientes e com uma dieta hipocalórica, que não costuma ser usual para os pacientes diabéticos. “Normalmente a dieta recomendada varia entre 1.000 e 1.500 calorias. Um cardápio  com poucas calorias é mais eficiente para diabéticos ou não, porém mais difícil de ser seguido e requer disciplina e força de vontade do paciente, além de acompanhamento médico”, explica.

Lerário também acredita que é necessário repetir o estudo em outros países para verificar se os resultados encontrados são semelhantes. “Às vezes, quando o estudo é repetido com outra população, os resultados encontrados são diferentes”, justifica.

Ainda que o estudo contrarie a recomendação da maioria dos nutricionistas, Lerário pondera que o resultado da pesquisa deve ser respeitado: “Os pesquisadores usaram parâmetros objetivos, como peso e os níveis de insulina, não foi nada subjetivo. Além disso, o ADA é rigoroso na seleção dos estudos que são apresentados no congresso”, afirma.


Nota: De quando em quando, a ciência confirma detalhes importantes revelados há muito tempo pelo Criador do corpo humano, deixando claro que não vale a pena seguir modismos nutricionais, médicos e comportamentais em detrimento daquilo que Deus mostrou por antecipação. Note o que escreveu Ellen White há mais de um século (detalhe: ela nunca estudou nutrição): “Em muitos casos, a fraqueza que leva a desejar alimento é sentida porque os órgãos digestivos foram muito sobrecarregados durante o dia. Depois de digerir uma refeição, os órgãos que se empenharam nesse trabalho precisam de repouso. Pelo menos cinco ou seis horas devem entremear as refeições; e a maior parte das pessoas que experimentarem esse plano verificará que duas refeições por dia são preferíveis a três” (A Ciência do Bom Viver, p. 304; grifo meu).

Quando me perguntam o que acho desse ou daquele procedimento (nutricional ou médico), como a acupuntura ou a homeopatia, por exemplo, respondo que prefiro ficar com as claras orientações que o Criador nos deixou por meio da Revelação. Ele nos ensinou oito remédios naturais, cuja sábia utilização confere saúde, e são eles: água, ar puro, luz solar, exercício físico, repouso, alimentação natural (de preferência vegetariana), abstinência do que é nocivo e confiança em Deus. Isso sempre funciona e se trata de fatores cujo funcionamento respeita as leis da fisiologia, portanto, são científicos, diferentemente de certas “terapias” que até podem funcionar, mas que geralmente são envolvidas numa aura de mistério.

Na matéria acima, a cientista Hana Kahleova diz que “o resultado do estudo mostra que os pacientes com diabetes tipo 2 devem seguir a máxima de tomar o café da manhã como um rei, almoçar como um príncipe e jantar como um mendigo”. Na verdade, é exatamente isso o que Ellen White ensina em seus livros, com a diferença de que ela diz que todas as pessoas (não apenas as diabéticas) deveriam adotar essa prática.

White ensina que o jantar deve ser leve e feito horas antes de dormir: “Na maioria dos casos duas refeições ao dia são preferíveis a três. O jantar, quando muito cedo, interfere com a digestão da refeição anterior. Sendo mais tarde, não é digerido antes da hora de deitar. Assim o estômago deixa de conseguir o devido repouso. O sono é perturbado, cansam-se o cérebro e os nervos, é prejudicado o apetite para a refeição matutina, o organismo todo não se restaura nem estará preparado para os deveres do dia” (Educação, p. 205).

De minha parte, prefiro continuar seguindo as recomendações do Criador do meu corpo. Elas são mais científicas - e são sempre seguras.[MB]

sexta-feira, junho 28, 2013

A morte da democracia americana

Os últimos acontecimentos nos Estados Unidos relacionados ao monitoramento de dados das pessoas promovido pelo governo despertaram grande preocupação por parte da opinião pública em relação à ameaça à liberdade e à democracia, tão defendidas por essa nação. Um fator que revelou essa preocupação foi o aumento estratosférico de mais de 7000% das vendas do livro 1984 de George Orwell, publicado em 1949.[1] O motivo é porque o livro denuncia de forma detalhada as futuras estratégias dos Estados totalitários na tentativa de restringir a privacidade dos indivíduos, que são bem semelhantes às praticadas pelos Estados Unidos, hoje. O presidente Barack Obama tem sofrido duras críticas por invadir a privacidade dos indivíduos na tentativa de obter dados confidenciais comprometedores. Essa prática de espionagem tem sido encarada como violação declarada dos direitos civis. Essa atitude ameaça de morte o que há de mais importante nessa nação: a democracia.

Sendo os Estados Unidos da América conhecidos historicamente como o país símbolo da liberdade individual e da democracia, por que então essa nação estaria lançando mão de comportamentos típicos dos regimes totalitários? Ao fazer uma reflexão sobre as notícias de violação de privacidade por parte do governo norte-americano, acredito que pelo menos três fatores estão motivando a desconstrução dos sólidos muros democráticos desse país.

A crise

O primeiro fator tem que ver com a crise. A crise de qualquer espécie desmantela qualquer sistema social, político, religioso e econômico sólidos. Marvin Moore, jornalista e escritor, reproduzindo o pensamento do livro The Addictive Organization, salienta que “as crises são usadas para desculpar ações drásticas e equivocadas por parte dos administradores”.[2] Além disso, ressalta também que “quando a norma é a crise, a administração tende a assumir uma quantidade perigosa de poder a cada dia”.

Moore acrescenta ainda, ao citar Michael Barkun, autor da obra Disasters and the Millennium, que “o desastre cria condições especialmente adaptadas à rápida alteração de sistemas de valores”.[3] Sendo assim, como consequência de um desastre ou crise, são muito grandes as chances de um indivíduo ou grupo de pessoas abandonarem antigos valores há muito acalentados. Moore afirma também que “sistemas de crenças que talvez fossem rejeitados em condições livres de desastre, agora recebem consideração favorável”.[4].

Com os ataques de 11 de setembro de 2001, a América se viu mergulhada em uma crise estratosférica de segurança nacional. Diante disso, os líderes norte-americanos se viram obrigados a rever seus conceitos democráticos de liberdades individuais havia muito defendidos. Então, a primeira atitude do governo norte-americano foi lançar mão de um movimento de violação dos direitos civis. Os Estados Unidos passaram a grampear secretamente e-mails e telefonemas de indivíduos sem consulta prévia ou autorização judicial. Os últimos passos nessa direção dados pela política norte-americana foram revelados na mídia recentemente, quando o governo realizou uma “coleta indiscriminada de registros telefônicos de milhões de cidadãos pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês)”.[5]

Fica claro com isso que, a fim de promover a segurança da nação, o governo adotou práticas de regimes totalitários utilizadas no passado e ainda hoje. O “país mais livre do mundo” abriu mão da democracia para agir autoritariamente e até violar os direitos civis há muito defendidos por ele, atestando com isso o óbito da sua democracia.

Monopolização da informação

A monopolização da mídia norte-americana é outro fator que tem facilitado ao governo minar a democracia com suas ações totalitárias. A informação jornalística na mão de poucas corporações está conduzindo a América ao enfraquecimento do debate e ao fortalecimento da alienação popular. Ruben Dargã Holdorf, em seu artigo “O fim da democracia norte-americana: A imprensa leva a culpa”,[6] alerta que “quando as comunicações se aglutinam sob o comando e a orientação de poucos ou somente uma empresa jornalística, ocorre o risco da manipulação”.

Vanderlei Dorneles, em sua obra O Último Império (CPB), acrescenta que “com a Comissão Federal de Comunicação, a legislação rígida sobre imprensa vem sendo alterada”.[7] E hoje, segundo Dorneles, “nada menos que 90% de tudo que os americanos veem, ouvem e leem são produzidos por apenas seis empresas, que no passado foram mil (AOL, Time Warner, Viacom, Disney, General Eletric, News Corporatione Vivendi Universal)”.[8]

Como esse processo de monopolização da informação, que não permite à população ter acesso a diferentes pontos de vista e, com isso, criticar as decisões autoritárias do governo, faz-se com que o risco de morte da democracia desse país seja cada vez maior, a cada dia que passa.

Os ataques preventivos ao inimigo

No passado, sobretudo em 2001, o governo norte-americano iniciou a prática de atacar preventivamente o inimigo. Essas ações têm-se revelado nitidamente como totalitárias. Dorneles revela o pensamento-base desses ataques ao afirmar que, “quando os interesses e a segurança dos Estados Unidos estiverem em questão, eles não hesitarão em ‘agir sozinhos’, referindo-se a uma completa independência em relação aos aliados e às Nações Unidas”.[9]

Hoje, o investimento do Estado Americano está sendo canalizado para uma nova modalidade de ataques preventivos, como os “ciberataques”. Por meio dessa iniciativa, apresentado pelo senador John Edwards, o governo deve fornecer US$ 350 milhões durante os próximos cinco anos para o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologias,[10] a fim de produzir tecnologias de informação mais eficazes no combate ao terror.

Esses ciberataques permitem ao governo invadir ou atacar os computadores de instituições, organizações, empresas e indivíduos suspeitos de terror, isso sem autorização judicial. Assim, mais uma vez, a América se revela uma nação verdadeiramente autoritária, que aos poucos vem minando sua própria democracia.

Conclusão

As ações denunciadas acima, tais como crise, monopolização da informação e os ciberataques têm assustado e acendido um sinal de alerta por parte da população mundial. Contudo, essas ações em direção ao enfraquecimento da democracia norte-americana foram denunciadas pela escritora Ellen White, há mais de cem anos. Em sua obra mais famosa, publicado no fim do século 19, ela alerta de forma contundente sobre as atuais ameaças à liberdade individual, quando diz que “a corrupção política está destruindo o amor à justiça e a consideração para com a verdade; e mesmo na livre América do Norte [...] a liberdade, obtida a tão elevado preço de sacrifício, não mais será respeitada”.[11]

Se essas práticas forem copiadas por outras nações, tendo como justificativa a segurança, poderemos presenciar um ressurgimento do totalitarismo no Ocidente sem precedentes na História.

(Wanderson Vieira da Silva, A Voz do Profeta)

Referências:

1. Disponível em <http://oglobo.globo.com/cultura/venda-de-1984-de-george-orwell-cresce-7000-apos-escandalo-de-espionagem-nos-eua-8653420>;. Acesso em 26 jun. 2013, 14:31:30.
2. MOORE, Marvin. Apocalipse 13: leis dominicais, boicotes econômicos, decretos de morte, perseguição religiosa - isso poderia realmente acontecer?, 1ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 248.
3. Ibidem, p. 251.
4. Ibidem.
5. PACIORNIK, Celso. “Ameaça à Democracia”. [S.I]: Estadão.com.br/Internacional. Disponível em Acesso em 26 jun. 2013, 14:50:40.
6. HOLDORF, Ruben Dargã. “O fim da democracia norte-americana: a imprensa leva a culpa”. Web Site Sala de Prensa: Disponível em Acesso em 26 jun. 2013, 14:41:29.
7. DORNELES, Vanderlei. O último império: a nova ordem mundial e a contrafação do reino de Deus. 1ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2012, p. 160.
8. Ibidem.
9. Ibidem, p. 161.
10. Disponível em <http://idgnow.uol.com.br/mercado/2002/01/29/idgnoticia.2006-05-07Acesso>; Acesso em 26 jun. 2013, 14:45:27.

11. WHITE, Ellen G. O grande conflito. ed. 22. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2009, p. 566.

quinta-feira, junho 27, 2013

Bóson de Higgs: o universo não é natural?

Descobrimos o bóson de Higgs no ano passado, mas ele não é exatamente o que esperávamos. De acordo com alguns físicos, isso significa que o Universo em si não é o que nós pensávamos também. Nima Arkani-Hamed, teórico do Instituto de Estudos Avançados de Princeton (EUA), explica um pouco dos resultados experimentais recentes aparentemente contraditórios do Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), o maior acelerador de partícula do mundo. Segundo ele, a descoberta espetacular do bóson de Higgs em julho de 2012 confirmou uma teoria de quase 50 anos de idade de como as partículas elementares adquirem sua massa – e, por consequência, como elas podem formar grandes estruturas como galáxias e seres humanos. “O fato de que o bóson foi visto mais ou menos onde esperávamos encontrá-lo é um triunfo para a física experimental e um triunfo para a física teórica – é uma indicação de que a física funciona”, disse Arkani-Hamed.

No entanto, para que o bóson de Higgs fizesse sentido com a massa (ou energia equivalente), que foi determinado a ter, o LHC precisava ter encontrado várias outras partículas também. Nenhuma delas apareceu. Com a descoberta de uma única partícula, as experiências do LHC se aprofundam em um problema que a física vem antecipando por décadas.

Equações modernas parecem captar a realidade com uma precisão de tirar o fôlego, prevendo corretamente os valores de muitas constantes da natureza e a existência de partículas como o bóson de Higgs. No entanto, algumas constantes – incluindo a massa do bóson de Higgs – são exponencialmente diferentes do que essas leis confiáveis matemáticas e físicas nos indicam que devem ser, de forma que excluiria qualquer possibilidade de vida, a menos que o Universo seja formado por inexplicáveis afinações (que fazem tudo se encaixar no seu lugar perfeitamente) e cancelamentos.

Isso põe em “perigo” a noção de “naturalidade” de Albert Einstein, de que as leis da natureza são sublimemente lindas, inevitáveis e autossuficientes. Sem ela, os físicos enfrentam a perspectiva dura de que essas leis são apenas um resultado arbitrário e confuso de flutuações aleatórias no tecido do espaço-tempo.

O LHC vai continuar a esmagar prótons em 2015, durante novas pesquisas que ainda tentam procurar respostas. No entanto, não somente Arkani-Hamed, mas muitos outros grandes físicos já estão começando a encarar a possibilidade de que o Universo possa ser antinatural – apesar da divergência sobre o que seria necessário para provar tal coisa.

“Dez ou vinte anos atrás, eu era um crente firme da naturalidade”, disse Nathan Seiberg, físico teórico do Instituto, onde Einstein ensinou de 1933 até sua morte, em 1955. “Agora eu não tenho tanta certeza. Minha esperança é que ainda exista algo que não pensamos, algum outro mecanismo que poderia explicar todas essas coisas. Mas eu não vejo o que poderia ser”, conforma-se.


Nota: Releia, por favor, os trechos grifados no texto acima. Seria esse finalmente um golpe contra o naturalismo, a ideia de que o Universo teria surgido pura e simplesmente, por foças naturais não guiadas? Se o Universo não é natural, teria, então, uma origem sobrenatural (os cientistas evitam esse termo e preferem “antinatural”). Se o Universo depende de “inexplicáveis afinações” para existir, quem teria afinado essas constantes e leis? Note, finalmente, o esforço de Nathan Seiberg para escapar ao óbvio: que o Universo só pode ter sido criado e organizado por Alguém fora e acima dele – Alguém tremendamente poderoso que transcende o espaço, o tempo e a matéria, já que tudo isso passou a existir com o próprio Universo.[MB]

quarta-feira, junho 26, 2013

EUA consideram união homossexual como casamento

A Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou nesta quarta-feira a lei federal que define o casamento apenas como a união entre um homem e uma mulher. A decisão, tomada após uma reunião histórica em Washington, é uma grande vitória para os defensores do casamento entre pessoas do mesmo sexo. A Defense of Marriage Act (DOMA, Lei de Defesa do Casamento), que o tribunal considerou inconstitucional, negava aos casais do mesmo sexo nos Estados Unidos os mesmos direitos e benefícios garantidos aos casais heterossexuais. “DOMA é inconstitucional como a privação da liberdade igualitária das pessoas, que é protegida pela Quinta Emenda da Constituição”, decidiu a Corte em uma votação com o placar de 5 a 4.


Nota: Como já escrevi aqui várias vezes, acredito que os gays têm todo o direito de se unir e de desfrutar dos direitos que esse tipo de união lhes faculta. Mas não têm o direito de se apropriar de um conceito e de uma palavra que pertencem ao universo bíblico e dar-lhe nova interpretação. Casamento é a união entre um homem e uma mulher sob as bênçãos do Criador do casamento. Ponto final. Não se trata de uma lei federal. Trata-se da Palavra de Deus; trata-se de uma instituição que vem lá do Éden. E chama atenção o fato de serem justamente os Estados Unidos – nação majoritariamente protestante – os primeiros a defenderem essa bandeira – tudo em nome da liberdade, ainda que se tenha que contrariar um conceito bíblico. E assim como “derrubaram” uma instituição edênica (casamento heterossexual monogâmico) e a trocaram por uma lei humana (“casamento” homossexual), outra instituição edênica (o sábado) poderá facilmente ser substituída por uma lei humana (decreto dominical). O caminho para isso já está preparado. Em nome da “liberdade”, muitas outras barbaridades serão cometidas por essa nação. Quem viver verá.[MB]

PEC da mudança no Congresso brasileiro


Lei de Reforma do Congresso de 2011 (emenda à Constituição), PEC de iniciativa popular: Lei de Reforma do Congresso (proposta de emenda à Constituição Federal).

1. O congressista será assalariado somente durante o mandato. Não haverá aposentadoria por tempo de parlamentar, mas contará o prazo de mandato exercido para agregar ao seu tempo de serviço junto ao INSS referente à sua profissão civil.
  
2. O Congresso (congressistas e funcionários) contribui para o INSS. Toda a contribuição (passada, presente e futura) para o fundo atual de aposentadoria do Congresso passará para o regime do INSS imediatamente. Os senhores congressistas participarão dos benefícios dentro do regime do INSS exatamente como todos os outros brasileiros. O fundo de aposentadoria não pode ser usado para qualquer outra finalidade.

3. Os senhores congressistas e assessores devem pagar seus planos de aposentadoria, assim como todos os brasileiros.

4. Aos congressistas fica vetado aumentar seus próprios salários e gratificações fora dos padrões do crescimento de salários da população em geral, no mesmo período.

5. O Congresso e seus agregados perdem seus atuais seguros de saúde pagos pelos contribuintes e passam a participar do mesmo sistema de saúde do povo brasileiro.

6. O Congresso deve igualmente cumprir todas as leis que impõe ao povo brasileiro, sem qualquer imunidade que não aquela referente à total liberdade de expressão quando na tribuna do Congresso.

7. Exercer um mandato no Congresso é uma honra, um privilégio e uma responsabilidade, não uma carreira. Parlamentares não devem servir em mais de duas legislaturas consecutivas.

8. É vetada a atividade de lobista ou de consultor quando o objeto tiver qualquer laço com a causa pública.
  
Nota: Recebi por e-mail as propostas acima. Se fossem aplicadas, seria algo mais do que ótimo para o nosso país. Na conclusão do e-mail, o convite: “Se cada pessoa repassar esta mensagem para um mínimo de vinte pessoas, em três dias a maioria das pessoas no Brasil receberá esta mensagem. A hora para esta PEC (Proposta de Emenda Constitucional) é AGORA.”

180 graus, o ponto da virada: minha história

terça-feira, junho 25, 2013

Parafuso de “300 milhões de anos” intriga pesquisadores

Uma expedição de pesquisadores na Rússia realizou uma surpreendente descoberta: um parafuso fossilizado que, após análises, foi datado com idade superior a 300 milhões de anos [segundo a cronologia evolucionista, claro]. Tudo começou no decorrer de 1996, quando um grupo de pesquisadores russos, dedicado ao estudo de fenômenos ufológicos, partiu em busca de fragmentos de um meteorito que caiu na região russa de Kaluga. Eles, contudo, nunca imaginariam o que estavam prestes a encontrar. Em vez de um meteorito, descobriram o fóssil de um parafuso, de aproximadamente dois centímetros de comprimento. Após recolher cuidadosamente as rochas que estavam incrustadas no objeto e depois de analisar com raio x as amostras obtidas, os pesquisadores determinaram que esse parafuso remonta à época em que os répteis começaram a aparecer na Terra, ou seja, há aproximadamente 320 milhões de anos. E o parafuso não estava só, já que dentro das pedras foi encontrado ao menos outro parafuso.

A comunidade científica recebeu esse achado com grande surpresa. Como é possível que uma ferramenta de tecnologia semelhante pudesse existir em uma época em que o homem ainda sequer existia na Terra? Seria um indício de que civilizações avançadas teriam rondado o nosso planeta? As perguntas ainda são muitas e, quem sabe, novas ferramentas de pesquisa nos ajudem em breve a obter algumas respostas.


Nota: Se os pesquisadores conseguissem pensar/ver as coisas de acordo com a ótica criacionista, não precisariam fantasiar que “civilizações avançadas teriam rondado nosso planeta”. Na verdade, civilizações muito avançadas viveram em nosso planeta e conviveram com os dinossauros, há não muito tempo. Isso poderia explicar o fato de ter sido encontrado esse artefato de metal numa rocha datada de supostos milhões de anos. Com o achado na mão, parece que os pesquisadores podem chegar a apenas três conclusões: (1) os métodos de datação estão errados e a rocha pode ser recente, (2) alienígenas inteligentes deixaram cair um parafuso de seu “disco voador”, ou (3) havia seres humanos inteligentes e tecnológicos no passado remoto da Terra. Tudo indica que os pesquisadores preferem optar pela alternativa 2, por mais inverossímil que seja.[MB]

Ainda sobre os protestos no Brasil

Prostituição e direito à saúde

Quase não pude acreditar no post de Pedro Serrano publicado no site da Carta Capital (aqui), a respeito da decisão do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. O ministro teria retirado a campanha “Dia Internacional das Prostitutas” devido à pressão dos evangélicos, segundo Serrano. E o articulista afirma que Padilha errou. Não foi Padilha quem errou, mas o articulista, de forma que minha defesa da decisão de Padilha é mais indireta, pela refutação dos absurdos publicados pela revista. Por que Padilha errou? Segundo Serrano, porque, em primeiro lugar, “não é preciso gastar muito esforço de argumento para afirmar que o Brasil é um país laico”, e ainda porque “questões de saúde pública devem ser tratadas por critérios exclusivamente técnico-científicos. Aspectos de moralidade religiosa não devem interferir em decisões administrativas neste tema”.

Eu diria que “não é preciso gastar muito esforço de argumento” para recusar essa afirmação. Serrano parece não distinguir entre “laicidade” e “laicismo” ou secularismo. Laicidade é o reconhecimento de que o Estado não é confessional, e por isso não pode promover uma religião. Podemos tratar a laicidade como uma categoria política, nesse sentido. Que o Estado se exima de promover qualquer projeto espiritual.

Mas o secularismo não é meramente um conceito político; é um projeto cultural muito mais amplo do que a política, e que entra em choque com as religiões tradicionais exatamente porque oferece uma alternativa espiritual (não é isso o que Alain de Botton vem tentando dizer?). Se não fosse uma alternativa, não entraria em choque. Se entra em choque, é concorrência. É do mesmo tipo.

O Estado que promove ativamente a secularização não é laico; é secularista. O Estado Soviético não era laico; era secularista, e suprimia ativamente não apenas a religião, mas outras expressões morais na sociedade. Pelo bem comum é essencial que os religiosos o protejam de elementos radicais que desejam abusar da política para fazer engenharia social e reeducar a consciência moral da sociedade. Se os secularistas querem promover sua agenda, que construam suas próprias igrejas, como os positivistas franceses no século 19.

Serrano também quer nos fazer acreditar que decisões sobre saúde pública são decisões exclusivamente técnicas, sem fundo moral, o que é um absurdo sob qualquer ângulo; tudo o que concerne ao ser humano tem uma dimensão moral. Se isso vale para tudo em tecnologia, vale ainda mais para o campo da saúde.

A ciência e a técnica não são intrinsecamente más; tornam-se instrumentos perversos em mãos perversas, quando são autonomizadas e em seguida se tornam veículos de uma ideologia desumanizadora e objetificante. Foi uma ideologia desse tipo que articulou os melhores avanços científicos e técnicos da época com a única finalidade de matar gente, na Alemanha Nazista. O fedor dessa compreensão da técnica é sempre o mesmo: a “saúde pública” amoral. Mas não se engane: por trás da desculpa tecnicista sempre há outra coisa. Será que o articulista sabe que outra coisa é essa?

O mais triste é ver essas pobres mulheres usadas uma segunda vez: primeiro, sexualmente, e agora ideologicamente, em uma das mais torpes expressões do secularismo de esquerda.

Nossos padrões morais deverão ser reformados e nossa consciência moral deve ser reeducada por campanhas estatais “laicas”, com base em orientações científicas positivistas e pragmáticas, para garantir que as pessoas se sintam bem, não importa o que fizerem. Uma perfeita distopia Orwelliana – agora na versão hipermoderna.

Com alguma boa vontade, poderíamos supor que ele não é contra a necessidade de considerar a dimensão moral do humano na construção de políticas públicas; ele apenas recusa a moralidade religiosa. Mas nem isso o salvaria. Pois ele é cuidadoso o suficiente para afirmar que “os especialistas” “[...] apontam diversas pesquisas científicas que demonstram que não é possível combater de forma plenamente eficaz o contágio da aids sem a valorização da autoestima das parcelas mais vulneráveis da população”.

Ou seja, a razão por que devemos dizer que as prostitutas são “felizes” é que precisamos aumentar sua autoestima. E precisamos aumentá-la a qualquer custo por razões “científicas”. Mas dizer que alguém pode ser feliz, normal e bem ajustado praticando a prostituição, e equiparando a prática com outras formas de trabalho sadio e honesto é fazer um julgamento moral; é afirmar a neutralidade moral desse comportamento (já que ele em nada corrompe a vontade e a consciência de si no indivíduo), com o único propósito de torná-lo coerente com o interesse “científico”. Ou melhor: é submeter a moralidade à religião do bem-estar sensorial e da afetividade amoral, sob as bênçãos sacerdotais da ciência. É claro que nesse momento o Estado já não é mais meramente “laico”. Nem a ciência, que virou serva da nova religião civil brasileira.

Portanto, segundo o senhor Serrano, nossos padrões morais deverão ser reformados e nossa consciência moral deve ser reeducada por campanhas estatais “laicas”, com base em orientações científicas positivistas e pragmáticas, para garantir que as pessoas se sintam bem, não importa o que fizerem. Uma perfeita distopia Orweliana – agora na versão hipermoderna.

Para Serrano “é um direito das prostitutas contarem com campanhas de prevenção da aids dirigidas especialmente a elas, pois em razão do exercício de suas atividades lícitas estão mais sujeitas que a média da população à exposição ao vírus”. Mas aqui o articulista infelizmente obscureceu o assunto. Pois ninguém negou a essas prostitutas o direito de exercer suas atividades legalmente lícitas, nem de contarem com campanhas de prevenção. O problema não está em termos uma campanha, mas na forma dessa campanha em particular.

O que se nega é que além de terem o direito à “esfera pessoal de liberdade”, os trabalhadores do sexo tenham o direito de receber aprovação moral pelo que fazem. A campanha comunica, implicitamente, que a prática da prostituição é moralmente aceitável. Mas do fato de uma atividade ser legalmente lícita não se infere jamais que essa atividade seja moralmente lícita.

Além disso, o comportamento de risco baseado em uma permissão legal não pode gerar um direito especial. Expressões de liberdade individual que sejam perigosas e ainda moralmente duvidosas não podem ser recompensadas transferindo-se seu ônus para toda a sociedade (já que temos que aceitar o fato e pagar impostos para as campanhas e os tratamentos de saúde). Na mente de Serrano, parece ser correto tratar toda a sociedade como corresponsável por um comportamento que é justificado sobre a base da autonomia individual. Isso só não seria absurdo se toda a sociedade fosse a favor; acontece que ela não é.

Aqui vale o insight de Charles Taylor sobre a atomização da sociedade: precisamos de certo tipo de civilização para produzir o indivíduo autônomo, e toda extensão das liberdades individuais que produza uma contradição com a sociedade e as instituições que tornaram possível a formação desse indivíduo é irracional (veja mais AQUI).

Serrano não poderia perder a oportunidade de alfinetar os fariseus, hipócritas: “A realidade é que muitos homens, inclusive pais de família e até evangélicos, usam dos serviços de prostitutas e como tal funcionam como vetores de transmissão do vírus.”

Isso é verdade, sem dúvida nenhuma. Mas o que se segue logicamente, daqui? Ora, vamos ver: “Pobres batedores de carteira. São presos e tornam-se, na cadeia, criminosos ainda piores, enquanto os grandes ladrões, e especialmente os mensaleiros do PT, estão soltos. Somos todos hipócritas, já que até a polícia se utiliza os seus serviços. Então... soltemos os infratores!” O argumento de Serrano, além de irracional, é um golpe baixo; alegar que estamos todos na lama, e que por isso deveríamos amá-la. Mas do fato de que muitos evangélicos traem seu discurso público utilizando os serviços de trabalhadores do sexo e que sejam vetores de doenças não se infere que a prostituição deva ser considerada aceitável e protegida pelo Estado como uma forma legítima de alcançar a felicidade (é o que a campanha diz, nas entrelinhas).

Seguem-se as invectivas moralistas-seculares de Serrano: defendendo “direitos fundamentais e humanos” depois de demonstrar clara incompreensão sobre a relação entre ciência e moralidade, o jornalista tenta passar de forma sub-reptícia certa paixão moral pela justiça e pelo bem do homem. Não nego que esses sentimentos sejam reais no autor; é que duvido que ele tenha uma base racional para afirmar tais direitos, depois de cuspir toda a sua desinformação atacando o “moralismo religioso” que foi, historicamente, a própria base para a ideia de direitos humanos.

Isto é moralismo: paixão moral sem fundamento racional. Isso é extremamente perigoso, mesmo que venha travestido de um discurso sobre direitos humanos. Trata-se de um arrazoado legalista, que usa uma norma socialmente aceita e inquestionável como trampolim para justificar o vício moral, e apela à letra da lei para produzir uma impressão de valores elevados, mas com intenções absolutamente inferiores. Exatamente o que Jesus atacava nos Fariseus. E assim configura-se essa situação ridícula, de secularistas atacando os manipuladores da religião sem perceber que estão fundando um novo farisaísmo. O farisaísmo do politicamente correto.

No final do texto o articulista afirma que, graças ao STF nossos direitos fundamentais não são “letra morta”; do contrário, “em temas importantes da vida cotidiana estaríamos sujeitos a interpretações medievais da Bíblia e não a valores humanos universais e laicos, traduzidos em direitos, como posto em nossa Constituição”.

Isso é o que C. S. Lewis descreveu como “chauvinismo cronológico”: desprezar ideias só porque são... antigas ou “medievais”! Essa é uma das formas mais comuns de preconceito moderno, e uma das marcas infalíveis de incultura histórica. O que faz o articulista se parecer com o tipo que não conhece nem as interpretações medievais da Bíblia, nem as modernas, e provavelmente confunde as modernas com as pós-modernas.

O fato, no entanto, é que a crítica moral não apenas da prostituição, mas da cultura Queer e de toda a constituição do eros hipermoderno não é meramente resultado de uma leitura medieval da Bíblia; é fruto de uma leitura crítica do presente. Mas eu perguntaria ao articulista: Qual é a sua base racional para acreditar que do mero fato de uma transformação progressiva da sexualidade se depreende um “melhoramento” ou uma “evolução positiva” ou um “progresso”? Por favor, conte-nos de onde saiu esse mito.

Tudo o que se pode dizer, aqui, é que articulistas e jornalistas que desejem interpretar o cristianismo deveriam ler mais a Bíblia e quem sabe comprar uns livros de história e teologia. Na forma em que está, esse discurso pode arrancar vivas entre pares secularistas, mas entre cristãos informados não passa de um círculo minúsculo de argumentos sem sentido.

(Guilherme de Carvalho, Ultimato)

segunda-feira, junho 24, 2013

Preparando os filhos para o futuro

Pais tentam preparar os filhos para o futuro. Buscamos no presente indícios de como será o futuro, imaginamos como será o ambiente em que nossos filhos viverão, e tentamos prepará-los. A novidade é que os esquilos fazem a mesma coisa. Os esquilos vermelhos (Tamiasciurus hudsonicus) vivem no norte dos Estados Unidos e no Canadá, onde o inverno é longo e frio. Cada esquilo vive em um território delimitado, onde coleta as sementes de uma espécie de pinheiro (Picea glauca). No centro do território está o ninho, onde o esquilo estoca as sementes necessárias para sobreviver durante o inverno. Se o esquilo não conseguir estocar alimento suficiente, ele não sobrevive ao inverno.

Um grupo de cientistas vem acompanhando uma comunidade desses esquilos desde 1989. Eles descobriram que a densidade de esquilos na floresta varia muito de ano para ano. O mínimo é de um animal em cada 10.000 metros quadrados e o máximo é de quatro animais na mesma área. A densidade de animais em um dado ano é determinada pela quantidade de alimento disponível no ano anterior. Se em um ano existe muito alimento, a densidade de esquilos aumenta no ano seguinte. Ao contrário do que você pode imaginar, esse aumento não é causado por um aumento no número de nascimentos nos anos em que o alimento é abundante. O aumento é devido a uma diminuição no número de esquilos que morrem por falta de alimento no inverno que se segue a um verão abundante. Imagine que o ano um foi de muito alimento, o dois será de alta densidade, mas como será o ano três? Se houver muito alimento, a densidade populacional pode se manter, mas se o alimento for escasso, e os esquilos não conseguirem estocar alimento, grande parte da população morre e a densidade populacional volta a ficar baixa.

Estudando essa constante flutuação da população de esquilos, os cientistas descobriram um fato que chamou a atenção. Sempre que a densidade da população era alta em um dado verão, o peso dos filhotes ao nascer era maior. Acompanhando o peso dos recém-nascidos por muitos desses ciclos eles descobriram que sempre que a densidade dos esquilos era alta, mesmo quando naquele ano havia pouco alimento, e o inverno iria ser de alta mortalidade, os filhotes eram mais pesados. Em outras palavras o peso dos filhotes dependia somente da densidade da população, e não da disponibilidade de alimentos.

Essa descoberta levou os cientistas a investigar a razão do aumento de peso dos filhotes quando a densidade populacional era alta. Eles descobriram, medindo a quantidade de hormônio nas fezes das mães, que a razão pela qual os filhotes eram mais pesados era porque as mães, em locais de alta densidade populacional, produziam mais hormônios. Mas como essas fêmeas sabiam que estavam em uma área de alta densidade populacional?

Foi aí que os cientistas tiveram a grande ideia. Como os esquilos produzem sinais sonoros, uma espécie de grunhido, os cientistas imaginaram que talvez a quantidade de grunhidos ouvidos pelas fêmeas fosse a maneira usada por elas para “saber” que a densidade populacional estava alta. Para testar a hipótese os cientistas gravaram os grunhidos dos esquilos e espalharam alto-falantes em toda a floresta. Em uma parte da floresta os alto-falantes tocaram pios de pássaros durante todo o verão, em outra parte tocaram os grunhidos dos próprios esquilos, simulando a presença de mais esquilos na região. Quando os filhotes dessas duas regiões nasceram foram cuidadosamente pesados. Na área em que a densidade era baixa e a “música” tinha sido o pio de pássaros, o peso dos filhotes foi baixo. Nas áreas em que viviam as fêmeas que ouviram os alto-falantes tocando os grunhidos dos esquilos, o peso dos filhotes era maior. Quando os cientistas mediram os níveis de hormônios nas mães o resultado se repetiu. As mães que ouviram pássaros tinham baixos níveis hormonais, as que ouviram grunhidos de esquilos tinham altos níveis hormonais.

Esse resultado indica que os esquilos “deduzem” que estão em um ambiente de alta densidade populacional pelo aumento do número dos grunhidos que escutam na redondeza. Se a densidade populacional é alta, eles produzem mais hormônios e os filhotes nascem mais pesados.

Mas por que produzir filhotes mais pesados? É simples e bem conhecido: filhotes mais pesados têm maior chance de sobreviver em seu primeiro inverno. A desvantagem é que eles vivem menos anos.

A conclusão é de que os esquilos, “sabendo” que a densidade está alta, e que a comida no ano que vem pode ser mais escassa, produzem filhotes mais pesados. Se a densidade é baixa, e as chances de fome no ano seguinte são menores, eles produzem filhotes mais leves, capazes de viver um número maior de anos.

Tal como os seres humanos, as mães esquilo usam informações do presente para prever como será o ambiente em que seus filhotes viverão. E ainda no útero preparam os filhos para uma vida melhor. Os esquilos podem não ler jornal, mas tentam entender o presente, imaginar o futuro, e se preparar para enfrentá-lo.

(Fernando Reinach, Estadão)

A revolução já veio

A classe governante do Brasil ficou estupefata com tamanha reação das milhões de pessoas que saíram às ruas para protestar contra os maus serviços prestados. O estopim de todo esse movimento foi o aumento da tarifa no transporte público de São Paulo. O clamor das pessoas ganhou força nas ruas e também nas redes sociais. À semelhança de um “vírus” poderosíssimo, infectou pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo. A reação, tanto na rua quanto na internet, foi diversa. As pessoas clamavam por melhor aplicação dos recursos, para que o Brasil de fato tenha saúde, educação e transporte de qualidade e se torne um País sem corrupção, que proporcione mais igualdade para seu povo.

Nesse vai e vem de protestos nas ruas, bem como nas redes sociais, uma frase me chamou atenção. Trata-se de um provérbio do rei Salomão, que diz o seguinte: “O rei justo sustém a terra, mas o amigo de impostos a transtorna” (Pv 29:4). O aforismo escrito por Salomão mostra um pouco do contexto atual do povo brasileiro que, na maioria das vezes, sofre calado e inocente nas mãos de seus representantes.

No original hebraico, a palavra para impostos (terumoth) tem o sentido de “contribuições rituais ou ofertas”. Ao incluir na frase “amigos de impostos”, possivelmente, Salomão fala a dois grupos: o que dá e o que recebe recursos.

O que o sábio rei está querendo mostrar é que o primeiro grupo, representado pelo doador (ou pagador de impostos), confia seus recursos na esperança de retorno em serviços essenciais. Já o segundo grupo, que detém esses recursos, prefere usufruir sozinho daquilo que não lhe pertence, em lugar de compartilhar com todos.

A Bíblia está repleta de reis corruptos, que punham jugos no povo e usurpavam dinheiro por meio de impostos. Tanto em Israel quanto em outras nações, havia essa conduta exploratória totalmente desaprovada por Deus.

Um problema ainda maior é que muitos dos governantes, além de receber recursos, exigiam sacrifícios como se fossem deuses. Esse também parece ser um problema existente nos dias atuais, pois nações veneram seus líderes como se fossem imortais.

E no aspecto religioso, será que é diferente ou há certa semelhança com os governos? O que se vê abertamente são líderes religiosos famintos por recursos, criando uma carga tributaria cada vez mais pesada, cheia de sacrifícios e promessas mirabolantes para lhes assegurar um império mais poderoso e lucrativo.

Assim, a solução para tudo isso vem dAquele que é Rei, mas que Se tornou servo; que é rico, mas Se fez pobre. Um simples Homem causador de uma revolução não política, mas uma revolução que oferece paz, amor, honestidade, respeito e, acima de tudo, a promessa concreta de um País em que as pessoas que fazem parte de Seu reino terão acesso a todos os serviços essenciais para todo o sempre. Amem!

(Célio Barcellos é pastor no Espírito Santo)

Leia também: "O mundo é uma panela de pressão"

domingo, junho 23, 2013

Entrando na fornalha ardente

É um antigo provérbio popular, / Mas a verdade ‘inda perdura: / “Em todo cálice de felicidade, / No fundo – inexorável, inexplicável / Jaz latente uma gota de amargura.”
           
Se a tempestade ruge ao teu redor, / Ameaçando toda a tua estrutura, / Não temas – Todo cálice de felicidade / Traz no fundo – invisível, imperceptível / Borbulhante, uma gota de amargura.

Se em meio à glória e ao triunfo, / Há uma dor que te tortura, / Não lamentes – Heróis e mártires / Ergueram a taça da vitória, Tendo no fundo, insondável, implacável, / Uma gota de amargura.

Mas quando um dia, a luta aqui findar, / E após a escura noite o Sol raiar. / E a angústia, da Terra, extinta for.

Jamais vestígios de tristeza ou dor. / Deposta a cruz que nos tortura, / Nos portais da eternidade, / O cálice de felicidade / Receberás das mãos do Rei, sem jamais, gota alguma de amargura.
           
Não é difícil concluir que o belo poema acima, cujos versos nos tocam pela profunda sensibilidade, trata de um tema universal: o sofrimento e a insistente dor humana. Sofrer não é poético; a poesia, porém, por ser também universal, foi a melhor forma que encontrei para iniciar uma conversa sobre algo difícil e misterioso, que nenhuma teoria explica. As linhas do poema, entretanto, ultrapassam o sofrimento em si para falar de um assunto muito mais elevado e importante: Deus em face do choro de todos nós.

Na experiência do sofrer, apresenta-se diante do ser humano a oportunidade de refletir acerca do bem e do mal, de pensar sobre realidades nunca dantes imaginadas e de decidir de que lado ficará no grande conflito da vida. O sofrimento, no entanto, torna-se a pedra de tropeço para muitos que questionam o caráter de Deus. John Stott, conhecido teólogo, afirmou: “O fato do sofrimento indubitavelmente tem sido o maior desafio à fé cristã em todas as gerações. Sua distribuição e grau parecem ser inteiramente ao acaso e, portanto, injustos. Os espíritos sensíveis perguntam se o sofrimento pode, de algum modo, reconciliar-se com a justiça e o amor de Deus.” Deixando de lado a teologia e a filosofia do sofrimento e adentrando corajosamente na fornalha ardente deste mundo, vamos, então, à luz da fé e da revelação, suportar o calor de um assunto sobre o qual, pela própria natureza, muitos evitam conversar, exceto os sofredores mais sensíveis.

Para falar de dores (físicas, psicológicas ou morais) precisa-se recorrer à Bíblia, pois em nenhum outro livro o tema é abordado com tanta honestidade. Já na infância do mundo, no contexto de uma batalha de grandes proporções, notamos uma espécie de profecia sobre a universalidade da dor, em que sofrimento e salvação aparecem mesclados (Gn 3:15-19). Na Palavra de Deus, o homem de fé alimenta suas esperanças e certezas, sabendo que “as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8:18). Escolhemos também a Bíblia, em detrimento de outra literatura, porque toda a Escritura, como uma revelação de Deus (assim cremos), contém capítulos dedicados ao assunto da dor humana, não teorizada, e sim vivenciada tanto por crentes quanto por descrentes. Das várias passagens, no entanto, centraremos nossa atenção naquela que inspirou o título deste texto: a história dos três jovens hebreus que enfrentaram o fogo consumidor de uma fornalha. Pela riqueza de detalhes, a narrativa sagrada, localizada no terceiro capítulo do livro de Daniel, foi o “fragmento do sofrimento” separado para uma reflexão. 

Três jovens, cativos do reino de Judá e moradores da corte de Nabucodonosor, por não obedecerem à ordem real de se prostrar perante um ídolo, foram injustamente lançados na direção do “inferno”: o grande forno de chamas preparado para quem desafiasse um autoritário decreto. Daniel, amigo dos rapazes, não se encontrava presente. Onde estava? Os motivos que retiraram o profeta desse evento não são revelados. Possivelmente, por alguma razão, ele havia se ausentado de Babilônia ou estava impossibilitado de comparecer ao local da assembleia.

Mas por que Sadraque, Mesaque e Abede-Nego estavam no campo de Dura? Porventura foram atrás do sofrimento? Numa atitude masoquista buscaram a dor para si mesmos? Não! Não seriam tão tolos assim. Os jovens hebreus faziam parte da lista de homens inteligentes e importantes da corte, convocados por Nabucodonosor para uma “reunião” (Dn 3:2, 12). Sabiam eles desse encontro idolátrico, mesclado talvez com negócios? Provavelmente. Entretanto, após a convocação, numa ação corajosa enfrentaram a terrível “imagem” do sofrimento e o chamado da dor. Eles agiram diferentemente da maioria das pessoas que convoca a dor sobre si por não desejar viver dentro dos padrões da vontade de Deus.

Na história da fornalha ardente, o primeiro ponto a considerar é a causa do sofrimento. Sobre isso, a Bíblia traz a resposta real e direta. Estabelecendo um paralelo entre a situação dos hebreus e a do patriarca Jó, discernimos a causa do mal a desabar sem aviso sobre eles: a vontade perversa de um ser maligno que obteve consentimento divino para executar seus planos sombrios. Satanás, “o monstro metafísico”, autor do pecado e do caos reinante no mundo, é o agente responsável pelo sofrimento. No caso de Jó, ele esteve envolvido diretamente (Jó 1:6-19; 2:7); com os jovens hebreus, ele moveu instrumentos humanos na obra do mal: os astrólogos da corte (Dn 3:8).

Assim, identificar a causa ou o autor do sofrimento nos ajuda a compreender tanto o caráter de Deus (na maioria das vezes nublado por nossas lágrimas) quanto o de seu arqui-inimigo. Portanto, quando em nossas dúvidas perguntamos: “Senhor, não semeaste Tu no Teu campo boa semente? Como então está cheio de joio?”, atentemos para a resposta: “Um inimigo é quem fez isso” (Mt 13:28). Sim, um inimigo lançou a semente da dor e do mal no campo do mundo. Tal semente gerou “ervas daninhas” que se espalharam pela face da Terra e entraram no jardim de todos nós. Por esse motivo, o sofrimento é uma experiência universal. Cada ser humano deve estar ciente disso, como esteve Davi ao declarar que “o inimigo persegue a minha alma, abate-me até o chão; faz-me habitar na escuridão” (Sl 143:3). Certamente, Deus não é o autor do sofrimento, embora Ele administre por Suas mãos misericordiosas e justas as tragédias individuais e coletivas da humanidade. A dor procede de “Babilônia”, da cidade da confusão (Dn 3:1), e não de “Jerusalém”.

Naturalmente corremos atrás de explicações para o sofrimento. Frequentes são as perguntas. “Por quê?”, “O que foi que eu fiz para merecer isso?” De fato, “a dor é o ponto de interrogação transformado em um anzol no coração humano”. Almejamos uma resposta convincente, muitas vezes inexistente. Há motivos para a escassez ou mesmo ausência de explicações. Tudo que se explica se justifica. Como Deus não quer justificar o sofrimento, Ele deixa as explicações de lado, preferindo postar-Se ao lado de cada sofredor para compartilhar do fogo da fornalha, tal qual aconteceu na experiência dos três hebreus. Mas o silêncio divino não significa falta de respostas. O crente “sabe que, frente ao mal, toda explicação humana é irrisória, e que aqui e agora somente se impõem a resistência, a fraternidade e a esperança. Para ele, crer, ainda que não resolva o problema do mal, representa uma superação do problema enquanto espera sua solução definitiva”.

Nos piores momentos da vida o importante é buscar sentir o abraço divino, manifestado no senso da presença do Espírito Santo – o Consolador. Ele vem para aplicar o bálsamo aliviador sobre as “queimaduras” e as chagas ardentes causadas pelo diabo. Nessas horas, nas palavras da escritora cristã Ellen White, só “precisamos saber acerca de um braço todo-poderoso que nos manterá, e de um Amigo infinito que tem piedade de nós. Necessitamos de nos agarrar à mão aquecida pelo amor, confiar em um coração cheio de ternura”. Isso é melhor do que qualquer explicação. Isso representa a resposta de Deus a partir de nossa resposta diante da dor.

Empurrados para dentro da fornalha

Para entrar no reino de Deus, importa passar por muitas tribulações (At 14:22) derivadas, em última instância, do resultado de se viver em um mundo caído, alienado do Criador. Por isso, o apóstolo Pedro escreveu: “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse. Mas alegrai-vos...” (1Pd 4:12, 13). Alegrar-se no sofrimento? Como?! Que recomendação aparentemente cruel e insana! – diriam muitos. Na dor, procuramos chorar, não sorrir. Porventura, adoramos um Deus sádico que nos manda sentir “prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias”? (2Co 12:10).

O evangelho, aos olhos do homem natural, constitui uma loucura. No entanto, para o homem de fé, por mais estranho que pareça, até mesmo o sofrimento pode redundar numa espécie de gozo espiritual, por causa do motivo (o amor a Cristo) e do resultado produzido (a glória de Deus). Logo, a dor, que em si mesma não traz nenhuma virtude ou felicidade, tem na vida do cristão uma motivação e um resultado transcendentais. Ela só pode ser aceita e compreendida no contexto do conflito cósmico entre o bem e o mal. A experiência sofredora dos três hebreus nos expõe essa realidade.

Ninguém, em sã consciência, busca voluntariamente sofrer. Naturalmente fugimos da dor porque não fomos criados para ela. Até mesmo Cristo que, em amor, decidiu sofrer pela humanidade, chegou a suplicar ao Pai: “Não deixe Eu beber o terrível cálice, caso exista outro meio de salvar o ser humano!” Sadraque, Mesaque e Abede-Nego não buscaram voluntariamente entrar na fornalha. Foram coagidos por uma imposição injusta e maldosa. A causa estava na recusa em trair a consciência diante de uma ordem “legal”, mas de consequências espirituais danosas. Movidos pelo princípio “mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5:29), destemidamente eles transgrediram o mandado da mais alta autoridade da Terra, suportando “alegremente” os resultados. Foram para o seu calvário, a prova de fogo.

Num momento de causar medo a qualquer pessoa, esses homens, cheios de confiança diante das ameaças de Nabucodonosor, “zombaram” do castigo imposto. Por conseguinte, despertaram a ira do rei, sendo conduzidos em direção da morte certa. Já na porta da fornalha, antes de passarem pelas chamas devoradoras, eles compreenderam coisas misteriosas e sublimes sobre o sofrimento e Deus, lições que o Senhor registrou em Sua Palavra para o nosso benefício, “pois tudo que outrora foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança” (Rm 15:4).

Primeira lição: O sofrimento um dia chega e, talvez, inesperadamente. Enfrente-o com fé e dê uma resposta positiva a ele.

“Quem é o Deus que vos poderá livrar das minhas mãos?” (Dn 3:15, última parte) é o desafio a cada pessoa. Não adianta fugir da dor, ela sempre nos alcança em algum momento da existência, pois “toda a criação geme” (Rm 8:22). O decreto do sofrimento é imposto sobre os “povos, nações e homens de todas as línguas” (Dn 3:4).

O sofrimento convoca todo ser humano. Algumas vezes podemos pressentir sua chegada; outras, não. Inesperadamente, ele talvez apareça sem nenhum aviso (Ec 9:12). Como lhe responderemos? Com medo consumidor, desespero, desânimo insistente, reclamações, dúvidas cruéis, revolta? Realmente, esse arsenal poderoso ameaça qualquer um. Quando ouviram a “música do sofrimento” anunciando a chegada dele, todos se prostraram com timidez e medo (Dn 3:7), exceto três pessoas corajosas. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, humanos como nós, elevaram-se acima das ameaças e, erguidos, reagiram dando uma resposta ousada, cheia de fé e resignação (Dn 3:16-18). O que disseram?

Segunda lição: Abandone-se nas mãos de Deus, deixe com Ele as consequências e não faça cobranças arrogantes.

“Se formos lançados na fornalha de fogo ardente, o nosso Deus, a quem nós servimos, pode livrar-nos dela [...]. Se não...”

Os hebreus injustiçados em momento algum duvidaram do poder de Deus. Aceitaram, contudo, o resultado, qualquer que fosse: livramento ou morte. Para eles, o importante era ser fiel à consciência e preservar seus princípios espirituais. Provou-se aqui o efeito prático e positivo da fé. Muitos de nós, quando afligidos, chegamos a reclamar para Deus uma solução. Se ela não chega, abandonamos a confiança e desistimos dEle. Diversas teologias populares andam ensinando por aí que Deus tem a obrigação de salvar o cristão e lhe dar prosperidade. “Pare de sofrer!” é o slogan enganoso de certos credos e filosofias de autoajuda. Os jovens cativos, porém, sabiam que “no mundo tereis aflições” (Jo 16:33). Conscientes disso, aceitaram o enfrentamento com bom ânimo. Semelhantemente, mesmo sentindo indícios de medo, dúvida e apreensão (afinal, somos humanos e Deus conhece nossa estrutura), lancemos sobre o Senhor toda a ansiedade, confiando na promessa de que Ele cuidará de nós. As mãos dos hebreus estavam amarradas, não podendo eles, humanamente, fazer nada para se livrar. Na maior parte dos casos, quando nossas mãos são impotentes para nos salvar, só mesmo Deus é capaz de agir em nosso favor.

Terceira lição: O sofrimento pode se intensificar, mas a atitude de fé, ainda assim, traz resistência.

“Então Nabucodonosor [...] ordenou que se acendesse a fornalha sete vezes mais do que se costumava” (Dn 3:19).

Imediatamente, após a resposta dos hebreus ao rei, foi dada a ordem para aumentar o calor da fornalha. É algo a se pensar. Frequentemente, quando reagimos ao sofrimento, este também pode se contrapor a nós e aumentar “sete vezes” (ou mais) a sua ira. “As bruxas andam soltas”, é a frase na boca de vários sofredores. Acontece de eventos drásticos virem em rápida sucessão sobre a vida de alguém, intensificando a dor até o limite da resistência humana. Não foi assim com o paciente Jó: uma tragédia após outra? Todavia, mesmo em níveis extremos, quando estamos fortemente atados pelas cordas, sem condições de fazer nada, nossa fé no cuidado de Deus é capaz de crescer e superar o calor da fornalha, dando-nos coragem e refrigério. Nas palavras do apóstolo Paulo, “em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” (2Co 4:8, 9).

Quarta lição: O sofrimento atinge o ser por inteiro e, rapidamente, afeta aquilo que nos é mais precioso.

“Então estes homens foram atados com os seus mantos, suas túnicas, seus turbantes e suas vestes, e foram lançados na fornalha de fogo ardente. Porque a palavra do rei era urgente...” (Dn 3:21, 22).

Quando entramos na fornalha, aquilo que nos pertence vai conosco. Todas as coisas a nos envolver também são vitimadas. A avalanche da dor ameaça nossa proteção e todos os nossos tesouros; atinge as defesas, deixando-nos vulneráveis. Procura afetar nossa cobertura protetora e mexer com o caráter (vestes). Jó perdeu propriedades, servos, esposa e filhos. Seu próprio corpo foi afetado. Ficou “nu”, restando-lhe apenas o bem mais caro: a vida. Mas quem decide se perderemos algo, mesmo a vida, é Deus. Ele diz: “Não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10:28). O corpo morto será devolvido gloriosamente na ressurreição; a alma (o caráter) destruída permanecerá morta para sempre, levando consigo o corpo. No caso dos três rapazes, o sofrimento veio também para arrebatar deles as coisas mais próximas, até chegar ao seu próprio corpo; a situação, entretanto, foi outra. Cumpriu-se neles, literalmente, a promessa: “Quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Pois Eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador” (Is 43:2, 3). Salvando o homem da fornalha, Deus promete deixar intacta a vestidura do seu caráter, a única coisa que o fogo do sofrimento não pode destruir.

Quinta lição: O sofrimento, quando suportado com fé, liberta o homem de suas amarras.

Ao serem empurrados, atados, para o interior da fornalha, o milagre aconteceu. O fogo perdeu seu poder consumidor sobre os jovens. O rei e a multidão expectantes ajuntaram-se em espanto, a fim de verificar a salvação provida. “Nem um só cabelo de suas cabeças se tinha queimado, nem os seus mantos se mudaram, nem cheiro de fogo passara sobre eles” (Dn 3:27). Não sofreram dano. Só uma coisa foi queimada: as cordas que os prendiam.

Talvez, passando pela crise e pela dor, seja intenção divina nos libertar de algumas amarras. Quais são elas? A experiência de cada um identificará. “Farei passar esta terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei, como se prova o ouro. Ela invocará o Meu nome, e Eu a ouvirei; direi: É Meu povo, e ela dirá: O Senhor é meu Deus” (Zc 13:9).

A disciplina de Deus visa ao aperfeiçoamento de nosso caráter, muitas vezes aprisionado pelas cordas do pecado. Quando, sob a correção do Senhor, é permitido que entremos na fornalha, o fogo preparado para destruir por inteiro consome apenas a escória, deixando o ser humano totalmente livre do seu mal. O “ouro provado no fogo” apresenta-se sem impurezas e o ser humano sai da fornalha “mais raro do que o ouro puro” (Is 13:12).

Sexta lição: Unidos no sofrimento.

“Estes três homens, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, caíram atados dentro da fornalha sobremaneira acesa” (Dn 3:23).

Há, ainda, uma importante lição a aprender dessa história: a fraternidade na hora da dor. Não por acaso, supomos, os jovens cativos formaram um trio dentro do fogo, acompanhados de uma quarta Pessoa. Os números na Bíblia vão além de uma quantidade exata. Expressam realidades simbólicas de alto valor espiritual e teológico. Três é o número da unidade e da Trindade. Os três jovens, numa atitude fraterna e solidária, deram-se as mãos no momento da angústia. Unidos encorajaram uns aos outros, alimentando-se mutuamente de fé e confiança em Deus. Honrando tal “reunião”, o quarto Homem, que tomou o lugar de Daniel, cumpriu Sua promessa de que, em qualquer circunstância, “onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, ali estarei Eu no meio deles” (Mt 18:20). E ali Se manifestou o Profeta celestial a anunciar o livramento. A própria Trindade Se fez representar na pessoa de um de Seus membros para mostrar que a humanidade unida entre si e com Deus é capaz de superar a dor. Aqui o número quatro atinge um valor de totalidade e plenitude. E totalidade plena só pode ser achada na Divindade. Por isso, no olhar do rei pagão, o quarto membro da fornalha era “semelhante a um filho dos deuses” (Dn 3:25). Ou Deus.

O “tempo de angústia” chega para cada ser humano. Alguns entram sozinhos na fornalha; outros vão em grupos, mas todos querem alguém por perto para consolar. O calor que uns suportam, às vezes, é aumentado “sete vezes mais”, tornando as dores excruciantes. Nessa hora da crise, cada pessoa corre em busca de ajuda. Precisa de ombros, mãos e olhar compassivo; necessita do ser inteiro de seu próximo, não só de lágrimas. Chorar com os que choram é um mandamento tão sagrado quanto amar; é uma das formas de amar. Mas chorar, nesse contexto, não significa somente derramar lágrimas diante da dor alheia e depois ir embora: é sofrer com os que sofrem, sentindo compassivamente suas agonias, prestando ajuda e doando-se sempre que necessário. Chorar com os sofredores é colocar-se no lugar deles. Os jovens hebreus foram juntos para o meio do fogo. No momento do sofrimento de alguém, sejamos solidários, dando o consolo humano e indicando o “quarto consolo”, o divino, cientes de que somente este tem poder de livrar.

Sétima lição: O sofrimento não dura para sempre.

“Então Sadraque, Mesaque e Abede-Nego saíram do meio do fogo” (Dn 3:26).

Embora este mundo seja um vale de lágrimas (ou de chamas), sairemos um dia dele. A dor pode ser breve ou longa, mas terá seu fim. Cabe-nos aguardar em esperança e fé o cumprimento da promessa de que “não haverá mais pranto, nem clamor, nem dor” (Ap 21:4). Essa promessa não se limita à vida futura. Mesmo agora, numa existência atribulada, o amor de Deus tem a capacidade de anular o poder do fogo e nos convocar a sair da fornalha, pois “no Seu favor está a vida; o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30:5). Na escuridão do sofrimento existe uma pausa e a promessa de um feliz e radiante amanhecer. Assim como Deus nos lembra do repouso semanal (Êx 20:8-11), Ele também nos recorda de que “resta um repouso para o povo de Deus” (Hb 4:9) com o cessar do sofrimento. A sétima lição, portanto, é a promessa de que descansaremos da dor.

A mais importante lição

“Então o rei Nabucodonosor se espantou, e se levantou depressa, e disse aos seus conselheiros: Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo? Responderam ao rei: É verdade, ó rei. Disse ele: Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano, e o aspecto do quarto é semelhante ao filho dos deuses” (Dn 3:24, 25).

Diante de uma tragédia, perguntamos quase sem exceção: “Onde estava Deus?” Onde Ele estava quando aqueles aviões, carregados de terroristas, causaram a morte de milhares de pessoas no Onze de Setembro? Por onde andava Deus quando ondas gigantes devastaram quilômetros de terras na Ásia, provocando uma catástrofe destruidora e ceifando inúmeras vidas? O que o Senhor fazia no momento em que uma garotinha inocente era atirada do alto de uma janela por alguém tão cruel? Por que aquele rapaz, ainda jovem, perdeu drasticamente a vida? “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? Em que mundo, em que estrela Tu Te escondes?”, indagava angustiosamente o poeta. O próprio Cristo chegou a questionar: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” (Mt 27:46). São clamores ansiosos por uma resposta. Diante da confusão emocional que o sofrimento causa em nossa mente, não adianta responder à dor com argumentos bem elaborados. A única resposta se encontra na presença do “Deus conosco”.

Recorro ao alto dos Céus, a Quem me fez, /             Com o hálito de Seus lábios sem dolo, / Para estar quieto em face do consolo, / Com suficiente fé, plena honradez. / Setas de dor me acintam vez após vez, / E pedras pendem dentro do miolo; / Quero crer sempre, mas me sinto tolo / Se a inédita dor vem nítida à tez.
                       
Interdita o temor que me acalora / Para eu dar graças pelo que me trazes: / Das entranhas tiro o óleo que unja as frases, / E então, sustido após todas as fases, / Tocado por Teu zelo, naquela hora / Te adorarei mais que hoje a alma Te adora!

O Senhor está no meio do fogo. Anda conosco em todas as tragédias e participa de nossas angústias.

O quarto Homem: um Deus sofredor

“Em toda a angústia deles foi Ele angustiado” (Is 63:9).

Onde está Deus, então, pergunta-se mais uma vez? Respondemos de novo: Está ao nosso lado na fornalha, sofrendo também, porque só um Deus sofredor pode nos ajudar (Is 53, 2Co 5:19). Se compreendermos, pela fé, tal sublime e profunda revelação, seremos capazes de passear com Ele entre as chamas poderosas, sem gritos, sem desespero, sem angustiosos porquês. À maneira de Deus receberemos o livramento, imediato ou não.

Qualquer história menciona seu(s) personagem(ns) principal(is). No episódio da fornalha, o foco é a quarta Pessoa – o Protagonista Sofredor, e não os três jovens provados. Por esse fato, nossa visão precisa estar fixa em outro ponto; não nos aspectos secundários da dor. Evitemos olhar detidamente para os elementos terríveis da fornalha: as amarras que nos prendem, as assustadoras chamas consumidoras, a multidão que desampara ou os carrascos cruéis que nos forçam a entrar no fogo. Tampouco concentremos a atenção em nós mesmos, numa atitude de autocomiseração. Tudo isso confunde o homem e o arrasta para o desespero. De igual modo, desviemos um pouco a vista dos consoladores humanos, pois somos chamados a contemplar o Personagem central da história do sofrimento, Jesus (Hb 12:2). Os detalhes devem ser desconsiderados para que o “quarto Homem” seja notado, tal como foi pelo próprio Nabucodonosor. E notar Jesus não é somente vê-Lo como o Deus protetor; é percebê-Lo também como Deus sofredor; não é só enxergá-Lo “semelhante ao filho dos deuses”. Ele deve ser visto, também, como “Filho do homem”.

Os três judeus representam a humanidade sofredora, mas o outro Humano é Deus que foi “empurrado” para dentro da fornalha, sem ninguém para livrá-Lo. Paradoxo sublime! A fornalha erigida pelo ser humano obrigou-O a passar pelo “fogo”, conforme narra a Bíblia em suas páginas. E passando pelas labaredas, o Senhor acumulou sobre Si as dores humanas e as divinas, suportando um peso inimaginável.

Os antigos serviços sacrificais e a cruz constituíam “uma revelação, aos nossos sentidos embotados, da dor que o pecado, desde o seu início, acarretou ao coração de Deus”. E ainda hoje, “cada desvio do que é justo, cada ação de crueldade, cada fracasso da natureza humana para atingir o seu ideal, traz-Lhe pesar”. Fazem-No experimentar outra vez o ardor do sofrimento. Acerca do sofrimento de Deus em Cristo, significativa é esta declaração de Ellen G. White: “O homem não foi feito um portador do pecado, e jamais conhecerá o horror da maldição do pecado sofrido pelo Salvador. Dor alguma pode suportar qualquer comparação com a dor dAquele sobre quem caiu a ira de Deus como força esmagadora. A natureza humana não pode resistir senão a uma limitada porção de prova e experiência. O finito só pode suportar a medida finita, e a natureza sucumbe; a natureza humana de Cristo, porém, possuía maior capacidade para o sofrimento, pois o humano existia na natureza divina, e criava uma capacidade de sofrimento para suportar aquilo que era resultado de um mundo perdido”.

Em Jesus, o “madeiro verde” e resistente (Lucas 23:31) que o fogo não consumiu, o “semelhante ao filho dos deuses” nas palavras do impressionado Nabucodonosor, acha-se o exemplo vivo de fortaleza e a esperança humana do triunfo definitivo sobre o sofrimento. O Homem de dores padeceu como ninguém (Is 53), mas garantiu a vitória final. A própria fornalha ardente pode ser entendida como uma predição sobre o Calvário. Ali também estavam prefigurados Seus sofrimentos e Sua vitória a acontecerem séculos depois no Gólgota. Participando da natureza divina, mediante a ligação com a Videira, nós, os ramos, seremos igualmente capazes de permanecer resistentes na hora da extrema provação. 

Outra fornalha

Hananias (“o Senhor tem sido misericordioso”), Misael (nome derivado de Miguel: “Quem é igual a Deus?”) e Azarias (“O Senhor ajudou”), nomes verdadeiros dos três jovens, alterados por Nabucodonosor para nomes de divindades pagãs, lembram o caráter bondoso e o poder de Deus ao preservá-los das chamas. Por sofrerem perseguição por causa da justiça, esses homens se tornaram bem-aventurados no fim de sua prova. Os novos nomes com os quais os vencedores serão batizados darão semelhante testemunho a todo o Universo. No fim, tal como se deu na experiência da fornalha ardente, o desfecho redundará na glória de Deus e na honra de Seus filhos, “pois não há outro Deus que possa livrar como Esse” (Dn 3:29).

Os carrascos que os levaram para a agonia sucumbiram ante o poder da altíssima temperatura. Da mesma forma, Satanás que nos empurra para o fogo, ele mesmo, no devido tempo e junto com todos os seus algozes, perecerá nas chamas eternas (Ap 20:14). A causa do sofrimento terá seu fim com a aproximação da “outra fornalha”. Assim, quando a promessa divina se cumprir e todo o vestígio do mal desaparecer por completo, a fornalha da Terra será acesa momentos antes de a eternidade começar; desta vez pelo próprio Deus. O mundo virará uma grande fogueira e para dentro dela serão lançados o mal, a morte e o sofrimento, os quais perecerão com seu autor, o ente do mal. Nesse desfecho cósmico, um cântico de livramento será entoado pelos que “vieram da grande tribulação” (Ap 7:14).

Do sofrimento passaremos para a eterna adoração Àquele que experimentou na carne as dores da humanidade, mas que trouxe, por fim, a redenção. Nesse instante de triunfo, o fogo do sofrimento é apagado e a fornalha transformada num mundo seguro e protetor. O epílogo traduz alegria e a palavra final é salvação. Toda criatura proclama, num único coro universal, e sem gota alguma de amargura, que “Deus é amor”. Mas enquanto a libertação eterna do sofrimento não chega e o homem não entoa o “cântico de Moisés e do Cordeiro” nas ruas de ouro da Nova Jerusalém, é possível cantar aqui, “na velha Jerusalém”, outro cântico, o da resistência na graça: a música cuja melodia está dividida entre a tragicidade insistente deste mundo e a esperançosa alegria sem fim do outro. Assim, em relação “às aflições do tempo presente”, o homem de fé aprende mais uma lição. Ele pode entrar na fornalha e sair dela cantando:

Por Teu amor, eu pude entender / Que minha dor me ajuda a procurar Você. / A Tua graça me basta, não preciso de mais nada; / Os espinhos já não causam pavor. / Eu agradeço por me fazer / Depender de Ti, Senhor.

(Frank Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)