sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Fideísmo: a maior barreira da fé

Não precisa haver dicotomia
Alguns meses atrás, ao conversar com um membro da nossa igreja, entramos no assunto do mestrado que estou fazendo: filosofia da religião. Ao perceber que o rapaz não entendia exatamente do que se tratava, de maneira empolgada passei a explicar a ele que a filosofia da religião tratava basicamente da forma como podemos pensar na religião e nas nossas crenças religiosas de maneira racional e, também, nos preparar para responder os questionamentos racionais vindos da parte de pessoas que não creem em Deus. A reação dele não foi tão empolgada como a minha explicação. Contraiu os músculos da testa e da sobrancelha ao mesmo tempo e fez a pergunta que honestamente o estava atormentando durante toda a conversa: “Mas a nossa crença não deveria ser pela fé e pela fé somente? Não é em Hebreus 11 que se diz que a fé é a certeza das coisas que não se veem? Por que necessitamos de evidências racionais?”

Esse questionamento não é isolado. Ao realizar séries de apologética (defesa racional da fé cristã) por algumas cidades do Brasil, alguns membros tinham o mesmo questionamento e criavam automaticamente uma barreira para essa abordagem. Em termos mais técnicos, chamaríamos isso de fideísmo. O que significa isso? Fideísmo vem do latim fides que significa “fé”. Esta crença baseia-se na ideia de que todos os conceitos religiosos como crença em Deus, fidelidade à Bíblia como palavra revelada de Deus, entre outros, são inalcançáveis à razão e, portanto, devem ser justificados apenas através da fé. Para estes, a apologética é quase instrumento do “inimigo” para que nos apeguemos apenas à nossa capacidade mental de racionalizar e não na fé que devemos ter em vista destas questões!

Acredito que esse tipo de pensamento venha de um conceito falso do que é “fé”. Muitos mantêm o conceito de que fé é um salto cego para um abismo divino em que não existe racionalização ou racionalidade. Fé é muito mais do que isso! Significa confiar a vida, as ações, os pensamentos e crenças a algo/alguém. Em termos cristãos, trata-se de uma vida depositada nas mãos de Deus. Agora, pare para pensar um pouco comigo. Como alguém obtém fé? A Bíblia dá uma alternativa: “Mas nem todos deram ouvidos ao Evangelho. Pois Isaías disse: Senhor, quem creu na nossa mensagem? Logo a fé vem pelo ouvir, e o ouvir vem pela palavra de Cristo” (Rm 10:16, 17). Ou seja, uma das formas de se obter essa confiança em Deus é ouvir Sua Palavra. Isso não seria uma evidência dos feitos de Deus e de quem Ele é? Isso não é usar a razão para crer? Claro que sim!

O grande problema do fideísmo é que não importa o quanto digamos que não precisamos da razão para crer em Deus, quanto mais se cava, mais aparecem “bases” para a fé, ou seja, provas. Não é possível divorciar a fé de tais bases que o próprio Deus nos proporcionou. Vamos pensar um pouco mais: Por que será que Deus nos deu a capacidade de raciocinar? Será que era para que não a usássemos? Qual o motivo de Deus Se revelar nas histórias da Bíblia, ou clamar através da natureza a respeito de Sua existência, se não fosse para nos dar bases para a nossa fé?

A apologética é um lindo campo de estudo que demonstra o quanto Deus quer Se revelar para mim e para você. Não existe cegueira espiritual tão forte que não possa ser curada por esse Deus, que de muitas formas pode criar em nós a fé que Ele tanto quer que tenhamos. Basta “abrir os olhos”.

(Marina Garner Assis, Fé Racional)