terça-feira, março 18, 2014

Mundo árabe boicota Noé de Russell Crowe

Connelly e Crowe: Noé e esposa
Russell Crowe enfureceu o mundo árabe mais conservador. E o católico. E o judeu. Sua interpretação de Noé – o “único justo” em quem Deus pôde confiar para resgatar em Sua arca uma amostra de cada ser vivo do planeta, antes de arrasá-lo com o dilúvio universal – está lhe rendendo críticas e censuras tanto de Estados como de comunidades específicas que consideram que o filme ofende a sua fé. O veto mais severo foi anunciado pelos Emirados Árabes Unidos, Catar, Bahrein e Kuweit, que, alegando que o filme “entra em conflito”, com o islã, decidiram não projetar o longa, estrelado também por Jennifer Connelly e Anthony Hopkins. Egito e Jordânia estão decidindo o que fazer, mas, conforme indica o departamento de relações públicas da Paramount Pictures, espera-se que também cancelem a estreia, prevista para 28 de março (21 de março no Brasil). O que mais incomoda esses países é a aparição física na tela de Noé, quando “qualquer representação de um profeta ou de seus companheiros” é considerada haram, ou seja, pecaminosa, como recordou a Universidade Al Azhar, do Cairo, uma das mais importantes escolas teológicas sunitas do mundo, que recomendou a proibição do filme. “Fazemos isso por respeito aos sentimentos religiosos não só do islã, ele entra em conflito com muitas religiões”, afirmou, por sua vez, o Conselho Nacional de Meios de Comunicação dos Emirados.

Nos Estados Unidos, grupos católicos de Nova York, Washington e Nova Inglaterra fizeram protestos diante dos cinemas que já exibem seu cartaz, porque entendem que o filme desvirtua uma das histórias mais conhecidas da Bíblia. Alguns judeus, para quem Noah/Noé é igualmente uma referência essencial, avaliam que sua figura e sua relação com Deus foram tratadas de forma “frívola”, como afirma o rabinato hassídico de Jerusalém.

O diretor, o judeu Darren Aronofsky (de Cisne Negro e A Fonte da Vida), defende que foi “muito respeitoso” com a história original, e que os crentes nela encontrarão “valores”, e os ateus, “emoção”. A Paramount incluiu uma nota no começo do filme explicando que foram tomadas “licenças artísticas” no relato [como a inclusão de uma filha adotiva de Noé e cenas de magia], mas esse detalhe não acalmou seus críticos.

Alheio ao ruído, Crowe tenta ganhar espectadores de peso. Via Twitter, convidou o papa Francisco para ver o filme, dizendo que ele provavelmente gostará de Noé “por sua mensagem poderosa, fascinante e evocadora”. Precisou até pedir desculpas aos gestores da conta do pontífice (@Pontifex) por tantos retuítes que recebeu.

Noé está sendo notícia nos últimos dias porque, além da polêmica religiosa, houve uma denúncia de Emma Watson sobre a dureza da filmagem com Aronofsky. Convencido de que o filme deve enviar uma mensagem ambientalmente respeitosa, o diretor proibiu a distribuição de água em garrafas plásticas aos atores, para não poluir. Watson bebeu água de um galão, parada havia três semanas, e se intoxicou. O diretor, então, a obrigou a atuar doente, para ter “mais realismo”, conforme contou a Hermione de Harry Potter.