segunda-feira, maio 19, 2014

“Game of Thrones”: violência em série

Incesto e estupro num velório!
O mundo fantástico do seriado americano “Game of Thrones”, a trama de maior sucesso da tevê americana desde “Família Soprano”, impressionou milhões de espectadores durante o episódio “Breaker of Chains”, exibido em 20 de abril nos Estados Unidos. Dessa vez, no entanto, não apenas pelos efeitos da computação gráfica ou pela disputa de poder entre seus personagens medievais. O que causou polêmica entre as pessoas que acompanham a quarta temporada da série foram as cenas de brutalidade sexual. Na trama, o personagem Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) estupra a irmã e amante Cersei (Lena Headey) durante o velório do filho de ambos, o rei Joffrey. A cena traz à tona pelo menos dois fatos perturbadores: a violência contra a mulher e a relação incestuosa que ocorre ao lado de um cadáver. Outro aspecto que despertou a revolta dos admiradores da série é que a cena de sexo sem consentimento da jovem não acontece no livro que inspirou os episódios “As Crônicas de Gelo e Fogo”, do escritor George R.R Martin. Acusado de banalizar a violência sexual com cenas explícitas, o autor afirmou que estupros fazem parte de todas as guerras já travadas na história. “Omitir fatos como esses seria falso e desonesto, além de prejudicar um dos temas do livro: os verdadeiros horrores da história humana não vieram de orcs ou feiticeiros sombrios, mas de nós mesmos”, diz Martin.

Cada vez mais presente na indústria do entretenimento, a violência é um elemento marcante em diversas produções culturais americanas, como “Breaking Bad”, “Família Soprano” e “Mad Men”. Martin, porém, afirma que a própria história da civilização é “escrita com sangue” e, para ele, o mundo ficcional onde a trama se passa “não é mais sombrio e depravado que o nosso próprio mundo”. O pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, Vitor Blotta, explica que as séries de tevê têm liberdade artística para narrar passagens históricas de acordo com a preferência do autor. “Elas refletem problemas sociais e um deles é a banalização da vida”, diz. “Cenas de forte violência podem causar revolta e rejeição no público ou provocar a reflexão sobre problemas sociais.” De acordo com o professor de comunicação e semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Eugênio Trivinho, desde a década de 1930 a indústria cinematográfica explora o uso de cenas truculentas.

Em sua defesa, Martin afirma que uma história medieval exige detalhes sensoriais vívidos. “Algumas passagens são mesmo feitas para serem desconfortáveis, perturbadoras e difíceis de ler.” [...]

(IstoÉ)

Nota: A banalização da violência é um fenômeno observado na sociedade e refletido/estimulado pela mídia, numa verdadeira retroalimentação. De tanto ver violência no dia a dia e nos programas de TV e filmes (incluindo aí os programas policiais mundo cão e as rinhas humanas do UFC), as pessoas quase não ficam mais chocadas com o que veem. Curiosamente, a maior reclamação dos fãs dos livros de Martin não se deve ao exagero no quesito violência, mas, sim, à falta de fidelidade ao texto original! O amor está mesmo se esfriando em quase todos os corações, como previu Jesus (Mateus 24:12). [MB]