segunda-feira, julho 07, 2014

Malévola, ou a falsificação do bem

[...] Fui [Nivaldo Cordeiro] assistir ao filme “Malévola”, dirigido por Robert Stromberg e estrelado por Angelina Jolie. Nele vi o contrário do que espero do cinema. Esse diretor é também autor da fábula ambientalista “Avatar”, outra porcaria produzida pela perfeição tecnológica. O filme “Malévola” virou uma página de propaganda do feminismo mais rasteiro e rancoroso. O belíssimo conto de fadas do francês Charles Perrault, “A Bela Adormecida”, teve sua mensagem violentada ao sabor dos preconceitos descarados dos militantes e das militantes feministas. As figuras masculinas da história foram reduzidas a caricaturas grotescas. Os homens ou são maus ou são fracos ou ambas as coisas. O poder masculino é supostamente falso, o poder feminino é verdadeiro, segundo essa versão falsificada do conto de fadas. Mas a má intenção do autor do filme está muito bem expressa no desfecho: o beijo salvador do conto original não pode acontecer para essa gente porque é a exaltação da união natural entre o homem e a mulher, levando ao matrimônio e à família. É claro que o príncipe que aparece é um perfeito bocó e seu beijo, inútil. É como se não pudesse haver amor verdadeiro entre um homem e uma mulher, como é expresso nas falas repetidas vezes: “O amor verdadeiro não existe.”

Amor verdadeiro só entre duas fêmeas. Eu quase achei que Malévola ia beijar a bela que dormia nos lábios. Não tiveram coragem para isso ou os produtores impediram, pois afinal as vítimas pagantes de bilheteria são, em sua maioria, infanto-juvenis. Ficaria um pouco demais, não é mesmo? Mas esse é certamente o enredo que as feministas mais radicais defenderiam.

A maldade do diretor não se esgota nessa falsificação do original e da própria essência humana retratada no conto de fadas de Perrault. Vemos, com toda força, a exaltação da tese gnóstica de que o bem precisa do mal para existir. Jung certamente adoraria o enredo do filme, assim como Goethe. Malévola é aquela que quer praticar o mal e acaba por praticar o bem, não é bonitinho? Assim, o bem depende do mal. A velha gnose de sempre. Nesse sentido, o filme é aterradoramente anticristão.

A figura do corvo que acompanha Malévola é o próprio emblema de Satã, sua ave totêmica. Malévola o faz transformar-se em homem, que passa a ser seu escravo e pau para toda obra.  O sonho dourado das feministas.

Malévola é a bruxa má resgatada de sua maldade e posta a “amar”. A suma de todo ódio e rancor é transformada em seu oposto. Essa é a crença essencial da modernidade e que tem se substituído ao cristianismo. Está em toda parte. O filme apenas dá uma roupagem feminista, mas o essencial da sua mensagem é a exaltação “benéfica” do maléfico.

O grande público se encanta e se engana com o emprego da belíssima técnica de filmagem empregada, à perfeição. Mas a embalagem linda esconde apenas veneno. Uma vez na sala de cinema, apagadas as luzes, os jovens expectadores são submetidos a mais sórdida mentira, vigarice, enganação e falsificação de que é capaz um ser humano. Um estupro intelectual sob belas imagens.