Italvino e Diva: exemplo de amor |
Uma
história que teve início no fim da década de 1940 no interior do Rio Grande do
Sul terminou na última sexta (4) no Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto
Alegre. Juntos havia 65 anos, Italvino Possa, de 89 anos, e Diva Alves de
Oliveira Possa, de 80, morreram com cerca de 40 minutos de diferença. Ele foi
vítima de uma leucemia. Ela, acometida por um tumor na bexiga, partiu logo
depois. O casal passou os últimos momentos de mãos dadas, com as camas juntas
no quarto. “O pessoal da PUC conhecia eles, sabia da luta deles, então juntaram
as duas camas no quarto e eles vieram a falecer quase no mesmo horário, como se
ele estivesse abrindo as portas para ela e arrumando a casa para eles ficarem
juntos para sempre”, disse o estudante universitário Rafael Max, um dos 14
netos do casal, que deixou ainda 10 filhos e seis bisnetos.
Italvino
e Diva se conheceram durante um baile em 1948 e, um ano depois, se casaram. “Ele
sempre frisava que era um ano a mais de casado, porque o que contava era o
início do namoro. Se considerava um eterno namorado”, conta Max.
O
casal viveu em Marau e Passo Fundo, no Norte do estado, e também na capital
gaúcha. Em todos estes anos de união, Italvino jamais deixou o romantismo
morrer. Preparava o café da manhã para a amada e mantinha uma horta no pátio
com as verduras “ao gosto dela”. Além disso, a presenteava com flores. “Em todos
os dias dos namorados, ele sempre comprou rosas para ela”, conta.
Seu
Italvino foi a principal referência paterna da vida do neto, que perdeu o pai
quando tinha apenas três anos de idade e, até os 12, viveu com a mãe na casa
dos avós. Ainda enlutado pela perda, ele exalta a retidão de caráter do avô. “Nunca
tive um exemplo de homem tão reto. Às vezes áspero, mas pela rudimentariedade
da época em que viveu, mas muito justo e reto”, relembra. Já a avó é
considerada uma mulher “doce”. “Ela tinha facilidade em lidar com as pessoas da
família.”
Foto tirada 10 minutos antes da morte de Italvino |
A
religião adventista motivava o casal
a fazer boas ações. “Eles sempre buscavam ajudar as pessoas necessitadas, com
roupas. Se envolviam em projetos da igreja que frequentavam, e talvez por isso
eram tão bons”, relembra o neto.
Italvino
foi o primeiro a descobrir a doença, em agosto do ano passado. Desde então,
entre internações e altas, batalhava para permanecer ao lado da amada. Já neste
ano, Diva recebeu o diagnóstico de câncer. Foi submetida a uma cirurgia em
abril e deu início a um tratamento.
Na
última quarta (1º), já internada no hospital, a matriarca chamou a família para
uma reunião. “Ela sentiu que a hora estava chegando, pediu para ver parentes e
meu avô foi ao hospital. Depois da conversa que eles tiveram, tanto ela ficou
mais tranquila quanto ele, que lutava contra uma doença”, conta Max.
Italvino
retornaria ao hospital na manhã de sexta-feira (4), após passar mal. Ele morreu
por volta das 15h do mesmo dia. “Depois, minha tia falou no ouvido dela que meu
avô tinha partido em paz. Ela ficou mais tranquila”, contou.
Contrariados
pela perda de um casal tão amado, os familiares reconhecem que, no fundo, foi
melhor assim. “Eles não iam aguentar a dor de ficar um sem o outro”, cogita
Max, ainda emocionado com uma história tão rara de amor. “Nunca vi nada
parecido.”