quinta-feira, outubro 02, 2014

O perigo das ideologias esquerdistas

A ameaça da cultura esquerdista
Por que devemos pensar seriamente antes de apoiar as ideologias de esquerda? Em primeiro lugar, porque os ideólogos de esquerda entendem que a família bíblica, família natural, formada por pais e filhos, unidos pelo matrimônio em uma relação pública, duradoura e comprometida, é apenas expressão da família depreciativamente tida por eles como burguesa. Para Karl Marx, Friedrich Engels e Antonio Gramsci, os principais ideólogos de esquerda seguidos no Brasil, ao lado de Nietzsche, foi o capitalismo que originou esse tipo de família, que eles qualificam como família individual. A família individual para eles não é o arranjo de família natural, pois as relações familiares, antes da praga do capitalismo – é assim que eles consideram o sistema de livre mercado e o sistema liberal que valoriza as liberdades civis do indivíduo e das associações diversas de inspiração liberal – eram comunitárias.

Para eles, a mulher mantém a virgindade por imposição da sociedade, e a prostituição da mulher é fenômeno que só existe em razão do sistema capitalista. Além disso, a esposa é comparada, em sua relação com o marido, à escrava e ao senhor de escravos.

Com respeito às crianças, segundo esse modo de pensar socialista, todas elas deverão ser cuidadas e criadas pela sociedade comunista, e não pelos seus genitores, o que somente aconteceria quando se operasse a Revolução Social orquestrada pelos proletários do mundo, que aboliriam toda e qualquer propriedade privada, inclusive os filhos, os quais, para eles, são propriedade dos pais, e não galardão divino. Os proletários, as pessoas desprovidas de propriedade, é que oferecem o modelo verdadeiro de sociedade ideal, segundo a doutrina comunista, ou socialista. Nas relações comunitárias deles é que veríamos o modelo de família que se deve querer fazer neste mundo.

Se quiser conferir o que estou dizendo basta ler o Livro A origem da família, da propriedade privada e do Estado, de Friedrich Engels. Apenas uma citação:

A família individual moderna está baseada na escravidão doméstica, transparente ou dissimulada, da mulher, e a sociedade moderna é uma massa cujas moléculas são compostas exclusivamente por famílias individuais. Hoje em dia é o homem que, na maioria dos casos, tem de ser o suporte, o sustento da família, pelo menos nas classes possuidoras, e isso lhe dá uma posição de dominador que não precisa de nenhum privilégio legal específico. Na família, o homem é o burguês e a mulher representa o proletário. [...].

“Quando os meios de produção passarem a ser propriedade comum, a família individual deixará de ser a unidade econômica da sociedade. A economia doméstica converter-se-á em indústria social. O tratamento e a educação das crianças passarão a ser uma questão pública. A sociedade cuidará, com o mesmo empenho, de todos os filhos, sejam legítimos ou ilegítimos. Desaparecerá, desse modo, o temor das ‘consequências’ que é hoje o mais importante fator social, tanto do ponto de vista moral como do ponto de vista econômico, o que impede uma jovem solteira de se entregar livremente ao homem que ama. Não será isso suficiente para que apareçam gradualmente relações sexuais mais livres e também para que a opinião pública se torne menos rigorosa quanto à honra da virgindade e à desonra das mulheres? E, finalmente, não vimos que no mundo moderno, a prostituição e a monogamia, ainda que antagônicas, são inseparáveis, como polos de uma mesma ordem social? Pode a prostituição desaparecer sem arrastar consigo, na queda, a monogamia?” (Engels, A origem da família, da propriedade privada e do Estado. São Paulo: Escala Educacional, 2009, p. 69-74).

O segundo motivo pelo qual me oponho à ideologia esquerdista é que toda e qualquer propriedade privada é compreendida por eles como usurpação do direito de todos sobre a terra e sobre seus frutos. O valor do trabalho e da diligência para o progresso pessoal com vistas às melhores condições econômicas pessoais e da família, e para poder repartir com quem infortunadamente não possui condições para a sobrevivência, não existe na mentalidade socialista. As exortações de Paulo à igreja primitiva quanto ao trabalho e a repartição dos seus frutos, e a aceitação de que, neste mundo caído, Deus impôs o trabalho estafante ao homem como seu justo juízo, são repudiadas pelo pensamento marxista, que acredita que toda a propriedade deve ser social, ou comum, e que não há nenhum erro moral em que o pobre se aproprie da propriedade do rico, ou mesmo do menos pobre do que ele.

Assim, o proprietário de terras, o empresário bem-sucedido economicamente, a livre iniciativa econômica, assim como os Estados liberais, republicanos e democráticos, não passam de elementos de uma superestrutura social que deve ser extirpada, assim como a família individual, porque todos eles representam instituições que romperam com os elementos desejáveis de uma sociedade de homens, segundo a qual tudo era e deverá ser comunitário. Jean Jacques Rousseau é útil a eles nesse ponto. O ensaio do filósofo francês, que gostava de usar frases emblemáticas, causou impacto ao vencer o concurso promovido pela Academia de Dijon, em 1753, que propunha que se respondesse à questão A Origem da Desigualdade entre os Homens. Afirmou ele:

“O primeiro que tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas bastante simples para acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado aos semelhantes: ‘Livrai-vos de escutar este impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de ninguém!’” (Jean Jacques Rousseau, Discurso sobre a origem da desigualdade, 1754, p. 91. Edição Ridendo Castigat Mores. Fonte digital: www.jahr.org).

A religião é abominável para todos os ideólogos de esquerda, e esta é a terceira razão. Para Marx, a religião não passa de “ópio do povo”, expressão que, hoje, poderia ser enunciada por crack do povo, porque para ele a religião possuía a única finalidade de, nos sistemas liberais orientados pelas liberdades civis, entre as quais sempre ocupou lugar importante a liberdade de crença, impedir que o povo enxergasse as condições de opressão a que estava submetido pelas chamadas classes dominantes. Para Nietzsche, ideólogo alemão que passou a ser seguido religiosamente pelos pensadores de esquerda após as atrocidades terríveis praticadas por Stalin na antiga União Soviética, a religião cristã era um embuste, assim como a Bíblia, e não passava de um modo de colocar cabresto na população, sendo o cristão uma besta humana, e o cristianismo totalmente desprezível. Nietzsche tinha ódio aos judeus e aos cristãos, sendo fácil perceber porque Hitler, seu discípulo, fez o que fez contra os judeus e todos os que ele tinha como fracos. Apenas uma citação:

“O que é bom? – Tudo que aumenta, no homem, a sensação de poder, a vontade de poder, o próprio poder. O que é mau? Tudo que se origina da fraqueza. O que é felicidade? A sensação de que o poder aumenta – de que uma resistência foi superada. Não o contentamento, mas mais o poder; não a paz a qualquer custo, mas a guerra; não a virtude, mas a eficiência (virtude no sentido da Renascença, virtu, desvinculada de moralismos). Os fracos e os malogrados devem perecer: primeiro princípio de nossa caridade. E realmente devemos ajudá-los nisso. O que é mais nocivo que qualquer vício? – A compaixão posta em prática em nome dos malogrados e dos fracos – o cristianismo...” (Friedrich Wilhelm Nietzche. O Anticristo: ensaio de uma crítica ao cristianismo, p. 9).

A última razão porque abomino o pensamento de esquerda – ainda que apoie entusiasticamente iniciativas governamentais para dar dignidade aos miseráveis, tratando-os com justiça, e encorajando-os a trabalhar e a estudar com dedicação e esforço pessoal – é que todos os valores da família bíblica com respeito à disciplina para com os filhos são abomináveis para o pensamento socialista. Novamente Nietzsche é o pensador mais importante aqui. Ele se dizia um homem conduzido por pulsões em conflito, por instintos, e que essa forma de ser e de viver é a que deve caracterizar o homem em seu estado ideal. A pretensão de um certo conjunto de normas, as quais deverão ser reconhecidas e obedecidas porque elas possuem valor em si mesmas, é abominável para o filósofo alemão do final do século 19. Era o que ele pensava da filosofia dos gregos e dos alemães, do direito romano, e, especialmente, dos mandamentos de Deus.

Assim, pais que agem de modo a conduzi-los “na disciplina e admoestação do Senhor” não passam de pais autoritários que buscam impor aos filhos as suas próprias pulsões, retirando deles a liberdade de se expressar livremente conforme a vontade de vida, que não deve ser reprimida. Ao contrário da boa disciplina, o que esses governos conseguiram foi proibir e medicalizar a conduta de todo e qualquer pai que usa de rigor, se necessário, na educação de seus filhos. A chamada “lei da palmada” é o exemplo mais emblemático disso.[1] A partir de agora os pais estão proibidos de corrigir seus filhos fisicamente, mesmo que moderadamente, e a autoridade paterna e materna recebeu um golpe mortal, porque qualquer coisa poderá vir a ser compreendida, a depender do intérprete da lei, como um tratamento cruel ou degradante, vexaminoso ou humilhante.

É por esse motivo, dentre outros, que a escola se tornou um lugar de risco. Alunos, professores, gestores, servidores e pais que são orientados por esse tipo de filosofia, a qual é fundamentada também na psicologia freudiana, encontram-se em condição dramática, na qual não sabem mais como conviver de modo a que o processo de ensino-aprendizagem seja proveitoso, com resultados desejáveis. Algumas vozes, neste contexto, têm afirmado que educar também é impor limites. Mas se esquecem de que impor limites sem que se invoque a autoridade de Deus, e dos pais, obedecendo ao mandamento de Deus que ordena que se honre pai e mãe, é voz inócua e sem efeito. Quando se abandona a autoridade de Deus, nenhuma autoridade se pode afirmar como válida, senão a autoridade das leis do Estado.

Não se pense que o movimento de impregnação das ideologias de esquerda ocorre de modo aleatório. Ao contrário, o objetivo de promover a revolução social é planejado, e está sendo cuidadosamente posto em ação no país. A estratégia consiste em estimular e ampliar a participação de alguns segmentos da população no governo, por meio dos chamados conselhos de políticas públicas, envolvidos e estimulados pelo sentido da práxis [termo que se refere ao engajamento na luta revolucionária] da fé marxista, com vistas a que se realize pressão sobre as instituições de Estado liberais, de modo a que essas instituições, enfraquecidas e desprovidas de credibilidade social, venham a ruir.

O método é semelhante ao que o cupim faz em um móvel, um armário ou uma cadeira. Carcomendo a madeira, lentamente, apenas perceberão, os que vivem despreocupadamente, que o móvel se tornou imprestável, quando o estrago for irreparável. Se você duvida disso, leia, de modo crítico, o artigo “A democracia como valor universal”, de autoria de Carlos Nelson Coutinho, intelectual da Universidade Federal do Rio de Janeiro já falecido, que bebera das fontes do partido comunista italiano e de Antonio Gramsci, importante intelectual marxista que apregoava que os intelectuais deveriam ser orgânicos, ou seja, engajados na luta pela revolução social, mudando a cultura popular nos termos da ideologia marxista.  

E leia também, de modo crítico, dissertação de mestrado da USP de autoria de Lucca-Silveira,[2] que mostra que os intelectuais de esquerda que vieram a ocupar o poder político no Brasil após a abertura democrática já pensavam como instalar o socialismo no país, de modo estratégico, lento e gradual, sob os auspícios de Gramsci.

Veja o que escreveu Coutinho: “Nosso objetivo, no presente artigo, é esboçar sumariamente – muito mais levantando questões do que propondo respostas sistemáticas – os tópicos essenciais dessas duas ordens de questões. Em primeiro lugar, tentaremos indicar como o vínculo socialismo-democracia é parte integrante do patrimônio categorial do marxismo; e, em segundo, mostraremos como a renovação democrática do conjunto da vida nacional - enquanto elemento indispensável para a criação dos pressupostos do socialismo - não pode ser encarada apenas como objetivo tático imediato, mas aparece como o conteúdo estratégico da etapa atual da revolução brasileira. [...]

“Se o liberalismo afirma teoricamente o pluralismo e mistifica/oculta a hegemonia, se o totalitarismo absolutiza a dominação e reprime o pluralismo, a democracia de massas funda sua especificidade na articulação do pluralismo com a hegemonia, na luta pela unidade na diversidade dos sujeitos políticos coletivos autônomos. Por outro lado, não se deve esquecer - se quisermos pensar a longo prazo - que a apropriação social da política é, em última instancia, sinônimo de extinção do Estado, ou seja, de extinção dos aparelhos de dominação enquanto aparelhos apropriados individualmente e postos aparentemente ‘acima’ da sociedade. É nesse sentido que cabe entender a lúcida observação de Gramsci, segundo a qual a ‘sociedade regulada’ (sem classes) é aquela na qual o Estado será absorvido pelos organismos autogeridos da ‘sociedade civil’. Podemos concluir esse rápido esboço afirmando que a relação da democracia socialista com a democracia liberal é uma relação de superação dialética (Aufhebung): a primeira elimina, conserva e eleva a nível superior as conquistas da segunda. [...]

“Ampliar a organização e a articulação desses vários sujeitos políticos coletivos de base e, ao mesmo tempo, lutar por sua unificação (respeitadas sua autonomia e diversidade) num poderoso bloco democrático e popular não é apenas condição para extirpar definitivamente os elementos ditatoriais que deverão permanecer ao longo do período de transição que se anuncia: é também um passo decisivo no sentido de criar os pressupostos para o aprofundamento e generalização do processo de renovação democrática e, consequentemente, para o êxito do programa antimonopolista de democratização da economia no rumo do socialismo. Esse bloco unitário dos organismos da democracia de base já é hoje – e deverá se tornar cada vez mais – um poderoso instrumento de pressão e controle sobre a ação dos mecanismos de representação indireta, como os parlamentos (grifos nossos).”[3]

O eleitor consciente precisa considerar se vale a pena que, sob os escombros da família, do trabalho justo e íntegro, do direito às liberdades civis, especialmente a liberdade de crença, de consciência e de opinião, se aumente em cem ou duzentos reais a renda familiar de alguns milhões de famílias brasileiras. O cristão eleitor, especialmente a mulher, precisa saber se ter uma creche disponível para ela vale tanto quanto perder o marido ou os filhos para a droga ou para a prostituição. E todos aqueles que obtiveram, ao longo da vida, ou que querem obter, pelo suor do rosto, uma condição de vida boa e agradável a Deus, devem avaliar se vale a pena perder o que foi angariado com a ajuda de Deus por causa de uma suposta diminuição da distância social entre ricos e pobres.

Pense nisso na hora de votar. E que o Soberano Deus, que remove reis e estabelece reis, como sabia o profeta Daniel, coloque Sua mão sobre o Brasil.

(Édison Prado de Andrade é advogado, mestre e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo. Professor universitário e consultor governamental, é casado com Cláudia há vinte e cinco anos e pai de Júlia e Carolina)

1. A Lei 13010/14 altera a Lei 8069/90 (ECA), e inclui o artigo 18-A, que afirma que “a criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los”.

2. LUCCA-SILVEIRA, Marcos Paulo de. “Intelectuais e a questão da democracia no Brasil: um estudo a partir da revista Presença”. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2012.

3. COUTINHO, Carlos Nelson. “A Democracia como Valor Universal” in A democracia como valor universal e outros ensaios. 2ª ed. ampliada. Salamandra: Rio de Janeiro, 1984, p. 35, 44, 45.