Fidelidade à Palavra de Deus |
[O
portal G1 publicou uma matéria destacando a queda no número de guardadores do
sábado inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em comparação com a
edição de 2013. Mas o que me chamou a atenção mesmo foram as informações dadas
na sequência do texto. Confira:] Os candidatos sabatistas precisam chegar ao
local de provas antes das 13h (horário de Brasília), como todos os demais
estudantes inscritos. A diferença é que eles passam a tarde em uma sala sem
acesso a materiais de leitura, por motivos de segurança, e só começam a fazer a
prova após o pôr do sol. [...] Isso acontece porque os chamados “guardadores de
sábado” seguem à risca os ensinamentos da Bíblia no livro do Êxodo [não apenas
ali, evidentemente. Praticamente toda a Bíblia apresenta o sábado como mandamento divino]. O texto diz que, entre o pôr do sol da sexta-feira e o pôr do
sol do sábado, as únicas atividades que devem ser feitas são as ligadas
diretamente à adoração de Deus. Trabalho e outras tarefas para benefício
próprio, portanto, não são realizadas por adventistas, judeus e seguidores de
outras religiões que guardam o sábado.
O
recorde de sabatistas no Enem do ano passado chegou a inspirar a criação de um
abaixo-assinado pela internet, pedindo que as datas das provas do MEC fossem
mudadas para domingo e segunda-feira [os detentos, por exemplo, têm direito a
fazer o exame em dia diferente], garantindo assim que guardadores de sábado não
precisassem ficar confinados durante horas antes de poder fazer as primeiras
provas [enquanto os detentos têm essa “regalia”, os guardadores do sábado têm
que ficar “detidos”...]. Mais de 38 mil pessoas tinham assinado a petição on-line até esta quinta-feira
Mas
nem todos os sabatistas são favoráveis à mudança das datas. Para a adventista
do sétimo dia Ísola Anjos Saggioro de Almeida, de 26 anos, fazer o sacrifício
de guardar o sábado antes do Enem é uma prova de fé. “Depende muito da pessoa,
algumas podem se sentir um pouco cansadas. Mas justamente por ter que aguardar,
para nós é uma grande vitória, porque podemos dessa forma demonstrar a nossa fé
e a comunhão com Deus”, disse ela, que é formada em direito com uma bolsa do
Programa Universidade para Todos (Prouni), mas pretende agora fazer faculdade
de veterinária.
Ela
é contrária à proposta de mudar a aplicação do Enem para o domingo e a
segunda-feira seguinte por causa do efeito que isso vai ter nos demais
candidatos. “Isso acabaria prejudicando todo o Brasil, porque tem pessoas que
trabalham segunda-feira e não poderiam fazer a prova.”
Ísola
explica como é o confinamento no Enem: “A partir das 13h nós ficamos na sala de
aula. O que podemos fazer é levantar para ir ao banheiro com autorização. Não
pode ler nada, ter celular, conversar. É como se já estivéssemos fazendo a
prova. O mais cansativo mesmo é não poder ter contato um com o outro.”
No
ano passado, a jovem de Barueri, na Grande São Paulo, fez a prova em uma sala
com outros 40 sabatistas. Veterana no Enem, ela diz ter feito quase todas as
provas nas últimas oito edições, com poucas exceções. Ísola conseguiu três
vezes nota suficiente para garantir uma vaga no curso de veterinária em
universidades federais pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), mas ainda não
conseguiu deixar o emprego em um escritório de advocacia e mudar de Estado para
fazer o curso. Em São Paulo, segundo ela, não há vagas em cursos de veterinária
pelo Sisu. Neste ano, ela se inscreveu de novo, e espera ter um resultado
parecido para conseguir seguir o sonho de ser veterinária.
A
estudante de pedagogia Viviane Santos, de 28 anos, fez o Enem em 2013 e também
faria as provas novamente, mas acabou perdendo o prazo de inscrição. Ela está
no último ano da faculdade, mas agora deseja complementar sua formação com um
curso de graduação em assistência social, ou uma pós-graduação.
Atualmente,
Viviane é auxiliar de sala de aula em uma escola adventista em Registro (SP), e
tem o sonho de um dia vir a ser professora. “Também quero trabalhar em horas
vagas como assistente social, porque envolve crianças”, explicou a jovem, que
também é adventista e precisou suportar o confinamento no primeiro dia de
provas do Enem. “É muito cansativo para a gente”, disse.
A
jovem defende que o Enem mude suas datas e aplique provas apenas no domingo. “Na
verdade não estou favorecendo os adventistas, mas tem pessoas que trabalham no
sábado e não conseguem fazer a prova no sábado, eles também têm que ter o
direito de fazer”, explicou ela. [...]
Neste
ano, o governo também garante, pela primeira vez, que candidatos e candidatas
transexuais sejam tratados apenas pelo nome social, e não o nome civil ou de
registro. Neste ano, 95 candidatos fizeram essa solicitação e devem ter seu
nome social impresso nos cadernos de prova e folhas de respostas, além de ser
esse o nome usado pelos fiscais ao se dirigirem aos candidatos, segundo o Inep.
[...]