sexta-feira, outubro 17, 2014

O testemunho dos sabatistas no Enem

Fidelidade à Palavra de Deus
[O portal G1 publicou uma matéria destacando a queda no número de guardadores do sábado inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em comparação com a edição de 2013. Mas o que me chamou a atenção mesmo foram as informações dadas na sequência do texto. Confira:] Os candidatos sabatistas precisam chegar ao local de provas antes das 13h (horário de Brasília), como todos os demais estudantes inscritos. A diferença é que eles passam a tarde em uma sala sem acesso a materiais de leitura, por motivos de segurança, e só começam a fazer a prova após o pôr do sol. [...] Isso acontece porque os chamados “guardadores de sábado” seguem à risca os ensinamentos da Bíblia no livro do Êxodo [não apenas ali, evidentemente. Praticamente toda a Bíblia apresenta o sábado como mandamento divino]. O texto diz que, entre o pôr do sol da sexta-feira e o pôr do sol do sábado, as únicas atividades que devem ser feitas são as ligadas diretamente à adoração de Deus. Trabalho e outras tarefas para benefício próprio, portanto, não são realizadas por adventistas, judeus e seguidores de outras religiões que guardam o sábado.

O recorde de sabatistas no Enem do ano passado chegou a inspirar a criação de um abaixo-assinado pela internet, pedindo que as datas das provas do MEC fossem mudadas para domingo e segunda-feira [os detentos, por exemplo, têm direito a fazer o exame em dia diferente], garantindo assim que guardadores de sábado não precisassem ficar confinados durante horas antes de poder fazer as primeiras provas [enquanto os detentos têm essa “regalia”, os guardadores do sábado têm que ficar “detidos”...]. Mais de 38 mil pessoas tinham assinado a petição on-line até esta quinta-feira

Mas nem todos os sabatistas são favoráveis à mudança das datas. Para a adventista do sétimo dia Ísola Anjos Saggioro de Almeida, de 26 anos, fazer o sacrifício de guardar o sábado antes do Enem é uma prova de fé. “Depende muito da pessoa, algumas podem se sentir um pouco cansadas. Mas justamente por ter que aguardar, para nós é uma grande vitória, porque podemos dessa forma demonstrar a nossa fé e a comunhão com Deus”, disse ela, que é formada em direito com uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni), mas pretende agora fazer faculdade de veterinária.

Ela é contrária à proposta de mudar a aplicação do Enem para o domingo e a segunda-feira seguinte por causa do efeito que isso vai ter nos demais candidatos. “Isso acabaria prejudicando todo o Brasil, porque tem pessoas que trabalham segunda-feira e não poderiam fazer a prova.”

Ísola explica como é o confinamento no Enem: “A partir das 13h nós ficamos na sala de aula. O que podemos fazer é levantar para ir ao banheiro com autorização. Não pode ler nada, ter celular, conversar. É como se já estivéssemos fazendo a prova. O mais cansativo mesmo é não poder ter contato um com o outro.”

No ano passado, a jovem de Barueri, na Grande São Paulo, fez a prova em uma sala com outros 40 sabatistas. Veterana no Enem, ela diz ter feito quase todas as provas nas últimas oito edições, com poucas exceções. Ísola conseguiu três vezes nota suficiente para garantir uma vaga no curso de veterinária em universidades federais pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), mas ainda não conseguiu deixar o emprego em um escritório de advocacia e mudar de Estado para fazer o curso. Em São Paulo, segundo ela, não há vagas em cursos de veterinária pelo Sisu. Neste ano, ela se inscreveu de novo, e espera ter um resultado parecido para conseguir seguir o sonho de ser veterinária.

A estudante de pedagogia Viviane Santos, de 28 anos, fez o Enem em 2013 e também faria as provas novamente, mas acabou perdendo o prazo de inscrição. Ela está no último ano da faculdade, mas agora deseja complementar sua formação com um curso de graduação em assistência social, ou uma pós-graduação.

Atualmente, Viviane é auxiliar de sala de aula em uma escola adventista em Registro (SP), e tem o sonho de um dia vir a ser professora. “Também quero trabalhar em horas vagas como assistente social, porque envolve crianças”, explicou a jovem, que também é adventista e precisou suportar o confinamento no primeiro dia de provas do Enem. “É muito cansativo para a gente”, disse.

A jovem defende que o Enem mude suas datas e aplique provas apenas no domingo. “Na verdade não estou favorecendo os adventistas, mas tem pessoas que trabalham no sábado e não conseguem fazer a prova no sábado, eles também têm que ter o direito de fazer”, explicou ela. [...]

Neste ano, o governo também garante, pela primeira vez, que candidatos e candidatas transexuais sejam tratados apenas pelo nome social, e não o nome civil ou de registro. Neste ano, 95 candidatos fizeram essa solicitação e devem ter seu nome social impresso nos cadernos de prova e folhas de respostas, além de ser esse o nome usado pelos fiscais ao se dirigirem aos candidatos, segundo o Inep. [...]