terça-feira, outubro 07, 2014

Vegetarianos têm uma vida difícil no Uruguai

País mais carnívoro do mundo
Refeições gratuitas, reuniões mensais e programas de rádio são algumas das iniciativas às quais recorrem os vegetarianos e veganos do Uruguai para tentar sobreviver na população mais carnívora do mundo. Vários negócios de Monte­­vidéu tentam divulgar produtos isentos de carne no país em que se consome uma média de 101,2 quilos por habitante (no período de um ano) e que se situa no primeiro posto no ranking de países carnívoros, acima da vizinha Argentina. “No Uruguai não há uma gastronomia muito variada e há pouca oferta além do tradicional assado, das pizzas e das milanesas”, disse Hiram Miranda, um dos donos do La Papa, primeiro restaurante vegano de Montevidéu. O consumo de carne no Uruguai está ligado à tradição dos séculos 18 e 19, quando os gaúchos que habitavam a região viviam da pecuária e se alimentavam quase exclusivamente dos animais que criavam.

Hoje em dia, depois da soja, os produtos de carne são os mais exportados do país e geram uma receita líquida anual de mais de US$ 1,8 bilhão. Nos atos sociais, a carne também está muito presente e os churrascos, chamados parrilladas, são um elemento comum nas reuniões.

O interesse pelo vegetarianismo surgiu há alguns anos “por questões de saúde”, explica Fiorella Monetti, dona de um negócio de alimentação “a base de vegetais orgânicos, legumes, frutos secos e especiarias”, que considera mais saudáveis que os que compõem a dieta tradicional uruguaia.

María Noel Silvera, autora do blog sobre gastronomia vegana em Montevidéu (www.caramelosdelima.com), comentou que as ações que contribuem para aumentar a oferta de produtos sem carne ajudam a “romper o mito” de que esse tipo de dieta é “sem graça”.

A União de Vegetarianos do Uruguai (UVU) defende que os pratos vegetarianos sejam vistos como algo “acessível e saboroso”, e realizam reuniões mensais para divulgar receitas e trocar ideias. Os planos de nutrição oficiais e os pratos tradicionais do Uruguai, que sempre incluem carne, são uma espécie de muro contra o qual os vegetarianos confessam se chocar diariamente. Um exemplo de mobilização é um programa de rádio semanal sobre veganismo conduzido pelo presidente da UVU, Andrés Prieto.


Nota: Recentemente, fui a um cabeleireiro e, não me lembro exatamente por que, a conversa entre mim e ele enveredou para o vegetarianismo. Quando lhe disse que sou vegetariano, ele devolveu: “O problema é que os vegetarianos podem ficar doentes, pois têm falta de nutrientes.” Tive que respirar fundo e resistir à preguiça de responder àquela frase tão manjada. “Amigo, sou vegetariano há mais de 20 anos, e quase nunca fico doente. A carne não me fez falta, de jeito nenhum. E várias pesquisas científicas já deixaram claro que uma dieta vegetariana equilibrada promove saúde e longevidade.” Encurralado pelas evidências, o cabeleireiro então perguntou: “Mas o que comem os vegetarianos?” Outra pergunta recorrente. Com um sorriso, respondi: “Basicamente, tudo o que você come, menos os alimentos de origem animal.” Finalmente, veio a admissão dele: “Ah, mas acho que eu não consigo deixar a carne.” E eu arrematei: “É realmente uma questão de escolha. Sou catarinense, da Região Sul do Brasil, onde o povo adora um churrasco. Eu também gostava disso. Deixar a carne, no começo, não foi muito fácil. Mas, com o tempo, um pouco de força de vontade e com uma substituição correta dos alimentos, foi se tornando normal para mim deixar a carne fora da dieta. Há muito tempo que não sinto a menor falta.” Talvez no Uruguai seja mesmo pior, mas no Brasil os vegetarianos também passam alguma dificuldade, especialmente quando precisam viajar. Apesar das pesquisas e de tudo o que já se divulgou a respeito dos benefícios de uma dieta vegetariana, ainda há muita desinformação e, infelizmente, preconceito. [MB]