segunda-feira, novembro 10, 2014

Testemunho de um viciado em pornografia

Vício acessível e destrutivo
[Recebi por e-mail o testemunho abaixo, e, por motivos óbvios, vou preservar o anonimato do autor. – MB]

Meu primeiro contato com a pornografia foi aos 12 anos de idade. Eu costumava passar noites de sábado na casa de um amigo que tinha uma mãe bem liberal. Ele comprava gibis eróticos e conseguia vídeos pornô com um tio. No começo, eu não entendia bem o que aquilo significava, muito menos os sentimentos e as reações físicas que me provocava. Eu não sabia que sexo era assim (e que, na verdade, não é assim mesmo). Não foi até eu completar 16 anos que isso se tornou um verdadeiro problema, por dois motivos: primeiro, foi nessa idade que eu resolvi que deveria conhecer melhor a Deus. Adventista desde pequeno, eu não tinha certeza pessoal das coisas que ouvia a cada sábado. Então comecei a estudar a Bíblia, a Lição da Escola Sabatina e orar cada noite. Não demorou muito, comecei a experimentar a presença de Deus. Fui batizado uns seis meses depois do início dessa nova busca. Sentia-me outra pessoa. Mas não demorou muito para perceber que velhos hábitos não morrem facilmente...

O segundo motivo foi o acesso. Antes eu tinha que ir até a casa do meu amigo, mas agora apareciam as conexões rápidas de 512 mb. Tudo o que eu precisava era de um momento sozinho em casa.

A primeira vez depois do batismo doeu muito. Ajoelhei e chorei por muito tempo. Pensei que isso não iria voltar. Pensei que havia vencido. Orei a Deus para que tirasse isso de mim, mas a cada vez que eu caía menos força eu tinha para pedir a mesma coisa. Aquela convicção espiritual que a comunhão com Deus provinha, a força para testemunhar, para consolar as pessoas ao meu redor, e o brilho no meu rosto da presença de Deus foi diminuindo a cada dia. Cada vez que pecava, eu me sentia sujo, fraco e que não merecia mais uma chance do Senhor.

Apesar de tudo, comecei a buscar ajuda. Como não confiava em ninguém para contar sobre isso, comecei a ler. Durante um período de cinco anos, li vários livros sobre o tema, entre eles: Mensagens aos Jovens, de Ellen White, Como Conhecer a Deus em 5 Dias e As 95 Teses Sobre Justificação Pela Fé, de Morris Venden, A Batalha de Todo Homem e A Batalha de Todo Jovem, de Stephen Arterburn, Hooked, de Joe Mcilhaney, e alguns outros. Aprendi as técnicas contra a tentação: ter uma pessoa para quem contar, colocar filtros na internet, evitar os momentos específicos em que a tentação vem, praticar exercícios físicos, buscar a Deus todos os dias, etc. Nunca consegui ninguém para confiar meus segredos, mas o restante dos métodos eu coloquei em prática. Devo confessar: nenhum deles parecia funcionar. Mas o conhecimento sobre o assunto ia se acumulando, mesmo sem eu perceber.

Certa vez assisti a um congresso sobre a neurociência do sexo na faculdade adventista em que estudei. Nessa época, eu já tinha 26 anos de idade – dez anos depois do início da luta. Me faz pensar na mulher que teve hemorragia por 12 anos, até que Jesus a curasse. A palestra em si estava baseada em um livro que eu já tinha lido (Hooked, como já mencionei), mas no fim o palestrante norte-americano sugeriu dois livros: Clean, do doutor Doug Weiss (que ainda não li, dizem que é bom), e Redeeming Love, de Francice Rivers (um presente de Deus). Eu já estava desanimado de tentar, mas resolvi comprá-los mesmo assim.

Comprei o Redeeming Love pela internet num site dos EUA (em português se chama Amor de Redenção), pois não o encontrei em nenhuma loja local. Ele chegou às minhas mãos durante uma semana de oração em que o pregador insistia em que devemos aprender a ouvir a voz de Deus. Trata-se de um romance baseado na história do profeta Oseias. A Bíblia descreve muito brevemente como o profeta teve que tirar a esposa Gômer da prostituição várias vezes. Ficamos com raiva dela, sem conhecer realmente sua história. Mas a autora do livro consegue criar um cenário que, apesar de não ser real, descreve com tremenda sensibilidade como seria uma história parecida em nossos dias (nos Estados Unidos de 1850).

Não estou querendo fazer propaganda de nenhum livro ou autor, mas o fato é que desde que eu li Redeeming Love eu nunca mais consegui ver nenhum vídeo ou imagem de mulheres reais cujas vidas são destruídas pela indústria erótica. Nunca mais consegui ver uma atriz pornô “trabalhando”. Simplesmente não conseguia. Foi uma sensação maravilhosa, inexplicável. Não podia deixar de associar a vida dessas mulheres com Gômer, a prostituta da Bíblia, e “Angel”, a prostituta do livro. Não podia ser parte do sofrimento desses seres humanos, com histórias e sentimentos reais. Cumpriu-se em mim a promessa do Senhor: “E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (Jo 8:32). Eu estava finalmente livre da pornografia.

Mas, como um alcoólatra que reconhece sua fraqueza permanente, sei que minha luta não termina aqui. Mesmo porque, como muitos sabem, a pornografia não vem sozinha. Faz parte de um grupo que costumo chamar de “o pecado da sensualidade”. Ele inclui muitas formas: pornografia, masturbação, sexo fora do casamento, pensamentos impuros, cobiça, traição, etc., e cada uma delas, ainda que intimamente ligadas, deve ser vencida individualmente, todos os dias. Mas comparto o que a minha experiência me ensinou:

1. A vitória é possível! Depois de tantos anos, pensei que seria impossível deixar a pornografia, mesmo depois que me casasse. Mas eu estava errado. Pela misericórdia do Senhor, foi a primeira batalha que venci na guerra constante contra esse pecado.

2. A força para a vitória está literalmente fora de nós. Foi difícil entender isso, mas realmente é assim. “Nossa luta não é contra a carne...”, mas sim contra “principados e potestades”. Minha parte da luta era somente continuar buscando ao Senhor, sem perder a fé, e Ele me libertaria do meu pecado (amém!).

3. É Deus quem nos limpa. Quando pecamos, Satanás vem com um pensamento que diz mais ou menos assim: “Agora você precisa esperar um pouco, se limpar e se ajeitar, antes de ir à presença de Deus, porque assim Ele não vai aceitá-lo.” Já ouviu algo parecido com isso? É MENTIRA! Veja o comentário da autora de A Ciência do Bom Viver: “Muitos dos que têm sido vencidos pela tentação são humilhados por seus fracassos, e sentem ser vão buscar aproximar-se de Deus; mas esse pensamento é sugestão do inimigo. Quando pecarem, e sentem que não podem orar, dizei-lhes que é então o momento de orar. Talvez se encontrem envergonhados, e profundamente humilhados; ao confessarem, porém, os seus pecados, Aquele que é fiel e justo lhos perdoará, purificando-o de toda injustiça” (p. 67). A melhor coisa a fazer logo depois de pecar é cair de joelhos aos pés de Cristo e seguir adiante.

4. O segredo é não desistir. Uma vez ouvi um médico dizer que a chance de uma pessoa deixar de fumar é de 10%, seja qual for o método usado. Mas, dizia ele, as estatísticas mostram que há mais ex-fumantes do que fumantes no mundo. A razão? Múltiplas tentativas. O segredo para vencer não estava nos 10%, mas em tentar até conseguir. Acho que o mesmo conselho pode se aplicar à vida espiritual. Afinal de contas, cada dia que Deus nos dá de vida é uma nova chance para tentar de novo. Oro para que Deus nos ajude a vencer. Que Ele nos abençoe.

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