“Quando você
considera as diferenças morais entre um povo e outro, não pensa que a moral de
um dos dois é sempre melhor ou pior que a do outro? Será que as mudanças que se
constatam entre elas não foram mudanças para melhor? Caso a resposta seja
negativa, então está claro que nunca houve um progresso moral. O progresso não
significa apenas uma mudança, mas uma mudança para melhor. Se um conjunto de
ideias morais não fosse melhor do que outro, não haveria sentido em preferir a
moral civilizada à moral bárbara, ou a moral cristã à moral nazista. É ponto
pacífico que a moralidade de alguns povos é melhor que a de outros. Acreditamos
também que certas pessoas que tentaram mudar os conceitos morais de sua época
foram o que chamaríamos de Reformadores ou Pioneiros - pessoas que entenderam
melhor a moral do que seus contemporâneos. Pois muito bem. No momento em que
você diz que um conjunto de ideias morais é superior a outro, está, na verdade,
medindo-os ambos segundo um padrão e afirmando que um deles é mais conforme esse
padrão que o outro. O padrão que os mede, no entanto, difere de ambos. Você
está, na realidade, comparando as duas coisas com uma Moral Verdadeira e
admitindo que existe algo que se pode chamar de O Certo, independentemente do
que as pessoas pensam; e está admitindo que as ideias de alguns povos se
aproximaram mais desse Certo que as ideias de outros povos. Ou, em outras
palavras: se as suas noções morais são mais verdadeiras que as dos nazistas,
deve existir algo - uma Moral Verdadeira - que seja o objeto a que essa verdade
se refere. A razão pela qual sua concepção de Nova York pode ser mais
verdadeira ou mais falsa que a minha é que Nova York é um lugar real, cuja
existência independe do que eu ou você pensamos a seu respeito. Se, quando
mencionássemos Nova York, tudo o que pensássemos fosse ‘a cidade que existe na
minha cabeça’, como é que um de nós poderia estar mais próximo da verdade do
que o outro? Não haveria medida de verdade ou de falsidade. Do mesmo modo, se a
Regra da Boa Conduta significasse simplesmente ‘tudo que cada povo aprova’, não
haveria sentido em dizer que uma nação está mais correta do que a outra, nem
que o mundo se torna moralmente melhor ou pior.” (C. S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples) Leia também este texto interessante do blog Engenharia Filosófica.